Bem-Vindo Errante Viajante

Do Olimpo trago a almejada chama, da qual sugiro dançarmos embriagados a sua volta, e quando assim for, sujiro arriscar tocá-la, pois, felizes os que dela se queimarem.

domingo, 13 de maio de 2012

Cintilar de Devaneios - Digladiar sabores vitais legítimos


Ilustração Gladiator vs Lion por Miguel Coimbra.
Mais uma vez em uma briga.
Em uma das últimas boas brigas que terei.
Viva e morra neste dia.
Viva e morra neste dia!

- John Ottway, The Grey.
O instinto se perfaz em violência sanguinária, nem mais e nem menos, somente sobrevivência! Cala-te perante O Chamado do Confronto e se verá um derrotado, portanto, aceita tua condição de Predador Alfa e parta em busca daquilo que lhe conforta, mesmo que um dilúvio de sangue tenha que romper de seus punhos.

O elixir da vida se faz das batalhas aceitas;
Dos desafios enfrentados;
Das lições aprendidas; e,
Por quantas vezes se ergueu diante da presumida derrota derradeira.
 

Diante de seu inimigo perceba no olhar - se nele lhe for permitido mergulhar ainda que em uma fagulha de tempo imensurável -, e vislumbre a sua profundidade. Uma vez possível esse gesto, a alma de seu opositor se desdobrará perante ti de maneira expansiva revelando-lhe aquilo que lhe for necessário para confrontá-lo, inclusive os medos. Pois, quem se dispõe a um confronto teme, ainda que relutantemente.

O elixir da vida se degusta ao longo da batalha;
A superação dos desafios;
A disseminação da lição; e,
Por quantas vezes lançou ao chão pré-conceitos ditos inabaláveis.

Faça-se opulento de virtudes. Que em teu sangue flua enfurecidamente força de vontade, coragem e determinação para que aquilo que defrontá-lo compreenda que este a quem confronta não é somente mais um necessário desafio a ser vencido, mas um Impávido Colosso. Respeito e Temor devem andar lado a lado, e assim também sentidos, para que a presunção não seja o primeiro golpe a nocauteá-lo.

O elixir da vida é teu, toma-o.
Ao custo dos confrontos que lhe forem necessários,
Pois no fim, o paladar será determinado pela dignidade de teus feitos.
Amarga são as derrotas, mas qual verdadeiro campeão nunca experimentou delas para não mais saboreá-las?

quinta-feira, 10 de maio de 2012

RPG: Aventuras em Yrth - Fragmentos de Ytarria - Mortífera Loucura na Floresta Negra

Uma das mais aterradoras fracassadas incursões à Floresta Negra


No início da primavera do ano de 1987, o Rei Diofrates XII constituiu a Sétima Legião Megalana, alcunhada de Dragões Desbravadores. A frente desta companhia o suserano dispôs o segundo filho do Duque de Hildelban, Sir Colluns Deminarus, e a ele designou na qualidade de Cavaleiro Dragão a missão de desbravar um território inóspito e cercado de mistérios dentro das fronteiras do Império, a Floresta Negra.

Ilustração 01: Colluns Deminarus de Hildelban, Primeiro Cavaleiro Dragão a frente da Sétima Legião Megalana “Os Dragões Desbravadores”.



Apesar de todos os agourentos rumores que permeavam está região do Império, Colluns Deminarus não se deixou abalar pelos mesmos, pelo contrário, tomou a estes como insultos as suas virtudes de cavaleiro imperial, e também, como um desafio a altura do nome de sua família. Diante de seu suserano, dos arcebispos, de seu pai - o Duque Aphonse Rohad de Hildelban -, e demais membros da cúpula aristocrática de Mégalos, ele foi honrado com a liderança da Sétima Legião do Império e todos os fardos dignos a nobreza de seu título. Uma vez abençoada a missão pela Santa Igreja e havendo o consentimento do Rei Diofrates XII, a Legião partiu da capital do reino até a grande vila fortificada de Hyrnan.

Os Dragões Desbravadores eram uma das legiões de porte mediano, composta oficialmente por cerca de três mil componentes, dentre os quais se destacavam em sua hierarquia:

Coorte:
Primeiro Cavaleiro Dragão (General da Legião): Colluns Deminarus de Hildelban
Segundo Cavaleiro Dragão (Valete): Theran Itellus de Mégalos
Primeiro Conselheiro (Clérigo - Portador da Divina Luz): Bispo Olaff Hominus
Segundo Conselheiro (Mago – Escolástico dos Caminhos Imersos): Cilenox Amarantis de Azer

Cavaleiros: 20
Infantaria Pesada: 1.180
Infantaria Montada: 120
Mercenários: 500

Arcanos: 100
Assistentes diversos: 380
Escravos: 700

Animais Treinados:
Cavalos: 200
Cães: 300

Carroções: 20

Obs.: Os semi-humanos eram um contingente que representava cerca de trinta por cento da Legião. Muitos deles eram escravos, oriundos de prisões de guerra e criminosos. Quanto às raças, a grande maioria era Orcs, Meio Orcs, Goblins, Kobolds, Reptantes, e, alguns poucos, Meio Elfos e Anões.

Ilustração 02: Floresta Negra.

Ao cruzarem o Ducado de Yibyorak a Sétima Legião percorreu por cerca de seis dias o litoral que margeia a belíssima Baía da Fechadura, avistando ao término do último dia - e a frente -, a imponente Floresta Negra, algo que trouxe dentre a companhia um previsível tumultuo que tão logo foi contido. Contudo, Sir Colluns Deminarus e sua tropa deveriam marchar ainda por mais nove dias a oeste em direção ao baronato de Hyrnan. Ao longo deste percurso até a vila de muralhas fortificada, foram detectadas as fugas ou desaparecimentos de alguns escravos, a deserção de uns poucos mercenários, e, também, a morte de alguns animais. Houve conflitos motivados por ânimos exaltados e interesses supérfluos, algo que entre o grupo foi denominado como o mal do “Olhar do Abismo” – Algo causado pelo simples fato de fitar a Floresta. Logicamente, Colluns e seus Cavaleiros mais céticos tomaram aquilo como uma fantasia descabida, e puniram com rigor aqueles que afrontassem a ordem semeando tal infausto boato.

Ilustração 03: Hyrnan, a grande vila fortificada junto a Baía da Fechadura e a Floresta Negra em Mégalos.
Em Hyrnan – pouco depois do meio dia -, a Legião dos Dragões Desbravadores foi recebida com festividade pelos populares da grande vila portuária. O Barão Tunstall juntamente com uma comitiva de nobres locais recebeu pessoalmente o General e a sua coorte, servindo-lhes um formidável banquete, acompanhado de um vinho de excelente safra, assim como, a companhia de agradáveis cortesãs.

Anoite, durante as festividades o Barão Tunstall aproveitou a oportunidade para exaltar em discurso publicamente o seu contentamento para com a sábia iniciativa do Rei Diofrates XII, que ouviu as suas suplicas, e não tardou, em enviar ao seu desprotegido baronato uma honorável legião megalana, a fim de acrescer ao local a notoriedade que lhe é devida, bem como, as riquezas que a circundam, e que necessitam de mãos hábeis e talentosas para serem tão bem exploradas.

Ilustração 04: Barão Tunstall, Senhor de Hyrnan.
No dia seguinte, logo pela manhã, Sir Colluns Deminarus voltou a se reunir com o Barão Tunstall para dispor todos os principais pontos daquela campanha, e, sobretudo, a natureza do negócio. O Barão ficou horrorizado – no âmago de seu ser, profundamente ultrajado - com as condições impostas pelo imperador que eram de longe saudáveis para o seu baronato, pois, além de fornecer a devida estadia para a Legião, o mesmo somente gozaria de dez por cento da madeira que fosse extraída, uma vez que, a limpeza do terreno abriria caminho para o aumento de alguns feudos, ou mesmo a constituição de novos, e, consequentemente, o investimento naquilo que fosse melhor para a economia local. O Barão e os nobres locais discordavam plenamente dos termos, no entanto, tiveram de acolher aquele “estupro” de suas terras sem queixas.

Após dois dias de planejamento, os Dragões Desbravadores partiram para o campo fazendo um percurso que margeasse o Rio Umbral. No início, tudo correu dentro daquilo que havia sido previamente esquematizado por Sir Colluns e a sua coorte. Na linha de frente seguiram em ordem escravos e mercenários, e logo atrás, os soldados, ambos armados de serras e machados, pisoteando a mata, derrubando as árvores, enquanto os magos destruíam bosques inteiros com fogo mágico.

Ilustração 05: Noite na Floresta Negra.
O Rio Umbral - que poderia servir de meio para o descarregamento das toras de madeiras -, era em sua extensão, desnivelado e repleto de armadilhas naturais, ou seja, tornando inviável a possibilidade de uso das treze barcaças oriundas de Mégalos – e que estavam atracadas no porto a cerca de cinco dias -, portanto, o transporte daquilo que já havia sido derrubado demandou mais tempo e meios, havendo de serem construídas trilhas para a passagem dos carroções.

Em duas semanas aproximadamente, eles avançaram algo equivalente a dois dias de marcha floresta à dentro... E até aquele momento, a Legião não havia encontrado grandes empecilhos, salvo alguns ataques de matilhas de lobos, felinos, ursos e outros seres menores e peçonhentos. Inclusive quanto a estes últimos, destaca-se um mosquito que proliferou uma doença mortal, que os soldados denominaram de “Maldição das Toras”(*). Entretanto, como senão bastasse essa pestilência que açoito mais de quarenta por cento do grupo, algo mudou para pior...

Ilustração 06: Lobo Atroz, Predador Mortífero da Floresta Negra.
A Legião começou a se defrontar com determinados tipos de criaturas das quais pouquíssimos seres haviam visto. Primeiro surgiram os Lobos Atrozes, criaturas corpulentas, ferozes, irascíveis em suas caçadas, e indomáveis. Seus uivos enchiam a noite com um tom capaz de semear medo e pânico nas mentes mais atribuladas, cercando o acampamento, tornando impossível de conciliar o sono. Qualquer homem que se afastasse mesmo uns poucos passos das fogueiras das sentinelas era abocanhado abruptamente e arrastado para o meio das árvores, de onde se ouviam seus gritos agonizantes enquanto era dilacerado vivo. Durante o dia as feras imergiam na escuridão da mata, contudo conforme o terreno ia sendo limpo pelo grupo em sua missão de devastação da Floresta, iam-se encontrando os restos pavorosos das vitimas da noite anterior.

Os Dragões Desbravadores também tiveram de enfrentar bandos de Tardívagos, Moncos, Aranhas Gigantes, uma comunidade de Trolls (com cerca de doze membros), Dragonetes, Plantas Carnívoras e pelo menos três tribos de Hobgoblins. Contudo, os sobreviventes acreditam que outras criaturas ainda mais aterradoras foram encontradas, mas que não foram possíveis serem confirmadas em função destes encontros não terem havidos sobreviventes para relatar.

Com o discorrer dos dias, os suprimentos foram se limitando, e, a situação se tornou ainda mais insustentável quando a caça que antes era consideravelmente farta, agora havia se tornada escassa. Algo estava afugentando os animais para longe dos acampamentos dos soldados. A água do Rio Umbral também se tornou imprópria para consumo, pois exalava um odor forte, fétido e insuportável de morte, além da coloração turva; essa mesma água imunda parecia estar provocando a morte de muitas plantas que poderiam ser utilizadas na alimentação. Sir Colluns considerou sensato o envio de um destacamento composto por vinte homens de volta a vila portuária de Hyrnan, em busca de mais uma leva de no mínimo cem homens e provisões (a serem fornecidos de bom grado pelo Barão e os nobres locais), mas na manhã seguinte a partida, os corpos brutalmente dilacerados destes enviados foram encontrados próximos ao limite do acampamento. A coorte discutia se em função dessa trágica ocorrência deveriam mandar um destacamento maior? Mas, quão maior? Metade da Legião sobrevivente? Não se chegava a um consenso.

Em pouco mais de um mês, a Legião inicialmente composta por aproximadamente três mil componentes havia sido rechaçada para pouco mais de duzentos homens. A doença havia se alastrado no acampamento juntamente com a podridão dos corpos putrefatos que emanava pelo ar. A falta de sono, comida e água fizeram com que muitos padecessem diante da morte certa, exauridos de suas forças vitais. Os sobreviventes se mantinham assim alimentando-se de seus saudáveis companheiros cujos desaparecimentos eram atribuídos ás criaturas da Floresta. Não tardou para que a nefasta prática de canibalismo entre a Legião viesse à tona, colocando cada um dos homens em prontidão total.

O próprio Sir Colluns Deminarus havia se servido de um banquete juntamente com a sua coorte onde o prato principal eram partes de seu escudeiro. Eles bebericavam sangue em suas taças - outrora inundadas de vinho -, e debatiam insanamente medidas para confrontar os males que assolavam o acampamento. Ao término do dia, a coorte percorria o grupo para apontar aquele que poderia ser chacinado e banqueteado entre os seus, além de gratificar diariamente com uma quantia superior os sobreviventes.

Os homens se matavam para se alimentar e obter espólios, mesmo que a esperança de gastar tais recompensas jamais ultrapassasse o perímetro daquele amaldiçoado acampamento. O receio de conseguir dormir e não acordar mais era tamanho que muitos passavam dias acordados até que a extrema fadiga os levava ao inconsciente. Um homem crer que poderia se tornar o almoço do seu companheiro de barraca era algo tão abominável, que ele buscava refugio em um local mais a esmo, e, nesse vacilante momento a Floresta o atacava. Ouviam-se vozes, oriundas das árvores, que convidavam os soldados a deitarem-se à sua sombra refrescante. Aqueles que atendiam a esse mórbido chamado nunca mais eram vistos.

No raiar do dia um grupo de sobreviventes (com pouco mais de quarenta homens), e liderados por um Cavaleiro Dragão chamado Ethos Meneguelli de Mehan partiram levando consigo o General, amordaçado e desacordado. Um silêncio lúgubre desceu sobre a Floresta enquanto os soldados percorriam o seu caminho de volta, deixando para trás tudo aquilo que pudesse tornar essa passagem morosa e perigosa... Desprovidos de fortunas, armaduras, consciência e sanidade.

Ilustração 07: Ethos Meneguelli de Mehan, Cavaleiro Dragão da Sétima Legião Megalana “Os Dragões Desbravadores”.





Colluns Deminarus de Hildelban seria entregue por Ethos Meneguelli de Mehan nas mãos do Imperador para a sua condenação de morte visto o fracasso da missão e a dizimação quase total da Sétima Legião, contudo, isso não ocorreu, pois, antes que o ex-general pudesse ser devidamente tratado e enviado a capital, o mesmo não suportou a humilhação e clamou ao seu oficial subordinado que o matasse. Apesar de todos os infortúnios vividos em função da arrogância, orgulho e os caprichos do Primeiro Cavaleiro, Ethos não o fez. Porém, libertou Deminarus de suas amarras e o ordenou que retomasse a sua missão entregando-lhe um machado.

Ethos e os demais sobreviventes observaram ao longe uma legião de malignos espíritos e mortos-vivos se amontoarem em meio às árvores que ainda se mantinham de pé – encobertos por sombras e proferindo gritos esganiçados -, enquanto que Colluns Deminarus seguiu em passos firmes em direção a Floresta Negra. O Primeiro Cavaleiro Dragão nunca mais foi visto. Alguns dos soldados sobreviventes ficaram loucos ou permaneceram em silencio, estáticos, de olhar perdido no infinito.

Ethos Menegueli de Mehan após a sua recuperação na vila de Hyrnan, entregou a sua espada ao Barão Tunstall, juntamente com uma carta direcionada ao Rei Diofrates XII relatando o ocorrido a Sétima Legião Megalana, e, sobretudo, os perigos infaustos que habitavam a Floresta Negra. Antes de partir a esmo por caminhos desconhecidos, o ex-cavaleiro disse ao pé do ouvido do nobre:

“Enquanto estive lá, mais de um sussurrou o teu nome. Não tardará para que Eles venham reivindicar a tua vida, Barão.”

Somente cinco das treze barcaças enviadas pelo Império foram abastecidas com madeiras oriundas da floresta, contudo, destas que partiram de Hyrnan, apenas três chegaram ao seu destino - o porto de Azer na Ilha de Dyescastle -, pois, as outras duas afundaram em função de sobrepeso e de tempestades enfrentadas nas proximidades do litoral do Baronato de Min. Ainda sim, os construtores navais de Azer que recepcionaram a carga condenaram a madeira para os fins solicitados pelo Império (produção de mais navios de guerra), comunicando que aquela matéria-prima não serviria nem mesmo como lenha para fogueira, pois exalava um odor pútrido e insuportável quando queimada. O Barão Tunstall vivenciou em seu Baronato desastres pela utilização da madeira extraída da floresta tais como: embarcações ruins e que naufragaram; casas, torres e pontes que ruíram em pouco tempo; e, por fim, homens que morreram asfixiados em suas casas enquanto dormiam em noites frias tentando se aquecer próximos a uma convidativa e aconchegante lareira...

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(*) A Maldição das Toras era uma doença transmitida por um mosquito que se movia aos bandos ao longo do dia, e, durante a noite, agia solitariamente sobre suas vitimas. A doença costumava se manifestar cerca de dois dias após a picada do mosquito (que não era visível e dificilmente causava irritação), e tinha como sintomas: febre alta, calafrios, cansaço, dor de cabeça, dor muscular, náuseas, falta de apetite e vômitos durante três dias; contudo, passado esse período, o corpo da vitima apresentava sinais de melhoras, e após um breve período de bem-estar (até dois dias), os sintomas retornavam de forma mais agravados: os olhos estufavam encobertos em sangue pelos vasos sanguíneos rompidos, a pele em tom amarelado com manchas roxeadas, ocorrências de hemorragias, espasmos musculares, e, por fim, o último estágio consistia em um cansaço intenso seguido de um coma profundo até a morte. Após a picada pelo mosquito, o individuo leva cerca de uma semana para padecer.