Bem-Vindo Errante Viajante

Do Olimpo trago a almejada chama, da qual sugiro dançarmos embriagados a sua volta, e quando assim for, sujiro arriscar tocá-la, pois, felizes os que dela se queimarem.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

RPG: Aventuras em Yrth - Fragmentos: Explorando o funesto Reino Anão de Thargoddel

Dia ?: Sobre a regência de nenhuma das casas zodiacais.

O grupo percorreu uma série de longos corredores, compostos por alguns lances de escadas, antessalas e salas com portais, estando algumas destas portas de acesso, abertas, propositalmente para o encontro funesto de armadilhas mortais ou somente para se deparar com o possível “fim do caminho” em função de desmoronamentos, e, outras, trancadas, seladas por poderosos encantos mágicos capazes de repelir com estrema agressão quaisquer tentativas de abertura. Além do receio relacionado ao encontro com grupos de asquerosos e vis grimloks, outra grande dificuldade recorrente, era a poderosa magia que envolvia o lugar, algo que a arcana Marina Blackheart sentiu desde o primeiro instante em que pôs os pés nas ruina, além do sensitivo Delvin Mallory, com a sua inata e indescritível habilidade para prever riscos iminentes.

Ilustração por Autor Desconhecido.
Os asquerosos e famigerados Grimlocks
que habitam as ruinas anãs, e, que vez
ou outra essas criaturas saem de seu
covil para caçarem e atormentarem
a vida dos moradores de vilarejos
próximos a montanha.
A tenebrosa magia das ruinas transmitia uma série de sensações e efeitos para os membros do grupo, dentre eles: a inexatidão em relação ao tamanho dos ambientes, que em alguns momentos sugeriam ser grandes em demasia, outras nem tanto; assim como também, à própria passagem do tempo, pois, por diversas vezes, os mercenários de Arvey se sentiram demasiadamente exaustos, como se estivesse há dias explorando sem dormirem ou se alimentarem adequadamente; a luz oriunda dos lampiões que traziam parecia ter uma penetração muito dúbia sobre as trevas que lhes circundavam, além de lhes permitir, muitas das vezes, uma percepção diferenciada de um mesmo local averiguado, ora na completa escuridão, ora parcialmente iluminado; as sombras em si pareciam ter vida própria, moviam-se com tentáculos ávidos para agarrarem presas desafortunadas, ao mesmo tempo em que lembravam um grande pântano de óleo adesivo; e, no teto, brilhos que se assemelhavam a pedriscos de pedras preciosas quando iluminadas, e, olhos argutos, quando em total escuridão, o que aumentava ainda mais, a tensão de que os aventureiros estavam sob a observação de seus inimigos; o frio também era constante, onde por vezes, uma rajada de vento era capaz de romper o silêncio mórbido que assolava o ambiente, o que provavelmente, faziam dessas ruínas uma grande catacumba; e, por fim, alguns espectros ou ilusões fantasmagóricas que emergiam do mais profundo inconsciente para atemorizar como se fossem estes perigos reais.

Houve confrontos contra grimlocks. Combates corpo a corpo que resultaram em feridas significativas, contudo, ao nômade bárbaro Marduk, ao megalano espadachim Worean, ao anão combatente Dionísio, e até mesmo, ao halfling ladino Delvin munido com o seu arco curto, couberam lhes deter as forças inimigas que emergiam do arquitetônico abismo. A arcana Marina também teve um papel fundamental agindo com suporte aos seus aliados por meio do uso de suas magias, o que possibilitou muito feitos heroicos com desfechos rápidos e letais. E, não tardou aos mercenários perceberem que os bandos de criaturas eram suscetíveis a luz, além de acovardadas, sobretudo, a percepção da derrota do seu flanco aliado, porém, o mais importante, o de que eram seres escravizados por uma força superior.

No salão real, os Mercenários de Arvey e o Anão de Zarak se depararam com a mais extraordinária joia que já viram em toda a sua vida, ou que houvessem ouvido relatar, ainda que em trovas descabidas de bardos embriagados em espeluncas nos confins do mundo. Tratava-se de um rubi de proporções gigantescas, cujo seu início estava plantado no chão e seguia até o teto da gigantesca sala, tal como se fosse uma coluna... A sua majestosa beleza era tão admirável quanto o temor que ele causava nas almas de seus observadores.

Marina sabia que a joia emanava uma poderosa e malquista força mágica. Todos que ali estavam foram confrontados com o terror da ambição, por diversas vezes, sobretudo, o ambicioso halfling, que por vezes, passou-lhe pela cabeça a possibilidade de tentar fragmentar a pedra, e, levar o máximo que pudesse carregar. Porém, estes foram pensamentos que não foram adiante, principalmente, tendo o pequeno ladino a razão e o senso do perigo sempre prontos para lhe advertir das mais descabidas ações. No fim, todos sabiam que seja o que fosse aquela joia, ela representava algum tipo de ameaça para todos que ali um dia estiveram ou que estavam naquele momento.

Pela primeira vez alguns dos membros do grupo se depararam com a presença de milhares de espectros de anões em todo o salão, seres com feições deploráveis e com olhares voltados para as ações do grupo. Delvin, que manifestou um estranho poder de visão sobre a escuridão do lugar, também, conseguiu se livrar de uma espécie de maldição que parecia circundar essas figuras fantasmagóricas, algo como uma depressão profunda que parecia querer se apossar de quem os visse.

Eles inspecionaram todo o grande salão.

Ao fundo encontraram uma passagem secreta atrás da estátua de um ídolo - No canto opositor aonde havia os vestígios de um grande desmoronamento. -, mas na pequena sala a qual chegaram somente Worean e Marduk foram atacados por estranhos golens de ossos, aos demais lhes foi oportuno assistir um embate ilusório do qual os dois companheiros se feriram ao se lançarem constantemente contra amontoadas pilhas de ossos. A maldição do lugar estava afetando o discernimento dos dois combatentes quanto os perigos que eram reais ou não para preocupação dos demais aliados.

Ao saírem da secreta sala de ossos, eles seguiram para a outra extremidade do salão, e lá encontraram  o altar real e mais duas portas dispostas uma de cada lado do mesmo, e, enquanto averiguavam o lugar, Marina foi surpreendida com um ataque vindo de cima. Um terrível ataque que golpeou diretamente a sua mente, tal como uma forte dor de cabeça que a fez desequilibrar e por pouco não ir ao chão, senão fossem os companheiros próximos a ela. Todos ficaram em prontidão ante o perigo alertado pela arcana,

Marina conseguiu visualizar a estranha criatura que a golpeou, logo, tentou lançar em direção da mesma uma esfera de gelo com o auxilio de Worean, entretanto, o local era muito distante, e, antes mesmo que a esfera tocasse o teto, o projétil encantado pareceu se dissipar em uma espécie de domo de energia.

O espadachim que também havia percebido a presença dos espectros pelo reflexo no corpo do imenso rubi agora nada mais via, o que possivelmente aconteceu com o surgimento deste inimigo.

Todos estavam cansados das traiçoeiras armadilhas da ruína e os seus ardilosos inimigos, e requeriam uma resposta imediata, ainda que para alguns fosse o morrer em combate. Marduk, o feroz bárbaro, que momentos antes de pisar naquele salão estivera envolto pelos braços da própria morte ao confrontar um grupo de grimlocks, a não ser pelo fato miraculoso do despertar de um poder descomunal, manteve-se vivo, se viu compelido ao atacar a grande pedra – o possível fruto da manifestação de todos os males que lhes cercavam -, sobretudo, ao ter nela o vislumbre do reflexo da imagem de uma criatura que durante muito tempo sondou o seu caminho... Uma besta enfurecida que escarniava de suas desgraças, e o atormentava fazendo com que seguisse caminhos tortuosos rumo à desgraça de nunca merecer o Valhalla.

Os irmãos de arma do bárbaro o seguiram em passos apressados, uma vez que, ele caminhava acelerado e com um objetivo claro: golpear o rubi. Dionísio, que não se atentou ao que o gigante nômade pretendia, resolveu continuar a atividade de averiguar uma das passagens encontradas. Uma vez diante da monumental pedra, Marduk não pensou duas vezes afim de não ser mais ludibriado pelo poder da mesma, e, com o machado preparado deferiu contra a joia um poderoso golpe.

Antes que os companheiros de Marduk tentassem dissuadi-lo de sua atitude impulsiva e insensata, já era tarde demais. O golpe do bárbaro liberou uma poderosa explosão de luz que fez com que seus aliados ficassem temporariamente atordoados e/ou cegos. O gigante, por sua vez, havia desaparecido da presença dos demais, assim como a luminosidade emanada pela pedra havia se tornada fosca.

Delvin ficou com Marina para protegê-la, na esperança de que a arcana se recuperasse dos efeitos reativos da pedra em relação à ação do bárbaro. Worean recuperado do atordoamento se assustou com o desaparecimento súbito do companheiro, logo, não tardou em partir na busca do gigante em meio à tenebrosa escuridão que tomava todo o recinto.

Aos poucos a grande pedra foi recuperando a sua enigmática luminosidade.

Passado algum tempo Marina se recompõe, e ela e Delven perceberam o reflexo de Marduk Snowfiger dentro da joia, juntamente, com os demais espectros de anões, e ele se encontrava em uma situação semelhante a estes que estavam agora a sua volta: milhares de seres em estado aparentemente catatônicos e lamentáveis olhando por meio de um espelho.

Worean após fazer uma busca por quase todo o lugar, resolveu retornar ao encontro do ladino e da arcana, e lá ele tomou conhecimento de que Marduk estava dentro da pedra. Agindo com pouca sensatez ou nenhuma, o megalano tomado de um impulsivo desmedido tentou golpear a joia para destruí-la... E, mais uma vez, houve um grande estremecer ante a explosão de luz seguida de uma rajada de vento, e, consequentemente, o desaparecimento de espadachim. Nem Delvin e nem Marina puderam se opor a ação de Worean Hosborn, a não ser se protegerem contra os efeitos posteriores já experienciado. 

Hosborn e Snowfinger estavam agora dentro da pedra, de onde podiam observar com um mínimo de consciência tudo que se passava do lado de fora. E, ambos agora ansiavam, mais do que nunca, retomarem as suas vidas e a vida.

Marina e Delvin se ergueram do chão, parcialmente desolados, mas com o objetivo de encontrarem meios para libertar os companheiros aprisionados.

Dionísio chegou algum tempo depois para próximo da arcana e do astuto ladino sem compreender o que se passava, porém, por duas vezes havia ele sido submetido a uma cegueira temporária e um atordoamento que o levou ao chão por conta de duas explosões de luz... E, Thirdway bem sabia que algo de muito ruim aconteceria ao gigante bárbaro quando de longe o assistiu preparar o machado para atingir o monumento. Em seu instinto anão, ele pressentiu que um grande problema surgiria de um ato tão inconsequente.

Os três partiram em direção a uma das portas que o anão havia sondado próximo ao altar real, e, cujo somente com as habilidades ladinas do Halfling seria possível abrir, descobrir as armadinhas, caso houvesse, e, se existindo, desarma-las, para que pudessem seguir com o intento do grupo. Delvin conduziu muito bem o seu trabalho até o momento em que pressentiu algo muito ruim, e Marina percebeu que um mal com presença mágica os espreitavam bem próximo dali.

Ilustração por Dave Melvin.
O bestial e monstruoso pesadelo que sondava
os aventureiros enquanto vasculhavam o
salão real, que atacou mentalmente a
Marina, e posteriormente, tentou atacar a
Delvin, porém, a criatura teve os seus
traiçoeiros planos interrompidos pelas
forças do anão e da arcana.
A arcana viu a monstruosa criatura de aspecto horrendo disposta há alguns metros acima da cabeça de Delvin, e, isto foi o tempo suficiente para alertar aos dois, onde no momento, apenas concentravam-se no êxito da tarefa, principalmente, o ladino, tendo em vista que, uma de suas últimas falhas em abrir portas por um triz, não fez com que o mesmo se despedisse do mundo dos vivos sem méritos.

O anão guerreiro, que já trazia em punhos a sua arma e a atenção para a surpresa de um ataque, ao ouvir a arcana alerta-lo sobre o inimigo, reuniu forças para se antecipar a ofensiva do inimigo surpreendendo a besta com um salto e o golpeando de forma fulminante, e suficientemente, capaz de atordoa-la, o que conferiu a ela espaço para que outros golpes igualmente tão destruidores fossem aplicados. Contudo, ainda assim, a monstruosidade conseguiu se evadir em tempo para bem distante de onde estava Dionísio, que viu a mesma tomar distancia espalhando sangue pelo trajeto percorrido até os confins opostos do salão.

Delvin conseguiu abrir a porta, e, prontamente, tomou a frente para averiguar a existência de quaisquer outros mecanismos surpresas, o que não encontrou ao longo de uma escadaria que dava acesso a um cômodo. Marina e Dionísio seguiram o pequenino, certificando-se de que não seriam acompanhados pela criatura, cujo tamanho não lhe permitiria fazer o mesmo trajeto, assim como qualquer outra. E ao chegarem a tal sala ao término das escadas, eles se deparam com um suntuoso quarto feminino, um local intocado, embora, estivesse parcialmente empoeirado. Eles haviam chegado aos aposentos da rainha anã.

No aposento real, Delvin ficou ambiciosamente maravilhado, pois, havia encontrado alguns tesouros – o que já almejava há bastante tempo, por sinal -, desde alguns utensílios até belas roupas cravejados com joias preciosas. Todavia, o que lhe chamou muito a atenção e pegou para si foi uma espada curta, que trazia ao longo de sua lâmina de brilho diferenciada algumas runas anãs. Ele, assim como Dionísio, aproveitou para encher os bolsos com alguns itens menores, joias e dobrões de ouro.

Marina estava demasiadamente exaurida de suas forças e precisava urgentemente descansar. A arcana ajudou ao anão no combate contra a besta de corpo disforme, que mais se assemelhava a um grande cérebro com membros inferiores ao de um grande felino – um terror vivo, do qual ela jamais havia ouvido ou lido a respeito, alguma coisa inimaginável -, e, esse esforço foi suficiente para lhe deixar muito próxima de um desmaio por exaustão. Enfim, no cômodo real, ela tentou assistir e compartilhar d a alegria dos companheiros em terem encontrado valorosidades, porém, ao sentar-se na confortável cama, ela instintivamente deitou-se para um breve descanso, e, desmaio em sono profundo.

Ilustração por Autor Desconhecido.
Em um breve sono, Marina teve um encontro
elucidativo com a rainha anã Lanths Morthrinn
de Thargoddel, que lhe informou da maldição
existente em seu reino e o risco que a arcana
e os seus companheiros corriam.
O sono de Marina a conduziu para um contato com o espectro da rainha, e, sem jamais tê-la visto, a arcana sabia que era ela, Lanths Morthrinn de Thargoddel. A majestade anã lhe alertou dos riscos que ela e seus companheiros corriam, e que um grande mal assolava o seu reinado em forma de uma maldição sobre tudo, inclusive, das riquezas. Algo profundamente revelador para Blackheart, e que a possibilitou despertar sem demais demora.

Antes de Marina acordar, Delvin e Dionísio ouviram o inconfundível ranger da grande porta de acesso ao salão se abrir, e, em seguida, fechar-se, acompanhado da sonoridade com eco de alguns passos muito pesados e muitos outros menores a percorreram o vasto espaço. Desconfiados do que poderia ser aquilo, o halfling desceu para apurar furtivamente, e, o ladino se surpreendeu com a breve visão de vários grimlocks, outras três criaturas semelhantes à última que eles haviam confrontado, e, outro ser humanoide de proporções gigantescas, mas, pouco visível. Sem demoras, o halfling voltou para alertar aos demais, principalmente, a amiga que ainda conseguia repousar.

Marina acordou parcialmente assustada para alertar a todos que não deveriam tocar em nada relacionado aos tesouros deste lugar, pois, estavam comprometidos com uma terrível maldição. Isso foi extremamente desagradável – o desapego do tesouro recentemente conquistado com tantos desafios superados e baixas entre os aliados -, mas nada tão pior quanto o terror que o Delvin havia espreitado lá atrás, no grande salão.

Uma voz forte e muito antiga se manifestou com autoridade sobre o lugar, ela ecoava como se fosse a mescla de muitas outras tão igualmente potentes e oriundas de um pesadelo sem precedentes. Ela exigia a presença dos invasores diante dela, e o mais breve possível ou sentiriam o peso mortal de sua desobediência.

Os três ficaram parcialmente assustados, contudo, sabiam que deveriam agir logo. Delvin conseguiu achar uma passagem secreta do aposento da rainha para o aposento do rei, onde este último refletia um cenário bem diferente do anterior, ele estava totalmente depredado com móveis destruídos e roupas laceradas, ambos espelhados pelo chão.

A impaciência da criatura de voz sem igual logo se manifestou por meio de um poderoso golpe que rompeu a parede do grande salão até o quarto real, e isto foi algo tão surpreendente e repentino, acertando em cheio Dionísio, que foi arremessado contra a parede.

Sem mais delongas e com o receio de que algo pior lhes ocorresse sem ao menos terem tentado dialogar com a grande besta, os três se dirigiram ao encontro do nebuloso ser.

De dentro da Prisão Espectral ou o Grande Rubi, Marduk e Worean assistiram com espectadores mórbidos o que se passava no salão real, no entanto, com o mínimo de consciência, com as suas capacidades físicas limitadas aos gestos mais simplórios possíveis, e com a sensação de que as suas forças vitais estavam esvaindo à medida que o tempo se passava naquele confinamento.

Ilustração por Autor Desconhecido.
Yondder, O Senhor da Montanha, um titânico
anão, que designou uma missão de vida
ou morte para os remanescentes invasores
de seu domínio, que era encontrar o
Tesouro dos Thargoddas, caso almejassem
sair das montanhas com vida.
Ele se apresentou como Yondder, O Senhor da Montanha. A sua fisionomia lembrava um anão, entretanto, com proporções titânicas com pouco mais de oito metros de altura; trajava uma pesada e imponente armadura de combate; a sua pele parecia ser uma liga de aço que reluzia feito cobre; em suas órbitas havia dois grandes rubis de cores vermelhas, incandescentes e que transmitiam um pavor inominável. Ele se portava de forma megalomaníaca, impaciente, e, despótica, o que era perceptível pela submissão das demais criaturas que o seguiam, pois, a maioria delas, em especial os bestiais grimlocks, eram coniventes com a própria morte pela vontade à revelia deste ser, que vez ou outra, apanhava um deles em meio ao grupo para devorar por inteiro ou arremessar contra o grandioso rubi. E, ele também detinha uma espada semelhante a qual Delvin havia encontrado nas dependências da rainha e se apossado.

Yondder manifestou que a vida dos invasores de seu domínio somente seria poupada se conseguisse encontrar o tesouro dos Thargoddas, e, para tanto, lhes concebeu um tempo em sua curtíssima paciência para que o fizessem, algo que somente foi possível mediante a habilidade de dissuadir de Marina e Delvin. Uma vez concebida a tarefa, o grande ser aparentemente adormeceu diante deles tornando-se uma espécie de monstruoso ídolo em aço, cujas bestas se amontoavam próximo a ele para zela-lo.

Delvin conseguiu se aproximar da outra espada real que havia sido arremessada ao chão por Yondder. Porém, antes disso, além do Senhor das Montanhas, havia as três outras criaturas que espreitavam as suas atitudes, levitaram a espada e o acusaram de “mentiroso” com a intensão de assassina-lo antes mesmo de iniciar a tarefa conferida pelo mestre. Essas criaturas eram seres vis, inteligentes, provavelmente, bem mais do que o próprio titã, e que dificilmente seriam preteridas.

O tempo transcorrido na discursão entre o halfling e as criaturas foi suficiente para novamente despertar Yondder de seu repouso, no entanto, para provar aos invasores do que o tempo deles era escasso, o Senhor das Montanhas apanhou Dionísio com uma das mãos e o arremessou contra o Grande Rubi. Marina não iria assistir a mais uma desastrosa perda de um companheiro de grupo de maneira estática, sendo assim, usou os seus poderes para deter o fatal acidente com o anão. O monstruoso gigante em aço antes de retornar ao seu repouso informou que a sua paciência estava exaurida e que um próximo despertar lhes seria suficiente para ceifar as suas vidas, caso, o tesouro não fosse a ele apresentado. 

Tal momento de infortúnio vivido pelo anão foi suficiente para que houvesse uma distração entre das criaturas, e assim, o pequeno ladino se apoderasse da espada real.

Worean Hosborn, o espadachim megalano sentiu todas as suas energias vitais se exaurirem e o seu corpo se transformar em um espectro por completo.

Sem perder mais tempo, os aventureiros deixaram as dependências do salão real, e, correram apressadamente em direção aos portais que detinham os encantamentos de tranca, pois, eles estavam crédulos de que as duas espadas eram conjuntas à chave de acesso para tudo que havia por de trás delas, em função de suas características mágicas que se assemelhavam aos das portas, conforme explanado pela jovem arcana. Ainda que estivessem preocupados com os portais encantados, eles também estavam cautelosos quanto a estarem sendo seguidos, principalmente, pelas bestas em forma cérebro. E assim, Delvin, Marina e Dionísio foram ao encontro de cada uma das três portas avistadas no sombrio percurso pelas ruínas.

Na primeira porta, disposta em uma antessala após a travessia do corredor demolido pela armadilha que quase matou o halfling, um portal que levava diretamente ao sopé da montanha, o que soou bastante reconfortante para o grupo.

A segunda e a terceira porta, ambas estavam em uma antessala, após um extenso corredor onde eles haviam travado um grande confronto com um grupo de grimlocks.

A segunda porta, a esquerda deles, possibilitou aos aventureiros uma visão esplendorosa de um acervo de tamanho desmedido em tesouros diversos compostos desde incontáveis pedras preciosas, sobretudo, rubis, e, outra variedade indefinida de esmeraldas e diamantes, também havia muitas peças de ouro e prata, assim como, armas, armaduras, e utensílios diversos de beleza extraordinária. Para Delvin aquilo era mais do que suficiente, algo como “entrar em uma porta e pegar o mais essencial raro e valioso, e sair pela outra”, embora isso, fosse algo que parcialmente o deixaria feliz, ainda que sobreviesse.

A terceira porta, que estava à frente deles, era uma estranha passagem que parecia se remeter ao passado do reinado anão, de onde eles conseguiam observar parte do cotidiano daqueles pequenos e robustos seres. Essa, de fato, era uma das passagens mais paradoxais, principalmente, para Delvin, o ambicioso ladino. No entanto, essa era a passagem que Marina compreendia como a mais sensata a seguirem, pois, ela parecia lhes permitir algo muito além do simples fato de se verem livres daquele lugar, seja pela rápida fuga, ou mesmo, por meio da entrega do tesouro anão ao temível Yondder, esta sensação parecia lhe vir em sinergia ao da rainha anã.

Delvin, o astuto ladino, e Dionísio, o guia guerreiro, foram convidados e persuadidos emotivamente pela decisão heroica de Marina Blackheart, a sensível arcana, a aceitarem o fardo de descobrirem os mistérios da terceira porta, pois, algo no cerne de sua alma, dizia-lhe que ali estava a chave para a dissolução da maldição que imperava sobreo o Reino Anão de Thargoddel.

Ao adentrarem a passagem do terceiro portal, eles automaticamente se viram os cinco transformados em anões: Marina, Delvin, Dionísio, Marduk e Worean.



Essa saga continua... Em eras passadas!!!

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Cintilar de Devaneios: Uma pequena fábula sobre o orgulho..

Primeiramente, gostaria de destacar que esse texto não é totalmente de minha autoria, ele foi um achado nos percursos da rede, porém, o mesmo me cativou tanto que eu senti a obrigação de fazer uma reedição com os meus pontos de vistas em relação a alguns aspectos da obra, sobretudo, para dispor ao leitor mais informações a respeito do espaço, dos sentimentos e dos personagens que aqui figuram.

Ilustração de Fernanda Suarez.


Era uma vez...
Sobre uma das mais traiçoeiras moléstias da alma.

Certo dia, um casal ao chegar do trabalho, encontrou algumas pessoas dentro de sua residência confortavelmente acomodadas em sua sala de estar. Imediatamente, eles julgaram se tratarem de ladrões os tais invasores cujo até aquele momento desconheciam as suas fisionomias – embora, algo na presença deles sugerisse algum tipo de estranha familiaridade -, Esposo e Esposa ficaram assustados, contudo, um destes que ali estava de pé, por sinal, um homem muito forte e saudável, com o corpo extremamente delineado em curvas musculares bastante esbeltas, que assim lhes disse:

- Calma, Meus Amados. Por favor, tentem ficar tranquilos e se assentem neste sofá, pois, nós somos velhos conhecidos de vocês e estamos sempre por aqui, ou ali, por vezes, em toda parte do mundo. – Assim o homem forte disse com voz afável e rosto sereno gesticulando calmamente para que os donos da casa se mantivessem sossegados e se acomodassem para ouvi-los com a devida atenção.

- Quem são vocês?! Por favor, o que querem de nós?! Nada temos... – Perguntou a mulher aflita, com voz tremula e estarrecida com a situação. E por medo, ela juntamente com o marido, assentou-se na poltrona indicada que permitia aos dois a ampla visão de todos que ali estavam no cômodo da casa.

- Pois bem, Eu sou a Preguiça. – Respondeu o homem másculo que lhes recepcionou, e que agora também gesticulava para que a mulher se acalmasse. – Nós estamos aqui para que vocês façam uma escolha, e, provavelmente, uma das mais importantes da vida de vocês. – Ele os fitou com seriedade e prosseguiu com a sua voz agora um pouco mais entonada. – Vocês precisam escolher dentre nós, aquele que deverá definitivamente deixar esse espaço. – Ele olhou agora com mais firmeza para o casal, porém, sem alterar o tom de sua voz.

- O quê?! Mas que conversa é essa?! Como pode ser você a Preguiça ou o Senhor Preguiça?! – A mulher olhou para o homem a sua frente incrédula das palavras proferidas por este gigante robusto – Logo você homem, que de todos que aqui estão, é aquele que possui um corpo escultural, de atleta, e que provavelmente, vive malhando e praticando esportes?! Não pode ser... – indagou a mulher absorta com aquela declaração que seguia em contradição a todos os seus pré-conceitos a respeito de tal personificação dessa moléstia.

- A Preguiça é forte como um touro e pesa toneladas nos ombros dos preguiçosos. E, com ela ninguém pode chegar a ser um vencedor. – O homem forte assim respondeu ao casal, fitando-os com os olhos vívidos e a voz continuamente firme e empostada.

Uma mulher aparentando ser bastante idosa, curvada pela avançada idade, com a pele muito enrugada, a voz debilitada, e que mais se assemelhava a figura caricata de uma famigerada bruxa de contos infantis, disse lhes:

- Eu, meus filhos sou a Luxúria. – Assim, com a voz débil e rouca aquela idosa de idade muitíssimo avançada se manifestou.

- Não... Não é possível! Isso é loucura! – Disse o homem, inclinando parcialmente o corpo do sofá, e nitidamente atordoado com tal manifestação. – Você não pode atrair ninguém com essa feiura.

- Não há feiura para a Luxúria, Meus Queridos. – A senhora deu passos à frente levando à mão a boca para encobrir uma ligeira tosse - Sou velha porque existo há muito tempo entre os homens. Sou capaz de destruir famílias inteiras, perverter crianças e trazer doenças para todos até a morte.

Nesse momento, ela voltou os olhos para o marido e esse olhar foi suficiente para fazer com que ele se voltasse a recostar na poltrona ao lado de sua esposa, enquanto ela terminava a sua declaração malquista.

- Portanto, não me subestime homenzinho, pois, sou astuta e posso me disfarçar no mais belo ser. – Assim sentenciou a mulher que em um breve instante a voz já não lhe era a habitual, porém, a de uma jovem e encantadora mulher.

Um homem de odor insuportável, vestindo trajes maltrapilhos e em farrapos, que mais parecia um mendigo, aproximou-se da mulher chamada Luxúria, pegou-a pela mão a conduzindo até uma cadeira próxima, e, cuidadosamente, ao assenta-la, voltou-se para o casal e disse-lhes:

- Então, Eu sou a Cobiça, Meus Caros. – Afirmou o homem moribundo, coçando a cabeça com os cabelos desgrenhados, porém, com um olhar penetrante. - Por mim muitos já mataram. Por mim muitos já abandonaram as suas famílias e a sua pátria. Sou tão antigo quanto a Luxúria, todavia eu não dependo dela para existir.

- E eu... Bem, eu sou a Gula, Amados. – Assim disse uma lindíssima mulher com um corpo escultural, cabelos de mechas magníficas, olhar encantador, cintura finíssima e perfumada o suficiente se fazer lembrada e para esquecer com qualquer resquício na memória de mau cheiro.

A bela mulher chamada Gula se colocou bem ao lado da Cobiça. Os seus contornos eram indescritivelmente perfeitos, e tudo no corpo dela tinha harmonia de forma e movimentos, mais uma vez, uma espécie de verdade que contradizia todos os ingênuos pensamentos do casal a despeito dessa mácula.

- Sempre imaginei que a gula seria gorda. – Disse a mulher passada diante daquela personificação tão contraditória aos seus preceitos.

- Vocês e seus arquétipos tão menosprezíveis diante de toda a nossa grandeza. Isso é o que vocês pensam, e somente! – Respondeu a bela mulher em tom desdenhoso enquanto caminhava pela sala como se desfilasse por uma passarela. – Sou muitíssimo bela e atraente, porque se assim não fosse seria muito fácil livrarem-se de mim! Minha natureza é delicada, normalmente sou discreta, quem tem a mim não se apercebe, mostro-me sempre disposta a ajudar na busca da Luxúria.

A jovem e encantadora Gula se achegou até as costas da cadeira da Luxúria e pôs se massagear os ombros curvos da velha senhora que mais parecia definhar em um último sopro de vida. As duas mulheres alargaram um sorriso para o casal, crédulas de que a visita deles estava de fato trazendo naquele dia mais do que uma grande escolha, mas a certeza de um valoroso aprendizado.

Sentado em uma cadeira disposta em um canto mais distante na sala, e, cuja luminosidade não passava de uma penumbra, um senhor também muito idoso, no entanto, com o semblante bastante sereno, com voz doce e movimentos suaves, disse lhes, enquanto o seu olhar flertava algumas marcas nos vidros da janela:

- Eu sou a Ira. Alguns me conhecem como cólera. – O velho homem voltou o rosto afável transparecendo uma idade semelhante a da Luxúria, entretanto, com muito mais vida e conservação. - Tenho muitos milênios também. Não sou homem nem mulher, assim como meus companheiros que estão aqui.

- Ira?! O senhor que mais parece com um dos nossos avós, ou que todos gostariam de tê-lo sempre por perto. – Franziu confusa a dona da casa. – Não é possível!

- Sim, sim. E a grande maioria me tem! – Respondeu o vovô com um sorriso. – Matam com crueldade, provocam brigas horríveis e destroem cidades quando me aproximo. Sou capaz de eliminar qualquer sentimento diferente de mim, posso estar em qualquer lugar e penetrar nas mais protegidas casas. Mostro-me calmo e sereno para mostrar-lhes que a Ira pode estar no aparentemente manso. – Sorriu com soberba o idoso para o casal, enquanto acendia um cachimbo que trazia em uma das mãos, para em seguida continuar a sua conversa. - Posso também ficar contido no intimo das pessoas sem me manifestar, provocando depressões profundas, úlceras, cânceres e as mais temíveis doenças. E, desta última forma, já levei para os braços da morte muitas pessoas, tão dóceis como lebres, que preferiram agonizar em dor até o fim de suas vidas, mas sem exaltar um único urro de dor, nem mesmo para avisar aos seus próximos. 

Uma jovem que se aproximou do senhor chamado Ira para olhar a janela, e, certificar-se de que ninguém os observava, acresceu logo em seguida a sua verdade aquela conversa da noite de rompimento de paradigmas:

- Queridos, eu sou a Inveja. Faço parte da historia do homem desde sua criação. – Disse a mulher que ostentava uma coroa de ouro cravada de diamantes, usava braceletes de brilhantes e roupa de fino pano, assemelhando-se a uma princesa rica e poderosa.

 - Como assim “inveja”?! Se você aparenta pelos seus trajes e compostura, dentre todos que aqui estão nesta sala, riqueza e beleza, o que muito convém crer que você parece ter tudo o que deseja?! – Disse a esposa agora se colocando de pé diante de todas aquelas apresentações e personificações tão mirabolantes.

- Há os que são ricos, os que são poderosos, os que são famosos e os que não são nada disso, contudo, eu estou entre todos. A inveja surge pelo que não se tem e o que não se tem é a felicidade. Felicidade depende de amor, e isso é o que mais carece a humanidade... Onde eu estou está também à tristeza. – A Inveja se pôs a olhar no fundo da alma da mulher de forma que lhe fez gelar a espinha ao ter lampejos de memórias de muitas de suas frustrações vividos com tal sentimento. 

Enquanto os invasores se explicavam, alguém dentre eles, demonstrava estar muito distante e alheio àquela conversa. Tratava-se um pequeno garoto, que aparentava ter entre cinco e seis anos de idade, não mais que isso, e, ele brincava pela casa, correndo, dando gargalhadas e saltitando. Sorridente e de aparência inocente, característica das crianças mais desinibidas, com sua face de delicados traços mostravam a plenitude da jovialidade, olhos vívidos e o rosto corado pela energia despendida em suas diversas brincadeiras até ali... Curiosamente, até então, o casal não havia voltado a atenção para o pequeno e travesso infante, pois, dentre eles, a criança parecia de muito longe a menor de suas preocupações. Contudo, o marido perplexo com todos os demais que ali estavam a se apresentar e a assusta-los, resolveu por bem, inquiri-lo:

- E você, garoto, o que faz junto a esses que parecem ser a personificação do mal? – Perguntou o marido ao levanta-se do sofá para-lo, com ambas as mãos aquela correria sem nexo ante toda aquela confusão.

O garoto responde com um sorriso largo e olhar profundo, como se o mesmo pudesse facilmente mergulhar na profundeza da alma em sentindo ao mais distante e profundo sentimento existencial:

- Eu sou o Orgulho.

- Orgulho?! Você é apenas uma criança!!! Tão inocente como todas as outras! Não diga bobagens... – Respondeu o homem incrédulo, porém, magnetizado pelo olhar da criança.

O garoto se desvencilhou dos braços do marido com uma facilidade assombrosa, e o seu semblante antes corado e feliz, tomou um ar de seriedade que assustou o casal.

- O Orgulho é como uma criança mesmo. Mostra-se inocente e inofensivo, mas não se enganem, sou tão destrutível quanto todos que aqui estão diante de vocês. – Disse a criança em um tom e força ainda não experienciado em nenhum dos outros pelo casal.

Quer brincar comigo, Papai e Mamãe? – Voltou à estranha criança a dizer em tom brincalhão enquanto a retomava a correr pelos cantos da casa.

A Preguiça interrompe a conversa e diz:

- Então, Meus Amados, Vocês agora devem escolher quem de nós sairá definitivamente de suas vidas. Queremos uma resposta, e, precisamos para o quanto antes. – Disse o homem forte com a sua voz afável, senão fraternal.

O casal se entreolha, e o marido responde:

- Por favor, deem-nos alguns minutos para que possamos refletir sobre a questão. – Disse o homem com a voz trêmula e embargada enquanto flertava a todos.

Os sete estranhos e maculados se entre olharam e consentiram que sim, mas que deveriam ser breves, uma vez que, o leito da casa muito lhes agradava. Desta foram, o Casal se dirigiu para seu quarto e lá fizeram várias considerações.

Alguns minutos mais tarde, o casal retornou ao âmbito da sala e para a companhia dos intrusos.

E então, Amados? – Perguntou a Gula com os olhos abrilhantados de expectativas.

- Gostaríamos que fossem todos, mas como a nós só foi permitido escolher um, então, queremos que o Orgulho saia de nossas vidas! – Com firmeza e parcialmente abraçados o casal olhou para todos, e, por último a intrépida e malquista criança.

Nesse momento, o garoto parou todas as suas estripulias, e olhou fulminante para o casal em sentido de reprovação, pois, era nítida a sua vontade de querer continuar ali. Porém, respeitando a decisão do Homem e da Mulher, dirigiu-se para a saída.

Os outros, em silêncio, também foram se levantando e acompanhando a criança. O Esposo não compreendeu o que se passava, e, então, perguntou pasmo:

- Hei! Vocês vão embora também?! – Perguntou ele ainda incrédulo com tal atitude se dirigindo ao grupo que avançava pelo corredor em direção a porta da frente (e saída para a rua).

O garoto, agora com ar severo e com a voz forte de um orador experiente, disse para o Homem e a Mulher:

- Vocês escolheram que o Orgulho saísse de suas vidas... Pois bem, vocês fizeram a melhor escolha! Porque onde não há orgulho, não há Preguiça, pois os preguiçosos são aqueles que se orgulham de nada fazer para viver, não percebendo que na verdade vegetam. Onde há orgulho não a Luxuria, pois os luxuriosos tem orgulho dos seus corpos e julgam-se merecedores. Onde há orgulho não há Cobiça, pois os cobiçosos tem orgulho das migalhas que possuem, juntando tesouros na terra e invejando a felicidade alheia, não percebendo que na verdade são instrumentos do dinheiro. Onde não há orgulho não há Gula, pois os gulosos se orgulham de sua condição e jamais admitem que o são, arrumam desculpas para justificar a gula, não percebendo que na verdade são marionetes de desejos frívolos. Onde não há orgulho não há Ira, pois os irados com facilidade destroem aqueles que, segundo o próprio julgamento, não são perfeitos, não percebendo que na verdade sua ira é resultado de suas próprias imperfeições. Onde não há orgulho, não há Inveja, pois, os invejosos sentem orgulho ferido ao verem o sucesso alheio seja ele qual for; precisam constantemente superar os demais nas conquistas, não percebendo que, na verdade, são ferramentas da insegurança.

Eles saíram todos sem olhar para trás e, ao baterem a porta, um fulminante raio de luz invadiu o recinto.

A noite passou sem que eles percebessem o quanto tempo havia transcorrido, mas, os dois sabem que àquelas horas seriam eternizadas em todos os seus momentos futuros pela melhor escolham que haviam feito.

domingo, 18 de janeiro de 2015

RPG: Aventuras em Arton - Untalla, a Centaura Peregrina Errante

Untalla é uma desgarrada da aldeia centaura em que nasceu a mais de uma década atrás, e, também de qualquer outra tribo convencional de membros da sua raça, onde geralmente a mulher possui um caráter secundário e pouco expressivo para todo o grupo, desta forma, o seu pensamento aguerrido, senão, rebelde e em contravenção as tradições raciais, em relação ao papel das mulheres estão muito além dos ensinamentos percebidos ao longo do tempo em se considerou parte de um todo. De fato, clériga, druida, esposa, mãe ou senhora do lar, não é algo que anseia. Não no atual momento de sua vida! Ela ama a caça, a aventura e os digladios que o mundo tem a oferecer, pois, credes fielmente, em uma máxima proferida a mitos anos pelo seu pai, Untall:

“Só vence quem se permite lutar”


Ilustração por Boris Vallejo.
Untalla, Filha de Untall e Cereis de Opan, Peregrina Errante.


Um relacionamento apartado das bênçãos da Deusa.

Cereis de Opan, uma consagrada e bem quista clériga da deusa Allihanna em uma das principais tribos de seu povo, viu se atribulada espiritualmente quando uma paixão proibida ascendeu inadvertidamente em seu peito. A proeminente clériga havia se apaixonado por um guerreiro que já havia sido prometido a outra mulher de seu povo, e está última não se trava de qualquer outra consorte, mas de sua irmã consanguínea, Ciellas, algo surpreendente e digno de todas as lamurias, e que ela somente veio a tomar conhecimento tempos depois em que o relacionamento entre ela e ele já havia alcançado raízes profundas em ambos os corações. O fato é que antes da fatídica descoberta a respeito do comprometimento conjugal de seu companheiro e de sua irmã, algo grandioso aconteceu para que este avassalador sentimento viesse a nascer.


Ilustração por Michael Anthony Mictones G.
Cereis de Opan, clériga da deusa Allihanna, e,
mãe de Cereis.
Um grupo expressivo de clérigos de Alllihanna havia sido convocado pelo sumo-sacerdote para uma grande cerimônia em homenagem à deusa no reino de Pondsmânia, e em meio à comitiva de centauros devotos da deusa estava Cereis. O trajeto percorrido da floresta onde a clériga vivia até o local onde aconteceriam os ritos, a comissão de centauros foi devidamente escoltada com segurança por um grupo de guerreiros, e dentre estes habilidosos combatentes estava Untall, filho de Unghous. Essa foi uma longa peregrinação, e com alguns complicadores ao longo dessa jornada, pois, por algumas vezes o grupo foi atacado por seres errantes mal intencionados.

Em meses de viagem e uma série de adversidades enfrentadas pelo grupo, sobretudo, em função de encontros desafortunado com goblinoides, orcs e demais desafetos da raça (senão da deusa também), foi tempo suficiente para se estabelecer um vinculo de amizade e confiança entre os membros desta comitiva em procissão. Sendo assim, no início, Cereis e Untall demonstraram entre si grande afeição pelo destaque de algumas de suas qualidades, e com isso, mais do que uma casual e oportuna amizade foi estabelecida entre os dois.

Por diversas vezes, Cereis foi advertida por Gawah, a anciã líder da comitiva em que viajava, da aproximação dela com Untall sob a alegação de que aquela relação não era apreciada pela deusa. Contudo, a jovem não deu crédito a essas palavras, pois, sabia que o guerreiro também era admirado por outras mulheres de sua tribo, além de outras mais que seguiam ali em companhia, e, que provavelmente ao retorno desta jornada, um casamento lhe seria arranjado. Enfim, a clériga estava disposta a lutar pelo coração daquele aguerrido homem se isto lhe fosse permitido, ainda que isso soasse como uma contraversão aos desejos dos mais velhos.

Em Pondsmânia, Cereis foi mais uma vez alertada sob a sua conduta ante a deusa e os demais membros da ordem, contudo, desta vez por outro, um tipo desconhecido do qual até então ela não havia percebido a presença, mas que também se tratava esse de um clérigo de Allihanna. Essa advertência veio em consonância com alguns sentimentos confusos e pesadelos com que vinha tendo nos últimos dias que antecediam a chegada ao lugar.

A clériga tentou se afastar de Untall, pelo menos ao longo dos dias em que os ritos de cerimônia ocorressem, entretanto, isso não aconteceu tal como ela planejava, principalmente, pela paixão que havia se estabelecido entre os dois. Uma paixão tão desmedida, cuja necessidade de consumação carnal entre o casal não se permitia trégua por muito tempo, ainda que fosse comprometedor a ambos.

Em Pondsmânia, a presença e a ausência presente de Cerei foram por diversas vezes percebidas pelo grupo de asseclas da deusa. Pois, ainda que a clériga estivesse na companhia dos seus na realização dos rituais sagrados, os membros que estavam a sua volta compartilhavam entre si do desleixo e o distanciamento completo da comunhão dela para com os demais, ou seja, o seu corpo poderia estar ao lado de cada um deles, no entanto, a sua mente e o seu coração vagavam desorientados em uma dimensão desconhecida. A anciã do grupo que viajou com ela, repreendeu-a severamente pela atitude dos dois, e, além disso, manifestou que daquele momento em diante não abençoaria essa relação, fazendo votos para que tal laço conjugal não se firmasse em nome de Allihanna.

Cereis e Untall seguiram a viagem de volta a aldeia evitando flertes de olhares, e, parcialmente, emudecidos, falando o mínimo possível sem quaisquer provas de afeto comum. O guerreiro até tentou forçar algumas aproximações junto à clériga, mas ela conseguiu as duras forças combater o sentimento que a consumia por dentro. Essa viagem de meses para a clériga e o guerreiro não mais pareciam durar meses, e, sim anos, os mais perpétuos e derradeiros.


Ilustração por Michael Anthony Mictones G.
Ciellas, Filha de Opan, e irmã mais nova
de Cereis, cujo casamento com Untall fora
previamente planejado  entre os guerreiros
Opan e Unghous por intermédio de
Gawah, a anciã.
Cereis tencionava em chegar à aldeia e pedir para que seu pai, Opan, conversasse com a anciã e revesse as suas palavras de infortúnio, pois, tinha um mau pressentimento em relação a isso. Todavia, quando a comitiva clerical chegou à aldeia natal, a sua irmã Ciellas a recepcionou com uma alegria contagiante informando que em muito em breve um grande casamento seria celebrado na família, o dela com Untall. Tal notícia arrasou emocionalmente a clériga, porém, ela sabia que não poderia transparecer isso para a jovem irmã, o que conseguiu fazer durante algum tempo, mas que desastrosamente deixou se a perceber em momento posterior... A irmã e os demais familiares não entenderam muito bem o que havia ocorrido com Cereis, e, nem ela estava disposta a explicar, portanto, somente afirmou que estava demasiadamente exausta da viagem.

Aparentemente, Untall não havia recebido a notícia do casamento com Ciellas de coração aberto por seu pai, Unghous, pois, ainda pensava bastante na jovem Cereis. Porém, ele também já estava crédulo nas palavras de maldição de Gawah, e, quanto a isso, o guerreiro não pensava em se opor, pois, acreditava que muito mais mortal do que a lamina de um inimigo, era a praga rogada de uma matriarca sob a benção da deusa.

Untall, Filho de Unghous, e Ciellas, Filha de Opnn, casaram-se com as bênçãos de Gawah e demais familiares, exceto, por Cereis que ainda trazia em seu coração grande ressentimento por parte de todos, sobretudo, da anciã, e, até mesmo, de seu passado enamorado cujo transpareceu tê-la esquecido com certa facilidade.

Nas noites de celebração do casamento de sua irmã, e dias antes da realização do mesmo, Cereis foi por diversas vezes comunicada de que Gawah estava desejosa em falar-lhe, e, que era algo de grande importância entre ela e a deusa. A clériga não conseguia se contiver em revolta, mas também não queria demonstrar este sentimento perante a ninguém, sobretudo, de sua feliz irmã, para tanto, ela se isolou a grande distancia da aldeia, e, por mais importante que fossem as palavras da anciã, Cereis não queria vê-la, crédula de que tudo que estivesse a acontecer era parte de sua imprecação.

Cereis cavalgou sem destino, e, somente parou quando percebeu estar fatigada, chegado a algum lugar muito distante de sua tribo e que não seria importunada por nenhum conhecido. Próximo a este lugar, uma clareira onde percorria um córrego, ela encontrou próximo ao esqueleto de um humanoide, um velho caixote parcialmente destruído e abandonado por longo tempo com algumas poucas garrafas – estando umas intactas, outras não -, e preenchidas com algum liquido desconhecido por ela. A clériga não sabia do que se tratava, mas resolveu averiguar, e, para isso, experimentou uma das garrafas ao perceber que o odor e a viscosidade não remetiam a nenhum tipo de veneno conhecido, muito pelo contrário, tratava-se de algo muito agradável ao paladar... Cereis se embebedou com uma única garrafa desfalecendo ao chão, entorpecida.

A centaura experienciou um momento não muito lúcido de sua vida, e, ainda sobre efeito do consumo exacerbado de bebida alcoólica, contudo, sem sombra de dúvidas, algo libidinoso em excesso, no qual ela era tomada mais uma vez nos braços por Untall, agora o seu cunhado! A princípio ela tentou se desvencilhar dos fortes braços do guerreiro, porém, o seu desejo contido em relação aquele momento era infinitamente maior, desta forma, ela preferiu não mais se fazer de rogada ou pudica, entregando-se por completa. Cereis não tinha certeza sobre o tempo ou o controle sobre a situação, ela somente se sentia extasiada com tudo, onde por diversas vezes, ela também teve a ligeira sensação de que o seu corpo estava sendo cortejado e agraciado com a carícia de vários Untall.

Passado algum tempo, Cereis recobrou a consciência. A sua cabeça latejava um pouco com algumas dores, porém, ela sentiu que algo havia lhe ocorrido no tempo em que estava desacordada ao solo. Havia alguns respingos de bebida ressecada em seu corpo, alguns hematomas superficiais e alguma ardência em sua genitália... Ela começou a ficar preocupada com aquilo, bastante por sinal. Olhou ao seu redor, viu o esqueleto que antes estava com o corpo debruçado sobre o velho caixote, agora todo espatifado; assim também estava o próprio caixote, com mais recipientes quebrados e vazios espalhados por ali, próximos a ela; e, por fim, o mais estarrecedor fato, algumas pegadas de centauros – pelo menos três. A clériga havia sido estuprada pelos seus, e, ela ficou transtornada com aquilo, porém, não sabia ao certo o que fazer a respeito, pois, sentia uma mescla torturante de raiva, ódio, vergonha, pena, nojo e tristeza.

Dois dias se passaram desde que a clériga recobrou a consciência, porém, ela não se sentia preparada para retornar a aldeia, para a casa dos seus pais, e para rever os seus parentes.


Ilustração por Len-yan.
Gawah, a Anciã, Clériga e
Matriarca da Tribo.
Cereis estava se banhando no córrego quando Gawah surgiu abruptamente em meio os arbustos, contudo, antes que ela pudesse dizer qualquer coisa – e ela sentia que tinha necessidade de se explicar e falar -, a anciã entrou no córrego e a abraçou ternamente. Essa atitude fez com que mais uma vez, a jovem centauro se desfalecesse copiosamente em prantos.

Gawah convenceu Cereis a não contar nada a ninguém sobre o que havia acontecido ali, pois, os sonhos que foram revelados a anciã eram comprometedores também para ela, uma vez que, a inadvertida e imatura, centaura havia adentrado em uma parte obscura da floresta, onde seres atormentadores habitavam.

Cereis e Gawah vieram conversando ao longo de todo o caminho até a aldeia, e, em passos vagarosos, de tal forma, que o tempo pareceu transcorrer de maneira estranha... O dia se manteve claro ao longo de muito tempo, como se o sol não se movesse do lugar. Quando as duas chegaram à casa de Opan, a jovem clériga não mais sentia dores em nenhuma parte do corpo, assim como não tinha quaisquer vestígios de hematoma, e, a sua mente parecia agora se preencher de lembranças de fatos que já não tinha a certeza se havia vivenciado ou não. As duas se despediram na entrada da casa como se fossem amigas de grande e mutua afeição.

O pai acolheu Cereis com um forte e carinhoso abraço, daqueles que somente alguém atribui a outro depois de um longo distanciamento, além de algumas intrigantes lágrimas que escorreram vacilantes dos olhos do patriarca. A clériga não compreendeu o sentido daquilo, mas não via a hora de cair na cama e descansar a longa caminhada.

O tempo passou – dias, semanas, meses e anos -, e Cereis já não se lembrava com distinção do ocorrido, nem mesmo do sentimento que nutria antes, durante e depois do soturno evento, que em sua mente de alguma forma, já se caracterizava como uma espécie de distante pesadelo, sobretudo, fruto da bebida alcoólica cujo sabor não saberia nem ao menos mais distinguir com propriedade.

A clériga Cereis não sentia mais nenhum tipo de sentimento amoroso pelo guerreiro Untall, nada além de uma consideração fraterna por conta de ser da mesma tribo, casado com a sua irmã e pai de seus sobrinhos. Assim, como nenhum ressentimento em relação a irmã que se casou com alguém que algum dia no passado nutriu uma paixão súbita e passageira. Porém, a clériga não compreendia o fato de Ciellas, Untall e os filhos morarem em outra aldeia – distante, diga-se de passagem -, e, o fato, de que somente aos sobrinhos era permitido estarem na aldeia.

Foi somente com a morte de Opan, de Ciellas e Gawah que Untall retornou a morar na aldeia com a companhia dos sete filhos, e a pedido da própria Cereis, cujo amor pelos sobrinhos era grande.

Opan o pai, havia morrido em uma incursão de um pequeno grupo de caçadores nos limites da floresta, onde os mesmos foram atacados por uma Mantícora. Ciellas, a irmã, faleceu no parto de sua oitava criança, que era uma menina, e se chamaria “Untalla”, se ela também não houvesse falecido dias depois. E, por fim, Gawah, a anciã e uma das matriarcas da tribo, que adormeceu e se transformou em pequeninos cristais brilhantes, que logo em seguida, foram conduzidos pelo vento ao espaço.

Com o falecimento de Gawah, dias depois Cereis passou ter novamente o avivamento de pesadelos passados, porém, ainda sim, não conseguia compreender a natureza dos mesmos.


Ilustração por Julia Alekseeva.
Untall, Filho de Unghous, renomado
guerreiro da tribo, e, pai de Untalla.
Untall pediu Cereis em casamento algum tempo depois de ter retornado a aldeia centauro. A princípio ela se negou constrangida com tal pleito, mas os sobrinhos desejavam isso por amor aos dois. A clériga, nos últimos dias estava se sentindo menos a vontade na presença do guerreiro e cunhado, algo inexplicável por ela e que parecia fluir de seu cerne. Ela se lembrou que por diversas vezes em que esteve na casa dele, a irmã se apresentava da mesma maneira, e, que em alguns momentos as duas ate se estranhavam sem qualquer motivo coeso. Enfim, este estranha emoção por Untall efloresceu em uma paixão, um sentimento tal, que a possibilitou aceitar o pedido de casamento para a plena felicidade de todos.

Nas festividades do casamento de Cereis, Filha de Opan, e Untall, Filho de Unghous, tudo transcorria muito bem, exceto, pelos contínuos pesadelos que a clériga vinha tendo relacionado a algo de um passado remoto. Ela ainda não conseguia compreender as visões com que vinha tendo, mas de alguma forma tinha a certeza, de que aquilo lhe parecia mais real do que apenas maus sonhos.

Na noite de núpcias, quando Cereis se deitou com Untall, e os dois então comungaram do prazer carnal, aquilo que no inicio pareceu demasiadamente extasiante e perfeito, em algum ponto, tocou mais fundo do inconsciente da clériga, e, somente nesse momento, ela teve uma visão nítida:


Havia uma clareira em meio à floreta;
Havia o som de um córrego fluindo graciosamente;
Eu sentia em meus lábios o doce sabor de um liquido alcoólico;
O meu corpo se movia e eu transpirava em ritmo frenético;
Eu estava na companhia de outros três corpos másculos ofegantes; e,
Um deles era familiar... Era por mim muito conhecido...
Por Allihanna, não...
Era o meu esposo, Untall!!!

Nesse momento, Cereis recobrou a memória de algo que estava desconexo em seu passado. Ela havia sido estuprada por Untall, na companhia de mais dois irmãos de armas, em meio às festividades do casamento dele com a sua irmã Ciellas. Isso a deixou completamente perplexa, catatônica, e emudecida. Contudo, o marido não percebeu o que se passava com a esposa e continuou a cumprir o seu papel até desfalecer na cama exaurido de todas as suas forças. Naquela noite ela não dormiu, de seus olhos escorriam amargadas lágrimas, e os dias posteriores, seguiram de forma custosa.

Ela fez alguma espécie de voto de silêncio, embora, não destratasse os enteados, e, nem mesmo o marido, Cereis, seguia com aquela dor acumulada em seu peito, da qual ela não saberia nem mesmo manifestar para com Allihanna. Ela estava descrente na deusa, pois jamais imaginaria um castigo de tamanha monstruosidade, e, com tantos cumplices...

Cereis engravidou de Untall na semana do casamento, para total infortúnio da clériga que já cogitava a possibilidade de se matar.

Se por um lado a esposa parecia abdicar de sua classe, de outro, o marido, havia se tornado um dos mais celebres líderes guerreiros dos centauros, reconhecido por sua bravura indômita, pelo seu extraordinário talento em combate, e, por fim, pelos seus incontáveis atos heroico para com o seu povo e grupos aliados. Untall era o melhor combatente de sua aldeia e estava dentre os melhores de seu povo, e, o mais importante para si, agora estava ao lado de quem ele sempre almejou estar muito antes de Ciellas, Cereis, mesmo que a clériga em algum momento no passado tenha demonstrado apatia em relação ao sentimento que o guerreiro nutria por ela. 

Untalla nasceu no dia 10 de outubro do ano 1.358. Ela era a caçula de oito filhos de Untall, e, também, a primeira e única filha, da clériga Cereis. O seu nascimento fora aguardado com grandes expectativas, senão certo temor, pelos seus familiares e amigos próximos, pois, presságios ruins envolviam esse acontecimento, conforme a sensibilidade natural desses fantásticos seres, os Centauros de Arton.

A pequena centaura foi concebida em um trabalho de parto muito longo e complicado, que por muito pouco, não custou à sua própria vida e a vida de sua mãe. Cereis, a mãe, levou três semanas para se recompor do nascimento de Untalla. A aproximação da mãe e da filha foi demorada e difícil devido aos traumas anteriores e recorrentes ao nascimento, de tal modo, que a criança nunca chegou a ser amamentada pela clériga, tendo de ser entregue pelos irmãos a amas de leite momentos depois da nascença por incapacidade da própria mãe, cujo apresentou sintomas de aversão ao neném.

No dia do nascimento de Untalla não houve um corriqueiro e animado festejo entre familiares e amigos na aldeia. Havia um clima no ar muito desconfortável entre os aldeões, uma mescla de sentimentos pesados que somente um evento como uma guerra fosse capaz de trazer, sobretudo, havendo mortes entre os seus, muitas por sinal, e, demasiadamente sangrentas. Uma semana antes do nascituro da pequena centaura, a população do Bosque de Allihanna entrou em batalha contra uma legião de Hobgobins e goblinoides que estavam desejosos em tomar uma região que consideravam prósperas para os interesses evolutivos, financeiros e bélicos. Sendo assim, diante do caos que imperava sobre a floresta, o nascimento da filinha de Untall e Cereis aconteceu sem maior notoriedade. 

Untall, o líder guerreiro de sua aldeia, e os seus dois filhos mais velhos, Unlion e Unghos, também se juntaram ao flanco dos aliados. Os filhos estavam bastante animados por guerrearem ao lado do pai, que sempre lhes foi um grande ídolo, e, desta forma, ambos se envolveram nos confrontos diretos com as tropas inimigas com o mínimo de temor no que lhes pudesse ocorrer, salvo o caso de serem feito prisioneiros de guerra, pois, alguns aliados já haviam mencionado os costumes de maus tratos dos inimigos.  Lamentavelmente, Unghos, o filho mais novo foi morto em uma emboscada covarde, enquanto que o outro, Unlion, foi capturado como prisioneiro e resgatado dois depois – dias que lhes foram suficientemente traumáticos. 

Unghos morreu no mesmo dia do nascimento da mais nova membra da família, a sua irmã Untalla. E, ele era quisto dentre os mais novos membros das tropas aliadas, pois, demonstrava espírito, força e talento como de um combatente veterano. Untall ao tomar conhecimento da morte do filho em campo partiu de forma irascível em busca do corpo de Unghous. O pai cavalgou com o peso do filho jazido em seu lombo até o acampamento, derramando lágrimas de profunda dor e incapacidade ao longo do caminho. Untalla e Unghos não se conheceram, no entanto, Untall atribuiu a esse falecimento, o nascimento de uma mulher como maldição de Gawah.

O nome “Untalla” foi dado por um dos irmãos da pequena centaura que sabiam do desejo da mãe falecida, Ciellas, e, do pai, Untall. Cereis não demonstrou interesse algum na proximidade com a criança, portanto, pouco fazia questão do nome que lhe seria atribuído, pois, para ela aquela ainda seria tida como uma criança desafortunada pela deusa. Sendo assim, a filha caçula do casal passou a ser chamada de Untalla, Filha de Untall.



Sombras amargas em um vale solitário denominado Infância.


A infância de Untalla foi moderadamente solitária em sua casa e aldeia, pois, os seus irmãos eram, na maioria, muito mais velhos do que ela, e com as demais crianças da tribo tinha dificuldade de aproximação em virtude de sua timidez e baixa autoestima. Como ela nasceu em um tempo de guerra, e, nesse período muitas vidas foram tolhidas, os mais novos homens da tribo tiveram desde cedo que serem preparados para uma vida mais madura, portanto, a infância, de um modo geral, foi abreviada para muitos, com exceção das mulheres. Sendo assim, Untalla em sua infância solitária somente conheceu os prazeres de uma vida fantasiosa e os estudos voltados para o seu grupo feminino.

Em casa, a relação entre Untalla e os pais não era a mais desejada para uma vida familiar exemplar. A mãe parecia nutrir uma aversão à filha, e, dificilmente as duas se viam - mesmo residindo em uma moradia modesta com pouquíssimas dependências distintas -, por uma vontade exclusiva da clériga. O pai, embora para ela, fosse um grande exemplo de liderança e força dentre a tribo, em casa ele parecia trata-la com peculiar indiferença. O seu apego de mãe criadora foi depositado em sua irmã mais velha, Oild, ainda que essa, sempre tenha lhe ensinado quem eram de fato aqueles que ela deveria tê-los como pais, o que custou muito a ela compreender diante de tanta estranheza e dessabor. Untalla não conseguia se referir a Cereis como “Mãe” e nem a Untall como “Pai”, e, isso também era recíproco por parte da clériga e do guerreiro, os pais se referiam a filha somente pelo nome.

Desde muito nova, Untalla tentou se aproximar de seu pai, pois, gostava da maneira como Untall tratava os seus irmãos, principalmente, os varões. No entanto, essa afinidade era algo que somente fluía da parte dela, pois, do contrário, ele parecia sempre evita-la de todas as formas com as mais descabidas desculpas. E a pequena centaura não compreendia tamanho sentimento de rejeição, embora, um dos irmãos em um momento de furor, mediante a uma simplória traquinagem de sua parte, tenha lhe dito que o seu nascimento simbolizava para o pai a perda de um filho muito amado durante uma batalha perdida há anos atrás – ainda que a guerra contra os Hobgoblins houvesse sido vencida semanas depois de seu nascimento. E, tais pesadas palavras oriundas de um irmão amado, ainda que posteriormente tenham sido suplicadas desculpas, ressoaram amargamente durante a vida de Untalla.



Terríveis revelações para um vindouro caminho errante.


Na adolescência Untalla sofreu uma grande perda: Untall, o seu pai. O líder guerreiro foi afligido por uma doença mortal quando Untalla tinha pouco mais de quinze anos de idade. E, embora tenha ela aprendido a lidar com a indiferença do pai, a filha por diversas vezes foi agraciada com afetuosos elogios da parte dele, quando não estava sóbrio, de modo que tentasse transparecer para a mãe, ou a qualquer outro, em momento comum, de que aquela era uma filha diferente e apartada dos demais. Untalla, no fundo de seu coração, e nesses breves períodos ébrios de Untall, conheceu o real sentimento de seu pai para com ela, e, estando tão-somente os dois, distante das vistas de terceiros, eles se referiam um ao outro como “pai” e “filha”.

Untalla, a única filha remanescentes do casal que ainda não havia constituído família própria, teve de seguir com a mãe para o lar do tio por parte de pai, Ulver, que reclamou a mão de Cereis dias depois de encerrado os ritos fúnebres do irmão. Contudo, antes de seguir para o novo lar, a mãe pela primeira vez, teve com ela uma conversa do tipo “terrivelmente reveladora”, na qual, Cereis pediu para que a filha não tardasse em deixar a aldeia, pois, o pior iria lhe ocorrer. Algo que a clériga salientou como tão nefasto que comprometeria a vida dela e dos irmãos. A jovem tentou se impuser contra a vontade da mãe, mas Cereis foi ainda mais persuasiva ao relatar o sombrio capítulo que envolvia o antes, o durante e o depois de seu nascimento, algo que corria a sua alma há muito tempo, e, do qual jamais havia confidenciado a ninguém. Mãe e filha derramaram uma quantidade significativa e infindável de lágrimas mediante tantas amarguras resguardadas há tanto tempo, que no fim, Untalla compreendeu como certo o que deveria ser feito.


Ilustração por Daniel C. Fergus.
Untalla, uma desgarrada dos costumes
centauros, e, que viu na juventude a
necessidade repentina de se afastar da
aldeia em que nasceu por súplica mãe
ante o terrível mal.
Untalla, sobretudo, após a puberdade, passou a sentir por parte de seu tio - agora padrasto -, olhos e sentimentos desejosos por uma atenção fora do normal, algo libidinoso, e, ultrajante. E, essas emoções impudicas de Ulver viam em consonância ao desejo da mãe de que ela fugisse da aldeia o mais breve possível.

Cereis, como uma das lideres clericais, conseguiu junto à ordem, que a filha fosse enviada em uma missão, isto sem o aval e a contra vontade de Ulver. No entanto, o centauro líder em algum momento desconfiou dessa jornada missionária, sobretudo, pela enteada, que não detinha dons clericais, mostrava-se avessa as questões dogmáticas da religião e uma rebelde em relação a alguns costumes do povo. Portanto, o padrasto designou dois homens de sua mais alta confiança para resguardar com segurança o trajeto. Sabendo que algo poderia acontecer que impedisse a fuga da filha, a clériga solicitou a ajuda de outros mais próximos, semeando que Untalla havia partido em uma jornada penitencial de reencontro com Allihanna, e que isso somente conseguiria mediante a um grande sacrifício de sua parte, e, isso acabou gerando no líder dos centauros uma suspeita ainda maior em relação as intenções da esposa.

A grande companheira de Untalla nessa viagem foi Agrias, Filha de Adônis. As duas já se conheciam da floresta em que viviam, embora, residissem em tribos distintas. Contudo, a filha de Cereis, sabia por alto, que a companheira não era nenhum tipo de clériga, embora fosse devota da deusa, e tinha recebido instrução para isso. Ao longo da viagem, Agrias lhe deu muitas instruções em relação a perícias como herbalismo, venefício, armadilhas, sobrevivência, primeiros socorros, rastreio, procura, tratamento de animais, a caça, outros conhecimentos e armas.


Ilustração por Autor Desconhecido.
Agrias, Filha de Adônis, e, companheira de
Untalla na   fuga de sua aldeia natal, além
de conduzi-la nos caminhos da profissão
de Ranger.
Conforme o tempo passava, os dois sentinelas de viagem que acompanhavam Untalla e Agrias, começaram a desconfiar do objetivo dessa jornada. Porém, antes de chegarem à metade do caminho para Pondsmânia (o destino previsto), o grupo foi surpreendido por um bando de errantes malfeitores, e, isso custou à vida dos dois guerreiros enviados por Ulver. O que por um lado foi bom, pois, as duas se livraram de parte do problema, deixando nas proximidades do mortal confronto, grande parte dos seus pertences, e, sangue suficiente para que fossem dadas como gravemente feridas e sujeitas as mais traiçoeiras adversidades.

O caminho para Ponsdmânia se tornou ainda mais longo e proveitoso para Untalla na companhia de Agrias, pois, sem culpa ou disfarce, a ranger pode instruir a filha de Cereis na sua profissão, além de lhe revelar os planos de sua mãe, cuja morte lhe seria certa, assim que tudo fosse descoberto pelo padrasto. A ranger também convenceu a jovem centaura a não se desviar do novo caminho, por maior que fosse o seu sentimento de culpa em relação à sentença de morte de sua mãe, pois, tudo já havia sido traçado no curso da vida, e, quanto a isso nada mais poderia ser feito, além de aceitar o fardo, as lições entregues e a certeza de não desonrar a memória de Cereis.



Infausta perseguição por Ulver.


Pouco antes de chegar a Pondsmânia, Agrias e Untalla foram rastreadas por Ulver, que havia seguido as duas na companhia de mais três guerreiros. Com dificuldade, as duas conseguiram fugir do caço de seus perseguidores, e, assim, chegarem ao famigerado reino das fadas.


Ilustração por Se-min Lee.
Ulver, Filho de Unghous, líder centauro da
aldeia natal de Untalla, e padrasto dela.
Após julgar e condenar a morte, Cereis,
o mesmo partiu em captura de sua enteada
para fazer dela a sua esposa.
O padrasto tentou convencer Untalla de que a mãe ainda estava viva, preocupada com a sua segurança, e de que a queria novamente no seio familiar... A filha já havia sentido a morte da mãe semanas antes desse encontro, assim como a sua mestra, Agrias. Portanto, tais pretextos de Ulver para convencimento dela caíram facilmente por terra, o que deixou a ele ainda mais irascível em relação maneira de lidar com a enteada. Agora o líder dos centauros de sua antiga tribo, a qualquer custo, a queria para fazer pagar com o sacrifício da própria vida pela vida de todos os outros relacionados à sua maldita existência.

Agrias e Untalla tiveram que ser mais fortes e arguciosas do que os seus perseguidores, para tanto, tiveram de contar com uma força divina, além do reforço benigno de seres do próprio reinado de Pondsmânia que perceberam o que acontecia, e, agiram de maneira solícita as duas. No entanto, nem mesmo com este auxílio, não foi suficiente para que o trágico e inevitável ocorresse: o assassínio de Agrias pela lança de Ulver.

Ulver, juntamente com os seus liderados, conseguiram encurralar as duas fugitivas, no entanto, elas já haviam se decidido muito tempo antes desse fato, por não se entregarem facilmente – sem lutar -, ainda que isso lhes custasse à vida. Untalla havia aperfeiçoado as suas manobras de combate e as perícias com armas, mas ainda sim, isso não seria o suficiente para enfrenta-los corpo a corpo. Elas, portanto, optaram por embosca-los com as suas setas embebidas e em veneno anestesiante, e, assim, minar o poderia de ataque inimigo, entretanto, Agrias era pacifista, e não estava disposta a matar um membro de sua raça, porém, iria fazer de tudo para incapacita-los de prosseguirem com essa caçada. O plano delas seguiu de forma engenhosa, tendo conseguido derrubar três dos quatro captores, e, encurralar o líder para negociar a trégua e a desistência de seu plano, porém, foi nesse dado momento de negociação com Ulver, que um terceiro soldado emergiu dos caídos atravessando a mestra com uma lança... Este guerreiro havia dissimulado a sua queda ante as duas somente para agir em ataque surpresa, salvando o seu líder.

Untalla não teve nem tempo de lamentar a morte de Agrias, Ulver rendeu a sua enteada, e, a fez cavalgar para além dos limites do Reino de Pondsmânia, em viagem de regresso a sua antiga aldeia, onde seria devidamente julgada. Não obstante, antes de partir dali, o padrasto queria fazer com que ela sofresse amargamente a sua escolha, e, para isso, iria estupra-la, seguido por cada um de seus subordinados, como uma maneira que lhe pareceu justa e compensatória para o seu grupo ante todos os percalços causados por ela e a sua companheira.

Antes que eles iniciassem a tortura de Untalla, uma voz imponente e extremamente intimidadora emergiu das profundezas da floresta seguida uma rajada de vento gélido ordenando para que o líder centauro e seus seguidores deixassem imediatamente o reinado sob a advertência de que, o que sofreriam em consequência de seu ato profanador contra aquela devota de Allihanna seria infinitamente mais desejoso a morte. 


Ilustração por Boris Vallejo.
Untalla, que na companhia de Agrias
aprendeu e tomou gosto pela profissão
 de ranger.
Ulver desconhecia a autoria da voz, porém, aquilo o fez gelar por dentro com tamanha propriedade, que fez com aflorasse em seu inconsciente uma série de lampejos de atitudes ultrajantes tomadas diante de seu povo, algo que nunca havia experimentado. Quando ele se deu por conta, se viu só, nem mesmo os seus seguidores se encontravam as suas vistas... Eles haviam se debandado por tempo indeterminado, e, tomados por um grande medo. Ele não disse uma palavra a Untalla, simplesmente a deixou naquele lugar lançada aos seus pés e a própria sorte.

Passado algum tempo, Untalla percebeu que o clima a sua volta havia retornado a um padrão mais ameno e harmonioso, assim como também, já não estava na companhia de seus algozes, portanto, recobrada a consciência de tudo que havia lhe acontecido até então, a jovem ranger correu sem mais de longas em direção ao local onde Agrias estava desfalecida.

O golpe de lança que havia atravessado Agrias fora mortal, havendo entre as duas um resquício de tempo para se despedirem antes que ela perdesse totalmente a consciência. A mestra não deixou de frisar para Untala como últimas palavras:

“Ela não nos abandou, credes nisso”

Untalla enterrou a sua mestra na floresta em um rito parcialmente silencioso, senão fosse à presença do cântico matinal de alguns pássaros, cujo estas mesmas aves e outros pequenos animais acompanharam o simplório cortejo fúnebre. Lágrimas da centaura não mais eram necessárias pela perda, pois, Agrias não se sentiria confortável com tanta dor, independente do lugar que estivesse a observar a sua pupila e irmã de armas. No fim, a jovem ranger, filha de Untall e Cereis, sentia-se plenamente agradecida por tudo, não somente por ter conhecido e convivido com Agrias, mas, pela oportunidade concebida por sua mãe e a própria deusa de lhe permitir um novo começo.



Uma nova e desconhecida vida em Pondsmânia.


Em Pondsmânia, distante de todos aqueles com quem um dia conviveu, a centaura Untalla, filha do guerreiro Untall, filha da clériga Cereis, amiga de Agrias e devota de Allihanna, encontrou uma vida aguerrida a ser enfrentada, dia após dia, mas tal como o pai sempre dizia aos seus filhos, e ela assim também acreditava: só vence quem se permite lutar, e, para tanto, estava ela com muito esforço se empenhando nisso.

Untalla encontrou alguns anos depois da perda de Agrias, uma nova companheira: Teslla, uma loba. Ela estava muito abatida e com poucas chances de sobrevida, pois, o animal estava há dias sem se alimentar direito, salvo pelas oportunidades que surgiam inerentes das chuvas ocasionais e de alguns outros pequenos animais inadvertidos que se aproximavam da boa dela. A loba havia sido capturada em uma armadilha mal preparada por caçadores inexperientes na floresta. E o fato da centaura tê-la encontrado, e, a tratado com extremo zelo, além de sua natureza empática e desprovida de qualquer receio em relação ao animal, fez com que a fera selvagem atribuísse a ranger o título de fiel companheira, ainda que Untalla não a quisesse.


Ilustração por Yvonne Bentley.
Teslla, a Loba, e fiel companheira de Untalla em sua peregrinação
de provação das suas capacidades ilimitadas.