Bem-Vindo Errante Viajante

Do Olimpo trago a almejada chama, da qual sugiro dançarmos embriagados a sua volta, e quando assim for, sujiro arriscar tocá-la, pois, felizes os que dela se queimarem.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

RPG: Aventuras em Yrth - Fragmentos: Um abstruso caminho para frente e para cima, com toda certeza.

Uma complexa jornada sobre as Montanhas de Bronze.

Dia 14: 01/03/2111, sobre a regência de Peixes.

Logo no início da manhã, Delvin e Dionísio seguem até ao mercado para encontrarem Yoleuss, o gnomo, com quem o halfling havia negociado na noite anterior um equipamento que poderia auxiliar a todos no processo de escaladas da montanha onde esta localizada a ruina. Sem dificuldade, eles encontraram a oficina dos gnomos. Os astutos comerciantes transmitiram aos mercenários a melhor maneira de manusearem o mecanismo, assim como também, o cuidado que deveriam ter no transporte do mesmo, sobretudo, para não serem avistados com ele.

O fato é que o equipamento comercializado pelos gnomos não era completo, ele requeria uma parte a qual os mercadores não poderiam dispor: uma espécie de “braço de apoio” feito a partir de madeira firme, e, mais uma vez, Dionísio foi ao mercado buscar material e os préstimos de um ótimo marceneiro para que fosse aprontado o tal item complementar. O anão queria escolher as melhores peças em madeira e pedir a execução da atividade em sigilo pelo artesão, senão, sem que ele mesmo nem compreendesse o que estaria a fazer, ou tivesse uma ideia muito vaga sobre o desejado. Para isso, ele recorreu novamente a Yoleuss e os seus comparsas que o ajudassem no arranjo do mecanismo.

O dia posterior ao envolvimento de Marduk com a rameira Lesley também deixou sequelas pelo corpo do nômade... Uma coceira impertinente na virilha estava retirando do gigante a concentração – algo que poderia afetar o seu desempenho na empreitada, senão viesse a ser tratado. Contudo, ele preferiu não compartilhar tão enfermidade e seguir solitário e inquieto com a sua mazela. Porém, este é um tipo de comportamento que dificilmente passa despercebido por aqueles que estão às voltas de quem sofre, pois, os humores também tendem a oscilar.

A conversa no período em que o anão guia esteve longe permitiu a Delvin relatar a Marina do estranho objeto que havia surgido em um de seus bolsos: uma estranha moeda, que aparentemente era feita em ouro maciço, porém, sem qualquer cunho de emblema que a identificasse. E o halfling relatou que a mesma havia surgida em sonho, e que por algumas vezes, já acordado, ele conseguia ver brevemente em uma das faces o rosto de Grover, o seu mestre. Ele entregou a moeda nas mãos da amiga para que a mesma averiguasse se o misterioso item possuía algum tipo de propriedade encantada, contudo, em nada resultou.

Era meadas da tarde quando Dionísio retornou a hospedaria convocando os mercenários para irem com ele a oficina dos gnomos.

Na oficina, o grupo pode presenciar o braço feito em madeira maciça e os mecanismos de roldanas devidamente acoplados a ele. O Grupo ficou maravilhado com a engenhoca e ansioso em testá-la, e, até sugeriram em leva-la até ao paredão ao qual praticaram escaladas exaustivamente no dia anterior, porém, Dionísio foi categórico em se negar a fazê-lo, pois, o local era próximo a vila, e o que poderia, consequentemente, facilitar as vistas de um curioso.

Os mercenários envolveram o equipamento em uma pele de um animal a fim de disfarça-lo na saída da oficina do gnomo Yoleuss.

Thridway orientou aos mercenários que aproveitassem o resto do dia para averiguarem os seus equipamentos e suprimentos, pois, como o mercado ainda estava acessível, os mesmos poderiam adquirir aquilo que lhes fosse útil nessa empreitada. O Anão destacou que seriam necessários pelo menos dois dias de refeição até as ruinas, e, assim também para voltar, quanto ao tempo de estadia lá em cima, isso dependeria exclusivamente da motivação deles, contudo, ele frisou que o quer que eles venham a fazer lá dentro (nas ruinas) deveriam ser breve.

Ao longo do dia, Marina percebeu algo de diferente no guia, o anão Dionísio, pois, toda vez que fora mencionado sobre as ruinas, ele franzia a testa e procurava se evadir da conversa, contudo, ela preferiu não importuna-lo. Porém, ela tinha certeza de que ele sabia de algo e que ainda não havia revelado por algum motivo.

O sono que os aventureiros almejavam ter foi parcialmente resumido a poucas horas de algo que realmente lhes ofertasse algum conforto, embora, estes últimos pensamentos tenham sido menos perturbadores, pois, a mensagem havia se mantido intacta e com uma ou outra peculiar diferença.

O guerreiro SnowFinger novamente se viu paralisado de joelhos sobre a neve, sentindo o seu corpo sendo tragado pelo frio que lhe subia pelas pernas e que também se manifestava de forma agressiva pelas rajadas de ventos lançadas contra o seu peito. A neve por muito pouco lhe cobria as vistas, onde somente o que conseguia perceber eram vultos assombrosos de coisas indistinguíveis... Exceto, pela valquíria de cabelos avermelhados que se apresentava metros a frente, de pé, imponente olhando em sua direção como se o desafiasse. O seu cabelo enrijecido pela temperatura gélida se movia pouco ao toque do vento, embora, pudesse sentir que a cada tentativa do vento de fazê-lo se mover parecia tentar lhe arrancar o próprio escalpo. Em seus braços, Maduk percebeu o peso daqueles três corpos, que jaziam semi cristalizados em seu colo, diluírem-se a nada quando ele por fim, ergue-se, como quem estivesse disposto a aceitar o desafio retido no flertar daqueles olhos selvagens... Ele caminhou em direção ao vulto da mulher sentindo com isso a tempestade se findar, e, em seu ouvido, a voz dela mais uma vez ressoar: “Os olhos perceberão vida onde somente há morte... Confia no teu instinto aguerrido, sobretudo. O teu inimigo se amparará nas tuas fraquezas... Corroendo a tua visão, a tua mente e o teu juízo. Nem uma arma é mais letal que a verdade, Quando empunhada com convicção”. Quando ele chegou até o local onde estaria a mulher, lá ela já não mais estava - havia desaparecido tal como teria surgido -, porém, somente a visão de um lugar ao qual ele muito apreciava de suas terras, um local do qual ele podia avistar a movimentação de muitos homens que ousavam afrontar a soberania de seu clã... Foi quando ele se agachou para olhar ao horizonte, então pode sentir ao seu lado a presença amada da companheira, Drunna.

A arcana Marina, aparentemente mais consciente do terreno onírico que atravessa ao longo desses dias sobre as Montanhas de Bronze, via-se novamente lançada em meio à tempestade que surgira na lembrança vivida de seu santuário no jardim de sua antiga residência em Nova Jerusalém... Ela estava no olho do furacão, porém, menos afetada pelas rajadas de vento e a violência do ambiente que outrora havia lhe ferido. Sobre a sua cabeça, uma luz clara e constante que vinha do alto, onde também girava com demasiada velocidade um grimório, cujas páginas eram brutalmente arrancadas e lançadas no movimento circular da nebulosa ventania. Algumas das páginas que se chocavam contra o corpo da jovem estouravam em pequenos estilhaços luminosos que repentinamente se dissipavam. Ela chegou a fechar os olhos diante de tantas cores que vibravam a sua volta, como se previsse que aquilo pudesse lhe fazer algum mal, no entanto, mais uma vez, ela ouviu o ressoar da voz afável de sua mentora lhe dizer com voz penetrante em sua mente verbetes de magias que as quais não conheciam... E, antes que recobrasse a consciência total, Marina foi alertada “Filha minha, cuidado em teus caminhos... Muita atenção quanto, ao teu inimigo que espreitará a todo instante os seus caminhos por meio de vias sombrias e escuras. Pois, ele se fará forte sobre as suas fraquezas. Ele atacará você e a quem mais estiver em sua companhia, fazendo de seus companheiros possíveis armas, somente para sobressair ao combate”. Ela recobrou a consciência sentindo o último toque sutil de sua mestra sobre as suas mãos contra o seu peito.

O audaz Delvin se viu mais uma vez no cômodo do antigo trabalho que estava a executar em favor de um mago em Nova Jerusalém, porém, ele estava em meio a um problema que envolvia: o desaparecimento de seu mestre, as paredes que pareciam se comprimir rapidamente e o cerco de desconhecidas criaturas que a qualquer momento se lançariam sobre ele. E, como senão bastasse, ele viu as suas moedas de ouro, recolhidas com tamanho afinco naquele insólito ambiente, saltarem pelo ar, e a única moeda que apanhou, com um brilho distinto das demais, viu o semblante do rosto de Grover que lhe disse: “Cuidado com o inimigo que age nas sombras, ele, é ainda mais traiçoeiro do que todos que já conheci. Ele vai colocar cada um de vocês em lados opostos, e, o mais importante, vai atacar por suas fraquezas”. A moeda brilhou de tal forma, que muito antes da mesma lhe cegar por meio do brilho – que já não podia ser contido pelo braço a frente ou os olhos fechados -, o pequeno ladino a deixou cair no chão pelo calor que o item também passou a emanar sentindo queimar a palma da mão que a segurava. A moeda quicou por três vezes ao chão até que a mesma explodisse em um imenso clarão... Delvin acordou sentido a palma da mão que em sonho empunhava a moeda formigar, assim como o calor ameno da moeda em seu bolso.

O espadachim Worean estava mais uma vez a cambalear sobre a embarcação que navegava em um revolto mar rubro de sangue, o vento que soprava de maneira impetuosa a rasgar as velas, os gritos de homens que não via, assim como o correr destes fantasmas invisíveis sobre o assoalho da embarcação... A única voz que conseguia guardar para si, e, ter a certeza de que não era o único ali, era a de seu avô: “Atenção para as nuanças daquilo que ver. Nem tudo e Nem todos são reais, portanto, duvide. O inimigo saberá como lhe atacar... Sustentado e Armado com as suas fraquezas”. Ele tentou se colocar de pé, e, o corpo parecia estar bastante debilitado pelas forças empenhadas nas frustrantes e recorrentes tentativas, porém, quando ele por mais uma vez buscou fazer aquilo que tanto ansiava, ele conseguiu se colocar por completo de pé, e assim, sentir como se a luz do sol brilhasse sobre o seu rosto de forma acolhedora, penetrando e dissipando as nuvens enegrecidas que cobriam o céu... Não havia mais fantasmas sobre o convés, a correr e a gritar; o mar subitamente se apresentou calmo e azul, tal como sempre teve em suas memorias mais distantes; e, o vento que sobrava sobre as velas, firmes e claras, era tal como uma brisa convidativa a navegação.


Dia 15: 02/03/2111, sobre a regência de Peixes.

No inicio da manhã, os mercenários saíram em direção à montanha que os conduziria ao seu destino, e, foi somente, quando estavam muito distantes da Vila de Baramphas que Dionísio resolveu lhes dizer sobre o local para o qual estavam se dirigindo. E, Marina então sentiu verdades nas palavras proferidas pelo guia, verdades tais que calaram parte de sua curiosidade.


RUÍNAS DE THARGODDAS
Mistérios, Rumores, e Contos Inacabados de um clã anão desaparecido.

Ilustração por Raphael Lacoste.
Ruínas do Reino Anão de Tharggodel.

"Eu quero lhe presentear com um belo rubi...
Ele não é de Thargoddas, pois, não seria presente.
E se fosse, ao meu inimigo seria mais digno tal sortilégio.
Essa joia reflete a beleza de um sentimento genuíno,
Onde a confiança e o respeito mútuo se fizeram dignos".

- Um dito popular dos anões dos reinos de Morriel
 e adjacências sobre rubis.

São poucos os anões vivos em Ytarria que podem mencionar algo sobre o Povo de Thargoddas do Reino de Thargoddel, pois, são escassos os registros que se tem a respeito desse clã, uma vez que, o que se conhece sobre os mesmos deixou de ser escrito a cerca de mil anos.

Os Thargoddas eram um clã menor vinculado a outro grande clã anão, os Morthrinn (Reino de Morriel). Eles eram reconhecidos pelo seu genuíno trabalho em pedras preciosas, sobretudo, rubis. O último rei deste clã foi Hyppus Thargoddas, e a sua esposa e rainha era Lanths Morthrinn. Desde o evento cataclismo, estes anões cessaram o seu contato com o mundo exterior, selando a sua passagem para que eles não fossem importunados por criaturas desconhecidas e interessadas em furtá-los - uma atitude de aversão que fora tomada como pratica por outras muitas comunidades da raça. Eles se reportavam e somente mantinham contato com o Rei de Morriel, mas mesmo assim, um contato distante e frio, que os últimos anos se resumiram ao envio de alguns de seus trabalhos como pagamento de seus tributos de gratidão ao Rei. No entanto, quando até mesmo esse último contato se encerrou foi necessário enviar algumas comitivas para saber o que estava acontecendo em Thargoddel, e, o que os sobreviventes relataram foi algo desolador, pois, o lugar estava inabitado por anões, parcialmente destruído e enfestado por criaturas oriundas de medonhos pesadelos.

Para o Clã Morthrinn, e o que muitos outros anões sustentam, é que os Thargoddas encontraram um meio para chegar aos Domínios Profundos – sem comunicar ao Rei de Morriel ao qual deveriam se reportar. Uma atitude inadvertida como essa já custou a vida de muitos outros clãs, não somente menores, pois, tomados pela ambição de explorarem as inóspitas regiões abissais do mundo, eles acabaram sendo vitimas do doce perfume da morte.

Rumores falam que pouco mais de alguns anos passados desde a última tentativa de averiguação das minas dos Thargoddas, uma grande caixa repleta de rubis lapidados foi destinada ao avô de Morkagast, tal como a tributação que era comum ser feita pelo povo de Thargoddel, algo que a princípio trouxe esperança e alívio ao Rei de Morriel. Porém, aquelas pedras foram todas mantidas intactas até que um mago as avaliasse com cuidado, pois, elas possuíam um estranho brilho e que gerou em alguns anões próximos ao rei um sentimento notório de desconfiança... Não precisou a noite virar dia, para que a rainha suplicasse copiosamente ao Rei que se livrasse daquele maldito presente, pois, em sonhos ela havia tido presságios ruins a respeito dessas pedras. A desconfiança se tornou ainda maior ao ponto de se tornar uma preocupação, quando o arcano responsável por analisar as joias também desapareceu, sem deixar quaisquer vestígios.

Outros clãs anões tentaram se apossar das Ruinas de Thargoddas para estabelecerem moradia, reergue-la sobre um novo signo de prosperidade, contudo, tal empreitada não resultou em nada além de mais mortalhas e infortúnio, o que acabou trazendo ao local a sua afamada maldição.

Também houve grupos de inadvertidos aventureiros que se lançaram sedentos em busca dos tesouros do reinado de Hyppus Thargoddas, porém, o pouco que se soube desses, é que eles partiram munidos de muita coragem e expectativas rumo as famigeradas ruinas, no entanto, permanece com todos aqueles que os viram seguir para tal lugar a dúvida se estes obtiveram êxito na empreitada, ou se pelo menos, ainda estão vivos...

***

Os mercenários chegaram até um local um pouco acima dos pés da montanha que deveriam escalar – o último lugar possível de locomover andando em função de sua inclinação -, e, no local encontraram alguns funestos vestígios de homens que falharam em tal empreitada... Corpos de muito tempo destruídos por quedas descomunais frutos do tamanho do desafio que estavam prestes a encarar.

Como o grupo havia combinado, Delvin seria o primeiro a subir, de forma que pudesse preparar todo o caminho que os aventureiros iriam percorrer por meio dos acessórios (martelinho, ganchos, pítons e cordas), então, nesse sentido, Dionísio e Marduk, cederam as ferramentas que dispunham e que não prejudicariam o desenvolvimento da atividade do halfling por conta de excesso de peso. O halfling levou algum tempo até conseguir chegar a um local seguro a mais de oitenta metros de altura, e, plano o suficiente para abrigar mais alguns companheiros. Do local, ele sinalizou para os demais subirem, pois, estava avido por completar essa parte do trajeto e se alimentar - a fome já lhe batia traiçoeiramente a porta.

Dionísio subiu logo em seguida levando consigo o equipamento que auxiliaria Marina a escalar com menos esforço, além do restante da carga. Entretanto, quando estava prestes a alcançar metade do trajeto feito pelo halfling, o anão falhou desastrosamente em sua atividade, e, o que por muito pouco não lhe custou à própria vida... A sua queda foi devidamente poupada pelas cordas e os pítons, e, embora tenha evitado uma tragédia maior, custou o equipamento que o grupo havia adquirido com os gnomos, uma vez que, ninguém que estava embaixo pode evitar que o impacto o destroçasse em pedaços irreparáveis... Quase todos se esquivaram com o receio de que aquilo atingisse alguém, exceto Marina, que foi ferida por uma dos estilhaços. O anão ficou içado a metros de altura até se recompor para retomar a subida, sentindo algumas dores no ombro pelo impacto na parede além das cordas que o pressionaram.

Delvin estava longe do incidente e não pode discriminar o som ouvido, e nesse momento seguia na busca de um local que eles e os demais poderiam prender o equipamento.

Passado algum tempo, Worean iniciou a subida, e, o espadachim até seguia bem na atividade de escalada, quando em um descuido a cerca de pouco mais de sessenta metros, ele rolou em meio às cordas que o seguraram evitando um desastre maior, porém, ainda sim, a pancada foi suficiente para lhe deslocar um de seus ombros e incapacitar o seu braço esquerdo, o que o manteve içado, e absorto em dor.

O último a tentar subir o colosso natural foi o nômade, e, como o mesmo não havia demonstrado muita aptidão em seu treinamento, assim, logo ele empacou em meio ao trajeto de escalada, ficando içado a poucos metros do chão.

Marina assistia sutilmente consternada o desafio que seus companheiros enfrentavam em subir aquela montanha, pois, sabia que os dons mágicos que havia aprendido até então de pouco ou nada poderiam ajuda-los. Naquele momento, ela precisava contar com eles, e, quem sabe em um futuro breve, retribuir a gentileza.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

RPG: Aventuras em Yrth - Fragmentos: Existem perigos naturais mais traiçoeiros.

Instruções necessárias para sobressaírem aos desafios naturais.

Dia 13: 29/02/2111, sobre a regência de Peixes.

Disposto a não perder mais tempo, Dionísio Thirdway pediu que os mercenários pegassem o seu material de escalada para iniciarem o treinamento. Esses exercícios na companhia do instrutor seriam realizados em um paredão não muito distante da vila, um local que o Delvin já havia sido apresentado dias antes, e, tratava-se de uma parede natural com pouco mais de cinco metros com algumas imperfeições típicas.

O treinamento durou quase o dia inteiro, e eles subiram e desceram por incontáveis vezes aquele paredão até que Dionísio pudesse perceber quem deles seriam os mais aptos a seguirem a frente do grupo quando estivessem no desafio real das montanhas, pois, um dos locais pelos quais seguiriam era pelo menos dez vezes maior que essa parede de exercícios. Nesse caminho, tido como o menos provável de encontrarem Grimlocks, eles lidariam com o algo mais traiçoeiro, as correntes de vento, portanto, subir requeria muito cuidado em relação às condições do tempo e horário.

Marina e Marduk se mostraram despreparados em relação à escalada com o uso dos itens básicos dessa atividade, e por mais de uma vez penderam içados pelas cordas de segurança. Worean conseguiu se sair bem. E, Delvin, conseguiu superar a todos, inclusive as expectativas do próprio tutor, que não tinha dúvidas em relação a função deste, o halfling teria que ser para essa atividade a peça chave e o primeiro a seguir a frente preparando o caminho para demais, pois, Dionísio ficaria como retaguarda e apoio, caso algo desastroso ocorresse.

O último treinamento do dia, e, que Dionísio fez intercalado com o exercício de escalada era o de Sobrevivência nas Montanhas. Embora, caso somente um pudesse dar conta de todo o grupo, isto é, na busca de abrigo, segurança, alimento e outros, ele precisava ter certeza que todos os demais estariam aptos a dar conta do recado caso o mais preparado viesse a faltar, e, isso o incluía. O treinamento em sobrevivência se mostrou favorável a todos.

Ao término das atividades do dia era consenso de todos se dirigirem a uma taberna mais próxima para se alimentarem dignamente. Marduk e Worean também queriam beber, e, o primeiro estava afoito por copular, e ambos seguiram a frente do grupo, uma vez que, os demais preferiram antes de seguirem para taberna passarem primeiramente na hospedaria.

Dionísio indicou para Marduk e Worean a Taberna dos Lobos Bufões, conduzida por um humano, pois, nesse local encontrariam além de bebida, comida e música, o entretenimento feminino que desejavam, exceto de anãs, que foi rispidamente respondido pelo anfitrião anão sob a possibilidade de sofrerem represálias caso mencionassem isso diante de outros.

Ilustração por Daroz.
A Taberna Lobos Bufões na Vila de Baramphas, dentro do Reino Anão de Morriel, o único local que poderia ofertar aos viajantes além de comida e bebida, os prazeres lascivos da carne, na companhia de algumas mulheres.

Na taberna, os dois escolheram uma mesa que pudesse comportar os cinco, e, iniciaram a sua atividade de entretenimento a base da alcoolização. Tempos mais tarde, Dionísio, Delvin e Marina surgiram e se juntaram a mesa. O Halfling estava com tanta fome que gostaria de se servir com o que a casa tinha de mais generoso para lhes servirem, e, as gnomas que atendiam ao grupo, mencionaram uma iguaria chamada de A Moda dos Lobos Bufões...

Para os estrangeiros advindos de outros reinos, sobretudo, os humanos, é perceptível que em Zarak, as tabernas para não embromarem muito com nomes exóticos em suas principais refeições, elas simplesmente denominam o seu prato mais servido em comida de A Moda da Taberna ou Cidade, prático assim.

Enquanto a refeição não vinha, o grupo se servia de bebida para aumentar o apetite.

A taberna possuía um número moderado de fregueses naquela noite, a maioria destes, por sua vez, tratava-se de indivíduos da própria localidade, humanos, gnomos e anões. Uma trupe de bardos gnomos liderados por um humano tentavam executar sofrivelmente algumas melodias que pareciam estar em desarmonia com o ambiente desde a chegada do Bárbaro e o Espadachim, matadores de gigantes... Até que lhes foi possível encontrar uma nota adequada com a visão encantadora de Marina.

Delvin, muito atento ao ambiente, começou a observar o local e os seus frequentadores com a sua dissimulada atenção, ou seja, primeiro os perigos ou os promissores frutos externos, e em segundo, a aleatoriedade da conversa de seus companheiros. E, foi desta forma que o sagaz halfling percebeu algo de favorável para o grupo, ao ver em um animado grupo de comerciantes gnomos, que jogavam dados descontraidamente, mencionarem que haviam negociado equipamentos com os anões de Morriel que seriam favoráveis a escalada.

Como a refeição ainda não havia chegado, Delvin se levantou e pediu a Marduk atenção, pois, ele iria se aproximar da mesa dos gnomos.

Ilustração por Alphabethater.
Yoleuss, o gnomo comerciante que
Delvin negociou um item incomum
de escalada oriundo das profundezas
do Reino Anão de Morriel. Contudo,
o halfling não satisfeito com o preço
adquirido na barganha tentou intimida-lo,
o que resultou em um desgaste que
por muito pouco não liquidou todo
o negócio.
O halfling se aproximou da mesa para se certificar da amistosidade como seria recebido pelos gnomos, porém, antes mesmo de ser convidado a se sentar e jogar, ele percebeu que aquela mesa de jogos era desfavorável a sorte, pois, um dos membros estava trapaceando nas jogadas. No entanto, Delvin aceitou o convite de se assentar para negociar o tal equipamento do qual os gnomos havia mencionado minutos atrás, e, embora, eles parecessem desconfiados pela forma como foram abordados, eles aceitaram negociar. Yoleuss, o gnomo mais falante e que parecia ser o dono do item, chegou a um valor de seu interesse, e pediu que na manhã do dia seguinte o halfling estivesse na oficina com as moedas.

Delvin tentou melhorar ainda mais o preço negociado com Yoleuss, e para isso, ameaçou-o de informar aos seus companheiros de que ele estava trapaceando na mesa de jogos... O gnomo, por sua vez, em tom ameaçador rebateu aquele afrontamento com uma elevação do valor, a possibilidade do fim do negócio e outros perigos mais que ele e o seu grupo poderiam adquirir agindo daquela forma nessas terras.

As gnomas que atendiam a mesa do grupo ficaram de arranjar uma companhia adequada para atender o imundo bárbaro, uma vez que, nenhuma delas ou qualquer outra das meretrizes que trabalhavam no local, gostaria de fazê-lo, e, para isso só havia uma fêmea na cidade capaz de se sujeitar a tal atentado: Lesley, A Belezona.

Dionísio não tinha muito interesse em saber como a história iria correr depois dali para o grupo, sobretudo, as peripécias sexuais do bárbaro, portanto, ele comeu e bebeu o suficiente para logo em seguida deixa-los à vontade para aproveitarem o resto da noite.

Não tardou para que a afamada Lesley adentrasse o recinto da taberna fazendo com que alguns homens já murmurassem injurias a respeito da simples presença dela no mesmo ambiente, pois, além de Marina, as gnomas e algumas mulheres que estavam no local, nada poderia ser equiparado aquele tipo único de mulher... Ela até se assemelhava a uma mulher de corpo esbelto, porém, o seu rosto era algo pavoroso, uma criatura sem pai e nem mãe. O fato mais gritante é: se ela fosse uma orca, ou mesmo uma meia orca, já estaria morta, mas não era, para tristeza de muitos que ali estavam.

As gnomas acenaram para que Lesley se aproximasse da mesa onde estava o bárbaro que a desejava, e, ela imediatamente se sentou ao lado dele, e com um apetite voraz bebeu e comeu à custa de seu acompanhante. Assim como o bárbaro, a Lesley não demonstrava nenhum tipo de modos a mesa e fazia sem qualquer resquício de culpa, sobretudo, percebendo no semblante de Marduk que o mesmo se satisfazia desses trejeitos. Ela também exalava um odor muito peculiar.

Marduk apostou uma moeda de prata de que aquela mulher não seria suficientemente capaz de derruba-lo na cama. E, ela achou aquilo um afronto desmedido, sendo assim, a Belezona se predispôs a receber no mesmo leito a ele e mais os seus outros companheiros, pois, ela tinha fôlego o suficiente para arrebatar toda a raça de homens que haviam naquele lugar. 

Afoito e com sede de saber até onde iria o folego dessa mulher, o bárbaro não perdeu mais tempo puxou Lesley pelo braço com uma jarra de cerveja em mãos e a conduziu para um dos quartos.

Ilustração por Autor Desconhecido.
Lesley, A Belezona, uma insaciável e
afamada meretriz que vive na Vila
de Baramphas, cuja aparência é um
tanto duvidosa, pois, embora possua
traços de uma meia orc, essa é
aparência que ela forjou a alguns
anos atrás,
SnowFinger foi com tanta sede ao pote que não tardou para reconhecer o fato de que estava diante de uma mulher forjada em leitos de chamas ardentes, pois, ela sabia de fato como dar prazer sem qualquer resquício de frescura ou pudor. Ele apagou com uma breve visão dela se vestindo e saindo pela porta resmungando algo...

Lesley desceu a escada sorridente pela tarefa cumprida. Imediatamente, ela requereu do grupo de Marduk sentado a mesa a moeda de prata prometida... Worean duvidou das palavras da mulher e pediu para que Delvin fosse checar, algo que ela achou desnecessário, pois, poderia dar conta quem mais estivesse disposto. O halfling nem perdeu muito tempo avaliando o estado do Grandão, pois, o odor não era nada agradável, apenas constatou a verdade e avisou aos demais.

Assim que ela recebeu a moeda de prata, Lesley se insinuou para todos demais homens do recinto, perguntando de maneira afrontadora, se haveria homem suficiente para lhe dar prazer naquele lugar, pois, o único que aparentava ser mais homem dentre todos que ali estavam, nesse momento, estava caído em uma cama acima deles, recuperando-se de uma surra memorável de sua voraz crespa – ela sorria desdenhosamente enquanto acariciava a sua vulva, enquanto os homens seguiam murmurando injurias. Como ela percebeu o desafeto do taberneiro, sobretudo, por parte da clientela dele, ele gesticulou para que Lesley saísse logo com uma caneca de cerveja por conta da casa.

Passado algum tempo depois da saída de Belezona, Marduk, retornou a mesa onde estavam sentados os seus companheiros de grupo, que nesse momento já conversavam sobre muitos assuntos em relação aos sonhos que tiveram em dias anteriores, porém, a simples presença do gigante exalando um odor lastimável e indescritível de dias sem banho, sangue ressecado e suor acumulado em crostas de caracas culminaram em algo suficientemente capaz de fazer com que alguns de seus companheiros regurgitassem o alimento recém digerido e apreciado com bom gosto... Foi uma náusea seguida por anciã de vomito sem precedentes para Marina e Delvin.


O dono da taberna considerou ultrajante aquele episódio, o que fez com que ele pedisse para que o grupo se retirasse do local ineditamente.