Bem-Vindo Errante Viajante

Do Olimpo trago a almejada chama, da qual sugiro dançarmos embriagados a sua volta, e quando assim for, sujiro arriscar tocá-la, pois, felizes os que dela se queimarem.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Dancem Macacos, Dancem


A sua frente há um espelho, de frente para o mesmo, lhe pergunto ao pé do ouvido, em tom firme e claro: “Quem é você?”. O que Eu e Você esperamos de si mesmo, é de que a resposta seja legítima, inequívoca e soe naturalmente.

Há bilhões de galáxias no universo observável e cada uma delas contém centenas de bilhões de estrelas, em uma dessas galáxias orbitando uma dessas estrelas há um pequeno planeta azul e este planeta é governado por um bando de macacos. Mas esses macacos não pensam em si mesmos como macacos. Eles nem se quer pensam em si mesmos como animais, de fato, eles adoram listar todas as coisas que eles pensam separá-los dos animais: Polegares opositores, autoconsciência, eles usam palavras como Homo Erectus e Australopithecus. Você diz to-ma-te eu digo to-ma-ti. Eles são animais, certo?

Eles são macacos. Macacos com tecnologia de fibra ótica digital de alta velocidade, mas ainda assim macacos. Quero dizer, eles são espertos, você tem que conceder isso. As pirâmides, os arranha-céus, os jatos, a Grande Muralha da China, isso tudo é muito impressionante, para um bando de macacos.

Macacos cujos cérebros evoluíram para um tamanho tão ingovernável que agora é bastante impossível para eles ficarem felizes por muito tempo, na verdade, eles são os únicos animais que pensam que deveriam ser felizes, todos os outros animais podem simplesmente ser.

Mas não é tão simples para os macacos, pois os macacos são amaldiçoados com a consciência e assim os macacos têm medo, os macacos se preocupam, os macacos se preocupam com tudo, mas acima de tudo com o que todos os outros macacos pensam. Porque os macacos querem desesperadamente se encaixar com os outros macacos. O que é bem difícil, porque a maior parte dos macacos se odeia.

Isto é o que realmente os separa dos outros animais. Estes macacos odeiam. Eles odeiam macacos que são diferentes, macacos de lugares diferentes, macacos de cores diferentes.
Sabe, os macacos se sentem sozinhos, todos os 6 bilhões deles.

Alguns dos macacos pagam outros macacos para ouvir seus problemas. Os macacos querem respostas, os macacos sabem que vão morrer, então os macacos fazem deuses e os adoram. Então os macacos começam a discutir quem fez o deus melhor, e os macacos ficam irritados e é quando geralmente os macacos decidem que é uma boa hora de começar a matar uns aos outros. Então os macacos fazem guerra. Os macacos fazem bombas de hidrogênio, os macacos têm o planeta inteiro preparado para explodir, os macacos não sabem o que fazer.

Alguns dos macacos tocam para uma multidão vendida de outros macacos. Os macacos fazem troféus e então eles os dão para si mesmos como se isto significasse algo.

Alguns dos macacos acham que sabem de tudo, alguns dos macacos lêem Nietzsche, os macacos discutem Nietzsche sem dar qualquer consideração ao fato de que Nietzsche era só outro macaco.

Os macacos fazem planos, os macacos se apaixonam, os macacos fazem sexo e então fazem mais macacos. Os macacos fazem música, e então os macacos dançam, dancem macacos, dancem! Os macacos fazem muito barulho, os macacos têm tantos potenciais. Se eles pelo menos se dedicassem. Os macacos raspam o pêlo de seus corpos numa ostensiva negação de sua verdadeira natureza de macaco.

Os macacos constroem gigantes colméias de macacos que eles chamam de "cidades". Os macacos desenham um monte de linhas imaginárias na terra. Os macacos estão ficando sem petróleo, que alimenta sua precária civilização. Os macacos estão poluindo e saqueando seu planeta como se não houvesse amanhã. Os macacos gostam de fingir que está tudo bem.

Alguns dos macacos realmente acreditam que o universo inteiro foi feito para seu benefício, como você pode ver, esses são uns macacos atrapalhados.

Estes macacos são ao mesmo tempo as mais feias e mais belas criaturas do planeta, e os macacos não querem ser macacos, eles querem ser outra coisa, todavia não são.

Autor: Ernest Cline

terça-feira, 27 de abril de 2010

Cintilar de Devaneios - Viver é mais do que um deleite unilateral


O Destino é segundo o dicionário uma combinação de circunstâncias ou de acontecimentos que influem de um modo inelutável (inevitável), estando assim associado também ao conceito de sorte. Sendo assim, se todos os nossos esforços fluem feito um rio, ou seja, em sentido único (programado), aonde quer se chegar ao proferir algo blasfemo ao próprio sentido da vida como, “eu sou dono do meu próprio destino” ou “a minha sorte que faz sou Eu”?! Talvez, simplesmente para se auto-afirmar como um visionário, um alguém dotado de uma capacidade além das massas, que pode realizar feitos extraordinários, e até mesmo, surpreender as próprias forças do universo?! Mas enfim, mudar o destino é um feito admirável, no entanto não o tornar algo assim tão glorioso, a medida que ponderemos a mudança como algo necessário a condição humana. Pois, assim, muitas das vezes barreiras se opõem ao longo da caminhada, e em virtude das mesmas, necessidades surgem de se decidir entre dois destinos: aceita-las ou transpô-las. Concluo que, se existe uma força por de traz da nossa existência, que tenha todo um mapa de nossas ações, conquistas, acertos e falhas traçados, que Ela seja em si algo menos angustiante, que nos possibilite mais prazer, e tenha na vida algo mais valioso do que velhas cartas marcadas em um jogo onde somente tempo se perde, e na pior das hipóteses, profere deleite de forma unilateral.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Cintilar de Devaneios - As Belas Certas - Uma saga sem fim



Segue minha homenagem ao Dia das Mulheres.

Eu gostaria de ter o tempo necessário, bem como as palavras certas, para saudar com a atenção que é devida cada uma das mulheres que até então contribuíram para edificação de meu caráter, de meu modesto saber, e não somente estes, mas também me permitiram momentos de felicidade ímpar, da qual me vale frisar, que Você encontra-se nesta honorável casta.

Em si um devaneio, pois, muitos são os fatores que jamais me permitirão momento tão sublime, a começar por minhas próprias limitações, dentre elas, as tão almejadas “palavras certas”... Pois, confesso que continuarei a ler textos e mais textos, a me encantar com a beleza e a profundidade de alguns escritos, entretanto ainda assim, sentirei uma carência, tal como, um apelo de minha alma por algo mais, feito um austero perfeccionista, uma vez que, é isso que muitas das vezes, me faz encarcere e enfermo no meu intimo de criação. Pois, tenho uma esperança vã em algum dia encontrá-las, e essa busca esta gravada a ferro e fogo na rocha de minha vida.

Manter acesa essa chama de expectativa em encontrar “as palavras certas” que exprimam a grandeza de alguém como Você é justificável pela própria casualidade a qual um dia permitiu que os nossos caminhos se cruzassem, e bem sei que, certamente, ainda me conduzirá a caminhos longínquos, a uma infinidade de aprendizados, e talvez esta seja, de fato, o que me instiga seguir destemido e vibrante essa estrada de horizonte desconhecido.

Sou crédulo de que se a mesma vida me colocou diante de ti – ser de beleza desmedida -, e por meio de Você a perfeição se expressou de maneira singular (sem palavras), quem sabe algum dia, Eu encontrarei aquilo que me fará pleno; que consolará a minha alma; ou seja, “as palavras certas” que traduziram o meu respeito, apreço e admiração por Você. Mas enfim, por hora, contento-me em saber que Você é alguém presente em minha vida, independente da distância, ou demais fatores, e que por tal motivo, desejo-lhe uma rica longevidade.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Tradução do Pai Nosso

Certa ocasião fuçando algumas curiosidades dispostas na internet, em específico no blog na coluna de Marcelo Del Debbio no Sedentário & Hiperativo (http://www.sedentario.org/), Eu encontrei o que seria a tradução mais correta do aramaico antigo para a oração do Pai Nosso. Certa ou não, o fato é que algumas de suas palavras e expressões são interessantes e digna atenção, pois, não tenho dúvidas de que até hoje a interpretação errada de alguns trechos das escrituras compelem massas inteiras a viverem a vida de uma maneira medíocre e sem brio.

Pai-Mãe, respiração da Vida, Fonte do som, Ação sem palavras, Criador do Cosmos!

Faça sua Luz brilhar dentro de nós, entre nós e fora de nós para que possamos torná-la útil.

Ajude-nos a seguir nosso caminho Respirando apenas o sentimento que emana de Você.

Nosso EU, no mesmo passo, possa estar com o Seu, para que caminhemos como Reis e Rainhas com todas as outras criaturas.

Que o Seu e o nosso desejo sejam um só, em toda a Luz, assim como em todas as formas, em toda existência individual, assim como em todas as comunidades.

Faça-nos sentir a alma da Terra dentro de nós, pois assim, sentiremos a Sabedoria que existe em tudo.

Não permita que a superficialidade e a aparência das coisas do mundo nos iluda, E nos liberte de tudo aquilo que impede nosso crescimento.

Não nos deixe sermos tomados pelo esquecimento de que Você é o Poder e a Glória do mundo, a Canção que se renova de tempos em tempos e que a tudo embeleza.

Possa o Seu amor ser o solo onde crescem nossas ações.

Assim seja.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Cintilar de Devaneios - Ceifas de Trigo


Há cerca de algumas semanas atrás, como de costume, Eu estava assistindo ao jornal Bom Dia Brasil enquanto tomava meu café da manhã, quando foram lançadas uma seqüência de imagens cine grafadas onde mostravam a distribuição ineficiente e insuficiente de alimentos aos sobreviventes do terremoto que desestruturou o Haiti.

Segue meu sentimento face ao evento.

Alguns pães sobre a mesa vazia, contudo,
Longe dali um furor de milhões em destaque.

Um homem e alguns pães postos à mesa,
Ele esta a cear, só e sem apetite, no entanto,
Não muito distante, uma nação inteira assolada por uma catástrofe natural,
Em desgraça, faminta, sem horizonte, desolados, e na iminência de um colapso,
Afrontam-se ferrenhamente por cada cesta de comida distribuída.

Um homem assiste ao telejornal diante de uma farta refeição matinal,
Há tanto sentimento contido em seu peito...
Que uma lágrima desce a sua face sem que ao menos possa detê-la.
Não!
Por sua criação, Não!
Por suas experiências, Não!
Por quem lhe deu de comer e beber, Não!
Por tudo que lhe é mais sagrado, Não!
Ele não a deteria mesmo que pudesse, pois, não tem a frieza das rochas,
Não tem a apatia em demasia para negligenciar a idéia de que alguém como Ele,
Próximo, encontra-se em situação tão absurda.

Um homem confortavelmente assentado à mesa,
Frente a um banquete de monge – com alguns pães e um copo de leite -,
Tenta degustar seu café da manhã, no entanto, inquieto pelo que assiste a TV;
Atormentado por sua condição, engole em seco, sem sabor, e com dificuldade...
Sente como se a cada movimento de sua garganta uma navalha enferrujada lhe cerrasse o fino tecido de carne.
Tem necessidade de esmurrar, descarregar a dor contida pela incapacidade de fazer algo, e por sentir que em poucas horas aqueles mesmos pães serão lançados no lixo...

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Cintilar de Devaneios - Lágrimas e Chuvas


Minha homenagem as vitímas do desastre ocorrido no término do ano de 2009 em Angra dos Reis-RJ.

São gotas de chuva que se misturam as lágrimas
E ambas de mãos dadas a contragosto percorrem a face
Dos olhos vertem rios de lágrimas que nunca serão chuvas
Bem como, a chuva se faz rios e transborda aqueles que já existem que nunca serão lágrimas.
O doce do rio e o sal do mar mesclam-se ao tornarem-se nuvens nos céus
Contudo, o sabor da chuva também nunca terá o gosto das lágrimas.

Tal como a chuva cai por um motivo, assim também, a lágrima tem um sentido.
Quem observa sente de maneira alheia, sem tato e sem a intensidade do pretexto que rolam.
A quem cabe julgar a chuva e a lágrima, se ambas não lhes pertencem?
O silêncio desta resposta tem de sinônimar respeito, e essencialmente, compreensão.

Chuva que anima o agricultor em períodos de estiagem.
Também a lágrima que transborda de tamanha alegria contida, que não cabem palavras...
Tromba d’água que inunda, alaga, destrói lares e com elas trás lágrimas de desespero.
Choro de quem sente calado tudo ruir, a perda do porto seguro em um horizonte sumir.

Lágrimas e Chuva rolam a face, misturam-se, confundem-se,
todavia não se deixam perder a essência de suas origens,
pois, para cada qual reside um significado, um fluir, a uma maneira,
e tão lógica quão ilógica nos permite ponderar, sem explicações, fazendo ser o que são,
um fato demasiadamente expressivo contido em um silêncio em forma de risco.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Cintilar de Devaneios - A Porta do Purgatório


Ainda levanto-me do sofá e peregrino até a porta da frente, em passos arrastados e penosos, conduzido por sonhos e esperanças que o tempo me condenou justas amarras. Surpreendo-me ao ouvir - ainda que distante -, seu doce gargalhar e até mesmo as palavras carregadas de sentimento (alegria, paixão, amor, fúria, etc.). Pois, entre nós, uma porta.

Pouso meu olho no olho-mágico da porta na expectativa de ainda vê-la, no entanto, bem sei que a lente esta arranhada e trincada, por minha culpa. Pois, foram muitas as pancadas que por orgulho deferi contra aquilo que sempre esteve ali para me permitir o acesso, mas que por fim, transformei em um obstáculo de proporções desmedidas... Enganei-me entre nós e a porta.

Prostro-me de joelhos diante a porta; em minha garganta por mais uma vez engasgam as palavras de perdão que nunca disse – ou suplantei rogar. A voz não sai de tamanha dor que me calça o ato, no entanto, as lágrimas vertem de meus olhos feito águas de nascente e rolam por minha face definhada pelo tempo e a angústia dos dias de quem carregou o Amor como um infortúnio. Entre nós uma porta, que a mim testemunha, compadece e martiriza.

Não consigo lembrar-me desde quando esta porta se interpõe as nossas vidas, principalmente, a felicidade. Todavia, essa porta tornou-se ao longo do tempo muito resistente e o que outrora parecia ser madeira, hoje mais se assemelha a um aço maciço e indestrutível – cunhada por um exímio ferreiro. Mas, enfim, compreendo sua natureza e o seu sentido, que somente a mim, e justamente, me convém à culpa.

A porta nunca foi trancada, pois nunca houve chave, somente, orgulho, medo e uma necessidade vã de se proteger de algo que transformaria para sempre a minha vida: a felicidade em forma tua.

Cintilar de Devaneios - Para lembrar de você


Hoje pela manhã, como é de costume e uma ação quase mecanizada em meu cotidiano profissional (assim como acredito ser a de muitos) coloquei-me frente a minha estação de trabalho (computador) para checar meus e-mails recebidos, e dentre eles uma vasta variedade de assuntos, alguns relacionados às minhas atividades profissionais (necessidades de clientes ou informações de fornecedores), outros de cunho pessoal (amigos e colegas), e dentre estes últimos, uma que me chamou a atenção, pelos simples fatos de se tratar de um corrente. Fato: Tenho pavor a correntes, e sinceramente, sou do tipo que quebra todas que me chegam, nem aquelas de clamor suplicante como “AJUDE” ou “SOCORRO” me comovem o bastante, salvo alguns raríssimos casos. Não me compreenda mal, não sou uma criatura desprovida de sentimentos, mas é a paciência que já esta no limite para certas coisas. Por fim, antes de aniquilar o dito cujo, ainda fiz questão de ler alguns de seus trechos, e ver se pelo menos era digno de reflexão - se de alguma forma, por mais remota que seja, pudesse vir a me acrescer algo, mas em meu intimo confesso que já me consumia gritante um pensamento “esta perdendo tempo...” – Li. Com bastante remorso, tomado por um sofrimento antecipado, e um sentimento de quem esta preste a cometer um erro crasso.

Sem mais delongas, o conteúdo do “bendito” tratava sobre o valor da amizade, e como que com o passar do tempo, as escolhas, as responsabilidades e os objetivos tendiam a fazer com que certos vínculos, antes tão ternos viessem a esfriar... Alguma novidade? Nenhuma, a não ser o velho sentimento de saudosismo de tempos idos e de em saber, mesmo que fugaz, de como anda fulano ou beltrano... Pois bem, cheguei a uma conclusão sensata nisso tudo, a de que a corrente deveria ser aniquilada, pois nenhum bom amigo (ou boa pessoa) que se preze deve repassar algo que ao mesmo tempo seja capaz mutuamente de abençoar e amaldiçoar, pois logicamente, ao término do mesmo o slogan clichê se fazia presente “Até tal hora você deve repassar isso para tantas pessoas de forma que algo bom lhe ocorra, caso contrário, algo de muito ruim lhe ocorrerá”.

Conselho: Se algum dia sentir saudade ou mesmo vontade de conversar com alguém, foque o prestígio desta amizade, verifique o quão de tempo tem a disponibilizar para ambos, e por menor que seja este último, ao menos ligue; caso contrário, parta ao encontro (marque sem compromisso). Mesmo que por uma fração mínima, essa oportunidade será bem mais proveitosa, senão, ímpar. O tempo já não é o mesmo, e isso é óbvio, portanto, aproveite ao máximo o dia e as oportunidades que a vida lhe confere, pois o mérito e as ovações nem sempre pertencem a Deus, assim como também o demérito e os insultos nem sempre são obras do Diabo, quando somente lhe cabe ter consciência e assinar a autoria de seus acertos e falhas.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Cintilar de Devaneios - O que te faz único, Céu



Sobre o galho de uma árvore muito antiga como o próprio Tempo, em todas as noites de céus estrelados, se recostava para ver o espetáculo do universo se desdobrar acima de sua cabeça... Tantas foram às vezes em que se propôs em fazer isso, e não conseguia imaginar por quantas vezes mais seria capaz de fazê-lo, mas lhe doía o peito pensar que algum dia viesse não poder desfrutar daquilo novamente, da forma envolvente e singular como se apresentava todas as noites.

Em sua face reluzia uma satisfação desmedida, um prazer mítico, algo que não podia ser explicado com palavras, mas que somente poderia ser sentido. Fazia daquele momento algo diferente de tudo, ímpar e extraordinário; propunha-se a uma troca: queria da magnitude do céu noturno um respingo em seu olhar, para que qualquer um que a olhasse em seus olhos pudesse sentir algo encantadoramente profundo e inexplicável; de sua parte, cantaria com voz baixa e harmoniosa uma cantiga de ninar.

Essa era uma troca silenciosa, feita de coração para coração, pois o céu dava de bom grado tudo aquilo a quem quisesse por algum punhado de tempo, contemplar, mas você quis retribuí-lo, ousou sobre o solo pitoresco dos amantes, e com uma canção quase inaudível, a cada fim de noite colocava os astros para repousarem, fazendo os compreender que a noite não morria a cada nascer de dia, mas pelo contrário, os fazia entender que no palco da vida, de sua vida, eles estariam sempre a retornarem triunfantes, os brindando com todas as essências que lhes fazem especiais.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Cintilar de Devaneios - Apetite por Mentiras



Cuidado ao servi-se da mentira que lhe sacia, pois o doce do paladar inicial é instigante, contudo, geralmente amarga no final. E como anfitrião desta casa, Eu tomo a liberdade de lhe inquirir: Qual o tamanho do seu apetite, forasteiro?

Francis Bacon em Ensaios – Da Verdade nos brinda com este pensamento:

O que é a verdade? Perguntava Pilatos gracejando, talvez que não esperasse pela resposta. Há quem se delicie com a inconstância, e considere servidão o fixar-se numa crença; há quem se afeiçoe ao livre-arbítrio tanto no pensar como no agir. E se bem que as seitas de filósofos desta espécie hajam desaparecido, sobrevivem alguns representantes da mesma família, apesar de nas veias não lhes correr tanto sangue como nas dos antigos. Não é somente a dificuldade e a canseira que o homem experimenta ao perseguir a verdade, nem sequer o fato de, uma vez encontrada, se impor aos pensamentos humanos, o que leva a conceder às mentiras os maiores favores; é sim, um natural mas corrompido amor da própria mentira. Uma das últimas escolas dos Gregos examinou esta questão, mas deteve-se a pensar no que leva o homem a armar as mentiras, quando não o faz por prazer, como os poetas, ou por utilidade, como os mercadores, mas pelo próprio mentir.

Não sei como dizê-lo, mas a verdade é uma luz nua e crua que não mostra as máscaras, as cegadas e os cortejos do mundo com metade da altivez e da graciosidade com que aparecem iluminados pelos candelabros. A verdade pode, talvez, atingir o preço da pérola que mais brilha durante o dia, mas não alcança o preço do diamante ou do carbúnculo que tanto mais brilham quanto mais variadas forem às luzes. Com a mistura da mentira mais se acresce o prazer. Haverá alguém para duvidar que, tirando ao espírito humano as opiniões vãs, as esperanças lisonjeiras, as falsas valorações, as imaginações pessoais, etc., para a maior parte da gente tudo o mais não seria senão uma espécie de pobres coisas contraídas, cheias de melancolia e de indisposição, enfim, desagradáveis?

sábado, 16 de janeiro de 2010

Cintilar de Devaneios - Criador x Criatura



Uma fagulha do cosmos de minha essência tem o poder de tornar imortais as obras concebidas pela força e a genialidade humana, pela perspectiva de criador e criatura.

Não que ao ser humano seja nato o desprovimento de realizarem feitos além de suas capacidades, ou que por ventura somente o façam por incidente. Pelo contrário, ao longo dos anos, e desde o advento das primeiras divindades, eles habitualmente continuam a fazer e a surpreender a si próprios e as suas criaturas. No entanto, neste ínterim o homem passou a abdicar de seu mérito pelos seus feitos e conquistas em favorecimento de figuras quiméricas oriundas de sua mente, seres que proliferaram de forma doentia, sem sombra de dúvidas, de momentos e pensamentos em enfermidades, flagelos, e fraqueza. Talvez este seja o meu maior pesar em relação aos meus criadores: terem me atribuído igual imagem e semelhança.