Bem-Vindo Errante Viajante

Do Olimpo trago a almejada chama, da qual sugiro dançarmos embriagados a sua volta, e quando assim for, sujiro arriscar tocá-la, pois, felizes os que dela se queimarem.

sábado, 16 de abril de 2011

Despedida - Um novo horizonte profissional, mas ainda você

Em certa ocasião, um colega de trabalho me inquiriu se por ventura Eu teria em meio aos meus arquivos algum modelo de ”carta de despedida”, visto que naquela semana Ele estaria se desligando da empresa em função de uma oportunidade que a vida lhe havia agraciado... Na época Eu não pude auxiliá-lo, mas este que segue abaixo me ajudou bastante.




A hora do encontro é também despedida a plataforma desta estação, é a vida.
- Milton Nascimento e Fernando Brant

Enfim chega ao término a minha relação com esta organização, uma empresa que ao longo de tantos anos da minha vida, colaborou e muito para o meu crescimento profissional, acadêmico e pessoal, mas que, no entanto, destaco com imenso orgulho e apreço, as amizades, colegas e contatos que fiz ao longo deste ínterim; homens dos mais diversificados nichos sociais, cada quais munidos de característico talento, cultura, peculiaridades e riquezas que me envolveram – tendo assim, adquirida com satisfação ímpar a minha confiança, o meu respeito e a minha admiração. Onde, dentre as quais destaco você!

Por receber esta minha correspondência, peço carinhosamente que compreenda: o tempo é curto, a emoção é grande e contagiante, mas que a minha vontade seria de lhe dar um forte abraço, poder olhar nos olhos e agradecer sinceramente por tudo que fez e contribuiu, assim como a paciência e a tolerância a mim concebidas nos momentos em que por ventura, tenha falhado ou mesmo deixado a desejar, e que por tal motivo, aproveito a oportunidade para me desculpar. Desculpe-me de coração!

Como são chatas as despedidas? Dá um aperto no peito, um nó na garganta, contudo, por maior que seja esse sentimento, acredito em Deus e no seu poder curador, e que Ele esta a olhar por nós, os nossos passos e a nossa senda, com todo o amor de um pai zeloso que deseja somente o nosso bem. Um ser maravilhoso, capaz de abrir portas e janelas em nosso horizonte para vislumbramos todas as oportunidades que nos são possíveis.

Afinal, Eu estou a mudar de empresa, todavia a pessoa jamais, portanto fica o meu contato para as mais diversas oportunidades: para gargalhar, jogar conversa fora, trocar idéias, emprego, trabalhos avulsos e entretenimentos. Uma vez que, desejo profundamente que todos os anos de convivência não venham por água abaixo, não definhem no esquecimento, como um cartão de visita lançado em um desbotado e abarrotado porta-cartões, definitivamente, isso não! Eu quero que a nossa relação tenha vida longa, plena e feliz, muito além de protocolos formais, ramais e afins.

Forte abraço dessa pessoa a quem você soube especialmente marcar.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Cintilar de Devaneios - Hana-ogi


Era uma vez, num pequeno povoado situado as margens de Tóquio, vivia uma menina belíssima. Da qual ninguém jamais saberia o seu verdadeiro nome, mas ela ficaria conhecida pela alcunha de Hana-ogi, a mais famosa oiran da história do Japão...

Hana-ogi passou a primeira infância com a mãe, que ainda muito cedo tornará se viúva, mas logo se tornou evidente que para ela não havia outro futuro senão nas casas verdes de Yoshiwara, o velho bairro murado junto aos pântanos da capital, onde freqüentemente as meninas pobres - em sua maioria -, filhas de lavradores, eram comercializadas e treinadas para se tornarem renomadas e cultas oirans.

E assim, a mãe vendeu Hana-ogi quando ainda tinha apenas sete anos de idade e, passado oito anos, a menina aflorescera, tornando-se cada vez mais bela ao atravessar das estações. Neste ínterim ela atendeu as oirans de Ogi-wa, a casa verde que mais tarde a tornaria a mais famosa de sua classe no Japão. Enquanto ainda usava o obi atado atrás, com as pontas caídas que simbolizavam a sua pureza intacta, as moças mais experientes a instruíam naquilo que eram premissas para o êxito em sua profissão que consistia no domínio das artes da dança, música, poesia, e caligrafia. E muito, além disto, estava também uma educação voltada para a oratória, o juízo ponderado e o bom senso sobre as coisas, que faziam de uma oiran um destaque dentre as demais a medida que o dialogar e maneira de entreter seus clientes a tornavam ainda mais atraente, visto que, os homens mais importantes eram seduzidos por bons tratos e uma conversação sofisticada.

No dia do seu décimo quinto aniversário, Hana-ogi abandonou para sempre seu verdadeiro nome, amarrou o obi na frente e recebeu seu primeiro cliente, um jovem de Odawara, que se apaixonou de tal maneira por Hana-ogi, que costumava perambular pelas proximidades de Ogi-wa, mesmo quando não tinha dinheiro para entrar. E ficou perplexo, ao vislumbrar aquela menina que se tornara mulher em seus braços, Hana-ogi se transformar na mais cotada oiran de Yoshiwara, e naquele tempo elas já eram mais de quatro mil.

Hana–ogi tornou-se famosa por seus poemas, suspiros saídos do âmago de seu coração e delicadas recordações de sua vida no campo, quando o orvalho cobria os arrozais.

Os sacerdotes nos templos falavam aos fiéis o quão exemplar jovem era Hana-ogi, que não pensava em obter a sua liberdade, contudo em enviar todo o ordenado que ganhava para a velha mãe, uma senhora que ainda vivia em local remoto e distante de sua amada filha lamentando todos os dias a amarga decisão de ter ceifado os laços que a união.

Nos dias santos, Hana-ogi costumava ir a um templo budista que era conhecido como o Templo Silencioso, por não ter sino, e, uma noite a esmo, a famosa oiran liderou uma procissão de milhares de moças de Yoshiwara, carregando um sino de bronze para o templo... Este era o seu presente para os sacerdotes, que a percepção de todos da nação, eram ainda mais pobres do que a benfeitora.

Sua fama ascendeu a tal ponto que vinham homens dos mais remotos cantos do país, e até mesmo da China para ver aquela glória do Nihon personificada em forma de mulher. Poetas escreviam canções a seu respeito. Homens próximos ao Xogum iam conversar com ela, e os pintores, os gravadores que viviam junto a Yoshiwara, todos queriam retratá-la.

Durante todo o tempo em que os homens do palácio do Xogum e os pintores celebres passavam com Hana-ogi, o jovem enamorado de Odawara também estava ali bem próximo, longe dos olhos da turba que se aglomerava para estar com a sua amada, ele, contudo, estava a sondá-la. E numa primavera, quando as cerejeiras estavam a ponto de florir, ele a raptou, levando-a para longe das casas verdes.

Ninguém soube onde eles se esconderam. Nem se este amor foi suficiente para gerar filhos. No entanto, os anos discorreram e a casa de Ogi-wa entrou em declínio. Os pintores, os escultores, e os homens importantes já lá não mais freqüentavam. Os sacerdotes dos templos vizinhos já não recebiam presentes de Hana-ogi. Os retratos dela eram vendidos em grande quantidade, pois todo mundo queria uma recordação da mais bela mulher que o Japão produzira.

Então, um dia do qual ninguém se recorda, Hana-ogi retornou.

A famosa oiran tinha em seu semblante uma beleza espectral, pungente, admirável e ainda mais majestosa como no auge de sua convivência entre as demais oirans das Casas Verdes, sobretudo, para alguém que deveria ter pouco mais de quarenta anos, ela era a própria encarnação da beleza de uma manhã de primavera. A sua frente seguiam meninas carregando flores perfumadas em um singelo cortejo, arremessando pétalas ao ar e lançando sussurradas melodias que tocavam a todos por onde percorriam. Um ministro de estado caminhava orgulhoso atrás de Hana-ogi; dois Yorikis seguravam sombrinhas sobre a sua cabeça; ela trajava um deslumbrante quimono azul com ricos mantos cor violeta, e os geta em seus pés tinham mais de vinte e cinco centímetros de altura. Em cinco dias, os maiores artistas do Japão tinham reproduzidos magníficos retratos do seu triunfal regressar, onde ainda se pode ver neles a imponente procissão de uma mulher única regressando ao seu estranho mundo.