Bem-Vindo Errante Viajante

Do Olimpo trago a almejada chama, da qual sugiro dançarmos embriagados a sua volta, e quando assim for, sujiro arriscar tocá-la, pois, felizes os que dela se queimarem.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

RPG: Crônica de Mortais - No encalço do veneno, das serpentes e o antídoto para dor.

Uma bebida, por favor, uma dose caprichada...
Às vezes é somente isso que o seu corpo
precisa para abrir a mente,
pois, mais do que o necessário
você fica suscetível a outras surpresas,
algumas não tão refrescantes
quanto a dose deste refinado Whisky...

Madrugada de sábado, 13 de outubro de 2012.

Chegamos a cena do crime trajados com uniformes do F.B.I., e, senão, fosse por essa sacada de quem chefiava a operação, nós não teríamos ido tão além dos cordões de segurança. E, em se falando de chefe, quem já nos aguardava ávido por algumas informações era o Parckson. No semblante dele havia explicito uma interrogação seguida por três pontos de exclamação, pois, ele não era um tipo normal. Enfim, Eu e G. Sullivan nos juntamos aos demais do nosso grupo para fazer uma varredura do perímetro.

Eu confesso que há muito tempo não via nada tão estranho: o carro estava virado, com as rodas para cima, porém, a ação que o colocou daquela forma não foi o choque de outro veículo contra ele... Não havia sinais que implicassem isso! Com a jovem ainda estavam todos os documentos e dinheiro que ela portava ($500!). Ela tinha algumas leves escoriações no braço, mas nada além. Outro indicio estranho era de que ela havia corrido, dado que um dos pares de calçados se encontrava a metros de distâncias do corpo. Agora do quê ou de quem? Teria ela sozinha revirada o veículo de pouco mais de 2 toneladas? Comecei a entender o motivo pelo qual o chefe trazia na face uma necessidade urgente de respostas.

O fato é que nós precisávamos de respostas para aquele quebra-cabeça macabro, e, naquele momento os únicos capazes de trazerem luzes a treva de dúvidas em que nos encontrávamos eram os legistas e os peritos tecnológicos. Esse trabalho demandaria tempo, a equipe responsável pediu pelo menos oito horas, Parckson foi enfático em exigir respostas em até 4 horas, incluindo relatórios sobre a mesa dele. Tamanha pressão se justificava pelo fato de que em meses de investigação poderíamos estar lidando com a primeira vitima fatal do Fantasy.

Eu, G. Sullivan e demais colegas ficamos com a responsabilidade de levar as más notícias para a única parente de Jéssica Redford legalmente residente nos EUA, sua tia Solange Redford. Claramente a nossa incursão até a residência da tia era para obtermos maiores informações quanto a vitima, pois, nós tínhamos que encontrar um contato ou algo que nos levasse a alguma coisa concreta. Fizemos um primeiro contato anunciando a nossa visita.

Carl achou por bem antes de seguirmos para a residência da Sra. Redford nos munir de vestimentas e utensílios apropriados. Nós iriamos para o bairro de Palms, e a reputação do lugar não tem sido uma das melhores em anos, em função de constantes conflitos de gangues. Coletes pesados, armas não convencionais de grosso calibre, um destacamento com mais sete colegas preparados para o pior e um veículo diferenciado... Era madrugada, e ninguém portava uma chancela de boas-vindas do dono do lugar.

O meu sexto sentido para o perigo já havia piscado em singular prontidão quando ainda estávamos na cena do crime, precisamente no momento em que o colega Joe mencionou que a parenta residia no bairro de Palms. O normal daquele lugar é ter uns cinco homicídios na semana mencionados em jornais, e quando a coisa segue diferente disso, em silêncio, por exemplo, os distritos próximos devem se preparar para uma enxurrada de sangue. No 13.º sempre nos referíamos ao mesmo como Panela de Pressão, pois Los Angeles era um grande fogão, e aquele lugar era onde ardia a pior boca. Chegamos ao nosso destino, e não tardou para que olhares sombrios pousassem sobre nós.

A Sra. Redford residia no quarto andar de um pequeno prédio de quatro andares. Dividimo-nos em dois grupos, os que adentrariam o prédio e os que resguardariam a fuga, próximo ao veículo. Por mais cautelosos que fossemos, não tardou para que a nossa chegada chamasse a atenção de alguns moradores, porém, nada que gerasse um tratamento hostil, muito pelo contrário, um senhor, trajado com roupas de dormir e com uma escopeta em mãos nos escoltou até o apartamento de Solange.

Encontramos a Sra. Solange avida por informações referente a sobrinha, e, assim que ela nos viu permitiu a nossa entrada em seu pequeno apartamento.

Solange Redford.
Tia da Jéssica, e única parenta da vítima
residente no país. Há meses a sobrinha
havia abandonado o lar por envolvimento
em uma vida escusa que feriam os princípios
morais da Sra. Solange, uma imigrante
egal nos EUA que levava uma vida
difícil, porém, sem qualquer demérito
a sua índole.
Como dentre os colegas era o mais preparado para a situação de extrema emoção, eu fui quem reportei a senhora Redford a penosa notícia da perda de sua sobrinha. Ela desabou em lágrimas, porém, com as palavras certas a conduzi a um estado de recomposição que nos foi suficiente para fazermos uma averiguação no espaço, sem parecermos abusivos. De qualquer forma, o colega Joe já tinha na maga um mandato expedido por um Juiz, caso a minha abordagem falhasse. A Sra. Solange nos apresentou o quarto onde a Jéssica costumava ficar no tempo em que moravam juntas, e, por sinal, o mesmo foi mantido intacto desde a sua separação, talvez na expectativa de que um dia ela retornasse.

Conseguimos levantar algumas informações quanto a vitima, no entanto, o quarto nada pode acrescer ao que tanto almejávamos que eram contatos, nomes e lugares.

O quarto de Jéssica Redford nos apresentou o perfil de uma jovem modesta, assídua com a aparência e estudiosa, vários livros de biomédica e química. Ela tencionava seguir a mesma carreira profissional dos pais (doutores em biomédica), era órfã, havia perdido a mãe e o pai em um trágico acidente na Rússia, a sua única parente viva era a tia materna que vivia há anos nos EUA. A Sra. Solange acresceu ainda, que a separação da sobrinha ocorreu de forma conturbada, e em função da mudança de hábitos e comportamento de Jéssica, pois, meses antes de se separarem, a jovem havia se envolvido com alguns tipos desconhecidos que a fizeram adentrar no mundo das drogas e crimes.

Como não constatamos mais nada de relevante para a investigação no recinto da família Redford, e tínhamos uma questão protocolar de levar a tia até o necrotério para o reconhecimento (e liberação) do corpo da sobrinha, nós concluímos por bem nos adiantar daquele lugar periculoso. Na saída do edifício Carl e alguns colegas, que nos aguardavam do lado de fora próximo ao nosso veículo, já haviam deitado uns oito na calçada por precaução, a grande maioria desses jovens tinha passagem na polícia, mas como não cabia a nós esse tipo coisa, nós os liberamos assim que saímos, pois, a última coisa que queríamos para aquele fim de turno seria um tiroteio sem precedentes na Panela de Pressão.

No necrotério, entregamos a Sra. Solange aos cuidados de outra colega para a etapa mais dolorosa de sua vida: reconhecer o corpo de sua única sobrinha por parte de uma irmã que também jovem lhe foi tomada a vida em um ciclo agourento de acidentes trágicos.

No local, reencontrei um jovem conhecido e peculiar sujeito dos plantões, o Ernest Tompson. A nossa conversa de saudação foi breve, pois, a noite parecia seguir de forma interminável, e, ainda permanecia com mais dúvidas do que certezas a respeito do assassínio da jovem imigrante. De cara, Tom adiantou que o movimento no lugar desde a chegada do corpo da garota havia triplicado além do normal, que inclusive o Coronel Campbel esteve pessoalmente para averiguar a situação, e, ainda mencionou com jeito irônico que o capitão Parckson adentrou e se mesclou as sombras dos especialistas. O garoto teve curiosidade em saber quem era, pois, o rosto da vítima não lembrava nenhuma celebridade, mas infelizmente, por mais gente boa que fosse, Eu tive que deixa-lo com essa dúvida.

Peter Simith.
Legista do necrotério municipal de Los Angeles,
recém formado pela universidade da Califórnia.
É obcecado por seu serviço e tem como objetivo
torna-se um cientista especializado na área, algo
notório pela sua percepção e iniciativa ao tratar a
estranha substancia, que é a evidência concreta
da metanfetamina Fantasy.

Tom nos levou até o legista chefe da operação, seu nome era Peter Smith, um sujeito novo também, objetivo, que sem pompas nos recepcionou e nos conduziu até a sala onde se encontrava o corpo da jovem, a fim de precisar esclarecimentos diante da “peça de trabalho”. Nesse momento a Sra. Solange já havia passado pelo local e feito o reconhecimento da sobrinha.

Para nossa surpresa, Parckson já estava na sala fria sentado numa cadeira ao canto, com o semblante tenso e insaciável por informações. Nada diferente do habitual estado desde o nosso último encontro na cena do crime.

O Dr. Smith relatou o que havia identificado em relação as escoriações e o óbito, porém, os testes toxicológicos, aqueles que mais nos interessavam para chegarmos à fonte do problema, sobretudo, as substancias químicas utilizadas, não apontaram nada. Tal informação foi desconsoladora. No entanto, o legista intrigado com a nossa insistência e a notória decepção em nossos semblantes diante das informações apresentadas, mostrou a nós outro corpo, o cadáver de um indigente que havia sido encontrado na semana passada, e, que por ventura, apresentava características semelhantes a da jovem. Porém, mais importante do que a similaridade do óbito, foi o que o doutor encontrou no bolso da jaqueta que ele trajava: uma ampola com um líquido dentro.

O jovem doutor nos apresentou longe das vistas dos demais, em um laboratório a parte do convencional e modestamente equipado, algumas experiências que ele havia feito em suas cobaias com a substância encontrada com o indigente, e os resultados foram aterradores

Aquilo surpreendeu Parckson de tal forma, que por muito pouco ele não cobriu o legista de porradas, pois, aquilo tudo evidenciava o Fantasy e o seu poder letal, algo que durante meses o capitão e a sua equipe estiveram envolvidos minuciosamente. Coube a nós, Eu e G. Sullivam apaziguar os ânimos. Uma ideia do bêbado inveterado foi acatada pelo capitão, a de contratar imediatamente o Dr. Smith para nossa organização, pois, querendo ou não, ele com um pouco astúcia e boa vontade se colocou a frente de muitos outros que já caminhavam conosco.

Aquela notícia selou tão bem o nosso fim de expediente que o Parckson nos convidou para se distrair na boate Lewd Angels, do anfitrião Moe. Esse é o tipo de convite que nem Eu e G. Sullivan recusaríamos, pois, a casa tinha entretenimento mais do que suficiente em bebidas e mulheres para acolher os nossos corpos exaustos.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Cintilar de Devaneios - Da Apropriação Indébita do Paraíso.

Ilustração por Autor Desconhecido.
Aquele que Observa, Almeja e Luta.

Era uma vez, em uma terra muito distante daqui...

Havia um Líder Religioso que possuía para o exercício de sua atividade – esta sem fins lucrativos e com benesses a comunidade -, uma considerável porção de terras prósperas. Essas terras foram a ele designadas há muito tempo pelo império em função de seu propósito maior que consistia em resgatar homens da vilania, e delas (as terras) o Abade não poderia se abdicar jamais, pois, o decreto do imperador dispunha claramente que aquela área não era exclusiva do Monsenhor, mas de todas as pessoas que compunham a ordenação religiosa (o todo), e, que, portanto, se algum dia, a região não fosse mais quista por esse grupo e para essa finalidade, estas (produtivas terras) deveriam retornar aos domínios do império.

Durante anos a obra divina prosperou naquela região, na santa paz, e resgatando vidas de homens subjugados pela sociedade.

Próximo às terras afortunadas da obra divina, precisamente, ao lado, havia uma grande propriedade de um lorde. Terras essas também muito férteis, diga-se de passagem. O Príncipe daquela região era conhecido pelo seu espírito empreendedor, ganancioso e inescrupuloso. Cuja má fama dentre a turba dizia ser munido de uma língua afiada como uma lamina amolada, e que possuía tesouros de valores incalculáveis, sendo ambos, artifícios capazes de corromper as mais puras almas humanas do mundo.

A paz sessou quando o Príncipe ambicionou as terras prósperas da obra divina.

Por muitas vezes a figura desse Senhor Feudal foi caracterizada como a encarnação viva da divindade do mal pelo Líder Religioso e seus asseclas ao longo dos incontáveis cultos. Vigílias foram realizadas pelos fiéis. Jejuns de dias, semanas e até meses foram executados. Orações e mais orações foram proclamadas do silêncio dos jardins até as praças públicas em grandes cortejos. Sacrifícios foram ofertados a grande divindade para que a ganancia do Lorde se findasse.

A Assembleia se manteve fiel à causa. Eles oravam fervorosamente para que as peregrinações de negociação de paz do Monsenhor até o principado vizinho resultassem no fim do assédio, e até mesmo na queda do vil Príncipe.

Quando o Monsenhor foi ao encontro do Príncipe, ele sabia do perigo que enfrentaria, de que estaria se lançando a boca da besta. Por sua vez, ele clamou a grande divindade a investidura de poder necessária para se sair vitorioso nesse confronto. Porém, o lorde também tinha suas armas para afrontar a deidade e o avatar, pois, embora o primeiro fosse infinitamente poderoso, o outro, que era a sua ferramenta, era feito de carne, sangue, desproporcionalmente fraco e suscetível a queda. Por fim, o Líder Religioso teve a sua fé subjugada e aplacada pelo Inimigo. Ele se viu vislumbrado com os presentes ofertados pelo Príncipe, fatalmente ferido no cerne de suas convicções/princípios morais pela ganancia semeada em seu íntimo com doses homeopáticas de palavras envenenadas.

Dias depois do encontro com o Príncipe, o Monsenhor realizou um último culto nas terras prósperas da obra do divino diante de toda a Assembleia, imbuído de uma carapaça mágica ofertada pela própria divindade maligna que sustentava o Príncipe, de modo que não permitisse a nenhum outro perceber o mal que havia se instalado em sua alma. O Líder Religioso celebrou um culto do qual os homens mais viris se prostraram de joelhos ao chão derramando lágrimas copiosas, algo tão esplendoroso como os de costume, e, por fim, envio todas aquelas generosas almas de volta as suas casas.

No dia seguinte, os homens fortalecidos pela fé, em função do inominável culto realizado na noite anterior, retornaram para mais uma vez comungarem dessa experiência religiosa, todavia, a eles não foi permitida a entrada nas terras prósperas da obra do divino por decreto do Príncipe, e, a ainda, a mais funesta visão, que incidia na demolição por completo do Grande Templo. Um espaço majestoso edificado com grande esforço pelos devotos para se reunirem em adoração a sua divindade e a celebração da fraternidade constituída.

Esses homens, mulheres, idosos, crianças, e portadores de necessidades especiais, retornaram para os seus lares desconsolados. Com a fé abatida, sobretudo, por não perceberem dentre a grande turba moribunda, a presença daquele que deveria mantê-los unidos e fortalecidos, o Grande Líder Religioso. Aquele que com moral poderia lidera-los em uma cruzada mortal contra o Inimigo.

Os homens abaixo do Monsenhor tentaram sem êxito se aproximar do Príncipe na esperança de reconquistarem as suas terras, mas foram facilmente abatidos. Alguns desses foram comprados por valores insignificantes que não pagariam as ferraduras do corcel do Grande Lorde. E, houve também aqueles que buscaram a ajuda do Imperador, porém, mãos mais ardilosas chegaram muito antes a corte e resguardaram os imorais direitos do principado. Essa recorrência de resultados ruins nas batalhas que se seguiram fizeram com que os Homens de Boa Fé simplesmente aceitassem o fardo de uma guerra perdida, e, assim, migrassem para um outro lugar, uma região qualquer, a esmo nos cantos, menos desprovida e adversa do que um dia dispuseram com abundancia.

Não existe ainda um “final feliz” para esse conto, pois, os Homens de Boa Fé não se permitiram tão ansiada vitória.

Embora possa parecer um enredo de ficção mirabolante sem conotação com a realidade, pasmem, isso faz parte da história do bairro em que moro a quase três décadas.

Todos os moradores mais velhos do bairro conhecem a fundo o nome do Monsenhor e do Príncipe (ou a Princesa) em questão, assim como também sabem que nunca houve a intervenção de quaisquer divindades nessa guerra por terras, senão a submissão ao ego, aos caprichos humanos e aos interesses próprios. E que o mais triste nisso tudo é saber que muito pouco se fez, ou não se fez nada (verdade seja dita), no momento em que se deveria ter sido feito com retumbante estrondo/estardalhaço, e hoje, o deposto Líder Religioso segue longe das luzes da ribalta e dos holofotes, inspirando asseclas na sua faceta mais obscura e mesquinha... Onde acredito perdurar o principal legado do Príncipe sobre as demais gerações de Homens de Boa Fé: a fragilidade da mente e a complacência com o absurdo.

Sinceramente, Eu não tenho certeza se as minhas mãos terão a graça de escrever um desfecho bem-aventurado para este conto, mas segue aqui a minha necessidade em relatar um fato, e em tentar fazer a diferença, sobretudo, para as gerações vindouras.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Cintilar de Devaneios - A minha felicidade tem origem em você

Fecho os olhos e retorno a abri-los,
Tentando sem êxito desacreditar no fato:

Que a felicidade é um estado momentâneo,
Às vezes muito breve,
Dotada de uma brevidade tal,
Muito além do que possa imaginar ou compreender.

Que começa em um piscar de olhos,
E dissipa em um respirar ofegante, sem lógica.

Sem que tenha tempo para retê-la em um repentino afago.
E entender os meandros da genealogia do “se sentir feliz”.

Portanto, volta tempo, se possível for,
Pois, dói demais não vivenciar este entendimento,
E, ainda mais, prolonga-lo por tempo indeterminado,
Essa doce sensação de plenitude que somente a felicidade me traz.

Ilustração por Ródjer Goulart.