Bem-Vindo Errante Viajante

Do Olimpo trago a almejada chama, da qual sugiro dançarmos embriagados a sua volta, e quando assim for, sujiro arriscar tocá-la, pois, felizes os que dela se queimarem.

domingo, 26 de maio de 2013

RPG: Aventuras em Yrth - Ladrões de Corcéis Encantados - Vestígios de morte


Dia 05: 05/10/2110, Sobre a regência de Libra.

Pela manhã, os mercenários informaram a Francis Malgorr que a colina onde foram atacados no dia anterior continha vestígios da passagem de seus animais, assim como de outros que poderiam se tratar de seus captores. O velho ranger confirmou a informação verificando tais sinais, contudo, em virtude da presença de criaturas amaldiçoados, acreditou ser sensato a continuidade da busca por meio de um trajeto maior. Um caminho no qual eles não passariam pelo mesmo ponto onde o grupo foi atacado, mas circundando o local. O grupo de mercenários concordou.

Ao fazer o caminho mais longo adentrando as fronteiras do reino anão, o grupo encontrou um pequeno vilarejo gnomo, onde puderam sem muita dificuldade fazer algum comércio, sobretudo, com uma das montarias para aquisição de alguns equipamentos perdidos e alimentos necessários a viagem.

Próximo do final da tarde, o grupo encontrou em meio ao caminho que seguiam e as margens de um rio, um homem trajado com uma imponente armadura de placa. Aparentemente este cavaleiro estava a aguardar o seu belo alazão de tom castanho escuro brilhoso matar a sede em uma margem de águas calmas abaixo da sombra de uma frondosa árvore. Porém, ao avistá-los o cavaleiro se moveu em suas direções afirmando desejar o animal incomum que os acompanhava, o chocobo.

Ilustração por Autor Desconhecido.
Brunniel de Athuryan, Cavaleiro Paladino,
auxilio os mercenários com vitais informações
em relação a busca por Qualbaeshi em Zarak.
O grupo imediatamente manifestou vontade contrária aos anseios do estranho cavaleiro. Porém, o homem brandiu a espada na direção deles e os solicitou um teste de suas habilidades para provar a ele que o caminho que estavam a seguir, assim como o intento em defender o animal, era o correto a ser feito.

O primeiro a tomar iniciativa foi Marduk, que embora demonstrasse expressiva força e determinação em seu ataque com o machado de duas mãos, teve o golpe facilmente desvencilhado pela habilidade do oponente com a sua espada de lamina larga. Algo que fez com que o guerreiro oriundo dos gélidos picos nevados e de espírito forjado em campos de batalha se sentisse extremamente desgostoso, sobretudo, após os fatídicos e recorrentes eventos. Embora, houvesse perdido a disputa para o errante, o gigante tentou impor em uma árvore próxima à natureza de seu poder, que conseguiu com austeridade.

Logo em seguida, o cavaleiro chamou a Worean que se aproximasse e demonstrasse a ele as suas capacidades marciais. O meio filho de Rowsever não se fez de desentendido, prontamente retirou da bainha suas duas espadas herdadas de seu falecido guardião. Entretanto, por mais uma vez, o estranho em armadura demonstrou aos que estavam a assistir que seria necessário mais do que determinação para seguirem adiante.

Sem mais delongas, o próximo da ordem a ser testado era Adrien, O Caminhante, que ao contrário de todos os demais, e para surpresa do próprio cavaleiro, surpreendeu o seu desafiador com um ataque fulminante que se fosse finalizado, possivelmente encerraria por vez a trajetória do errante naquele mundo. E, bastou tal eficaz demonstração de habilidade para o paladino se dar por convencido e se apresentar ao grupo como Brunniel, além de assegurar a eles que não era de fato o seu interesse levar o animal, mas somente testa-los.

Como já estava prestes a anoitecer, Brunniel, achou por bem conduzir os viajantes para um local seguro, onde poderiam descansar por uma noite. Na oportunidade em que estiveram juntos em acampamento, o cavaleiro relatou que houve recentemente a passagem pelas montanhas de um grupo hostil formado por homens, gnolls e kobolds conduzindo um rebanho de chocobos amarelos que aparentavam estar demasiadamente assustados, e, de que se era a intenção do grupo alcança-los, que possivelmente o fariam em alguns dias, uma vez que, eles não seguiam em velocidade, apesar de demonstrarem nervosismo e pressa.


Dia 06: 06/10/2110, Sobre a regência de Libra.

Na manhã do dia seguinte os mercenários acordaram recuperados da fadiga do dia anterior, assim como também de quaisquer resquícios de ferimentos passados, e, animados por uma aura repleta de ótimas perspectivas da qual desconheciam a origem (Benção da Perseverança de Athuryan). Porém, já não estava com eles o cavaleiro errante que os guardou ao longo da noite, pois, embora houvesse demonstrado arrogância em um primeiro contato, o mesmo conseguiu provar ao grupo, por gestos posteriores, que a sua graça estava muito além de uma errônea primeira impressão.

Ilustração por Frank Frazetta.
Goblins Abomináveis ou Anões Degenerados
das Montanhas de Zarak.
Criaturas bestiais e hostis
que caçam em bando sobre as montanhas
quase tudo que se move
e que possa ser consumido.
No seguir do dia, os mercenários chegaram às margens de um pequeno desfiladeiro, onde com cautela se aproximaram atraídos pela curiosidade propiciada com o ouvir distante de ganidos de dor. O grupo observou vários corpos amontoados de kobolds, assim como um dois chocobos amarelos destroçados. Aparentemente os autores dessa carnificina eram criaturas humanoides de tamanho semelhante ao de gnomos, porém, com o corpo disforme - mais recurvado -, bruto, de feições horríveis e grotescas saídos das entranhas da terra. Elas se moviam com agilidade por pequenas fendas dispostas nos paredões que circundavam o local, e de lá desciam e subiam constantemente, atacando com sadismo as criaturas incapacitadas desfalecidas ao chão. A fim de não chamar a atenção dessas criaturas que pareciam agir em um bando grande, o grupo se deslocou do local com cautela.

O grupo decidiu por contornar a região inóspita para evitar os riscos de um confronto desnecessário com tais criaturas, mas sem perder o foco dos rastros.

Passado algum tempo em caminhada, o grupo foi surpreendido por um ataque mágico vindo do alto e pelas costas, que foi suficientemente capaz de projetar o gigante Marduk, que por pouco não foi ao chão. Algo muito rápido passou sobrevoando sobre as suas cabeças, e, não tardou para que eles pudessem avistar o atacante do alto de um rochedo disposto a frente, que se tratava de outro chocobo, porém, de plumagem de tom escura.

Malgorr alertou ao grupo que esse era um tipo de chocobo hostil, selvagem, e, que provavelmente havia atacado o grupo por estar invadindo o seu território. Como tentativa de amenizar a situação, o ranger solicitou que Millo se reportasse ao seu parente e pedisse passagem, sem maiores confusões. O animal além de lhes permitir a continuidade do caminho, informou que o bando ao qual procuravam não estava muito longe dali. Após, isso o animal alçou voo em direção ao céu e sumiu por entre as montanhas.

Antes dos mercenários na cia de Malgorr e Millo tencionassem seguir viagem, eles perceberam tardiamente que foram seguidos por um pequeno grupo de sete das criaturas avistadas momentos antes.

Um confronto do grupo com os Goblins Abomináveis foi iniciado naquele lugar. Contudo, o que parecia ser uma batalha em quantidades iguais de um por um, logo se revelou a Marduk um número ainda maior de inimigos ao se aproximar do caminho por onde as criaturas surgiram.


Ilustração por Nebezial
Marduk, Cold Hearted, teve de impor,
sem margem de dúvidas,
um temor descomunal
no âmago de seus inimigos,
A Worean, Adrien e Magorr coube liquidar os errantes que se lançaram ao encontro deles, sem ter o conhecimento daquilo que de fato os aguardava por de trás de alguns rochedos que circundavam o caminho. Ao Guerreiro Nômade coube uma tarefa ainda mais árdua que ceifar algumas vidas inimigas, pois, tinha certeza que se não intimidasse as demais criaturinhas com austera presença, um confronto direto com aquela quantidade poderia abreviar a existência deles sobre a terra, pois, as forças inimigas venceriam por meio do desgaste físico do grupo.

Embora tivesse sido atacado ao se aproximar dos inimigos, Marduk em nenhum momento se desconcentrou daquilo que deveria ser feito, e, para tanto, o gigante nômade foi impetuoso em seu ataque liquidando com facilidade a vida de um dos inimigos. Com rugidos, vociferando injurias, olhar feroz e um semblante desfiguradamente selvagem conseguiu abalar a moral do grupo de criaturas inimigas, que logo se viram compelidas a abandonar a empreitada e se refugiarem pelo caminho de onde vieram.

Algum tempo de viagem perfazendo o caminho onde estavam frescos os vestígios da passagem do grupo de ladrões liderados por Qualbaeshi, o grupo de mercenários da Guilda de Arvey encontrou uma pequena clareira entre as montanhas onde acreditaram ser seguro descansar até o amanhecer de um novo dia, embora acreditassem já não estarem muito distantes do inimigo.

Acampados no local, e passado algum tempo, alguns membros do grupo perceberam a presença de um alguém a observá-los por de trás de algumas rochas que protegiam o acampamento. Adrien, O Caminhante, preferiu não assustar o observador, mantendo-se alerta a qualquer iniciativa da parte deste. Contudo, Worean, ao contrário de seu companheiro de grupo, preferiu se antecipar a qualquer intensão hostil, e, assim, desapercebidamente, se afastou da presença e dos olhos do grupo na tentativa de emboscar o desconhecido.

Com sucesso, Worean conseguiu surpreender o estranho que os observava furtivamente. Ele estava aparentemente com uns ferimentos leves, armado com uma faca, e, que deixou cair penhasco abaixo assim que foi agarrado pelo braço. O homem tentou se explicar, mas o mercenário preferiu que ele desse as suas explicações para diante de todos do grupo, pois, senão, o lançaria dali mesmo em busca de sua faca para uma queda mortal. Sem mais questionamentos, o estranho foi conduzido para o acampamento ao encontro dos outros, onde relatou quem era e os motivos que o levaram até ali.

Ilustração por MKage.
Toshida Murashai, mercenário sahudense,
conseguiu escapar do acampamento
de Qualbaeshi, e, na busca por auxílio,
acabou trazendo notícias a respeito
do paradeiro das filhas de Malgorr.
O homem se apresentou como Tochida Murashai, e mencionou diante de Malgorr e os demais mercenários, que havia escapado do acampamento de um grupo de bandoleiros que o mantinha em cárcere, e que viajavam escoltando um grupo de animais semelhantes a Milo, o Chocobo. O grupo então percebeu que estavam lidando com alguém capaz de leva-los ao encontro de seu alvo, e, que parecia não faltar com a verdade, ainda que sob alguma leve desconfiança. Angustiado o velho ranger perguntou sobre a presença de duas jovens, e o moribundo, não hesitou em falar o nome de uma delas, Enorinna, pois, foi ela na companhia de outra (Brendda) que tratou as suas feridas aferidas pela truculência de seus captores.

Como maneira de recompensar a Tochida pelas informações, Malgorr pediu para que Milo curasse os ferimentos dele, que se viu impressionado pela habilidade mágica da criatura.

O grupo revezou ao longo da noite, confiantes que muito em breve estariam diante de seus inimigos, e prontos para receber das mãos de Lord Klauss Athoris a recompensa que lhes cabia.

domingo, 19 de maio de 2013

RPG: Aventuras em Yrth - Ladrões de Corcéis Encantados - Marduk, ColdHearted - Parte 1

Marduk, Coldhearted
Raça: Humano
Natural do Território Nômade (Continente de Ytarria).
Nascido sobre o signo de Libra
Ofício: Bárbaro Combatente

História do Personagem

Origem de um Espírito Gélido e Aguerrido.

Para as tribos bárbaras que habitam o Território Nômade, a Cordilheira dos Picos Nevados nunca foi tratada somente como uma muralha natural que limitam o seu reino com o império de Mégalos – como ainda assim observam erroneamente muitos cidadãos do império e de outros reinos -, muito pelo contrário, embora o subterrâneo seja governado por Thulin, o mais velho e poderoso dos reis anões de toda Ytarria, a superfície é um local anistiado aos demais seres, cujo séculos atrás foi selada uma aliança de trégua, e, tempos depois, fortalecida quando sobre as montanhas fracassaram funestamente as invasões de legiões do império ao território.

Ilustração por Frank Hong.
A Cordilheira dos Picos Nevadas, um dos locais mais temidos e inóspitos de Ytarria, e, terra natal de Marduk Coldhearted.

A região sobre a Cordilheira dos Picos Nevados consegue ser ainda mais hostil que a grande maioria do Território Nômade. O local também é denominado por alguns nômades como Degraus para Niflheim, o lendário mundo de gelo presenta na religião dos mais antigos, onde governam soberanos Anões e Gigantes, mas também é conhecido como Inferno Gélido (Hell Frost) ou Deserto Branco (White Desert).

Antes das invasões das legiões megalanas, algumas das tribos nômades que habitavam a região eram tidas pelas demais como as Deserdadas do grande Território Nômade, que em sua grande maioria foram forçadas pelas outras a um exílio por tempo indeterminado sobre a inóspita região. No entanto, nem todos os clãs que habitam as montanhas são Deserdados, alguns deles são grupos oriundos da Primeira Travessia. 

A Primeira Travessia é marcada pela chegada dos primeiros humanos tragados da Terra pelo evento Cataclismo, e que tinham necessidade de vasculhar a continente a procura de um local que se assemelhasse as condições de terreno, vegetação e clima de suas localidades natais, a fim de lhes propiciarem uma sobrevida além de suas expectativas em uma região até então desconhecida, e, assim ela é denominada justamente pela épica travessia desses desbravadores entre a Cordilheira dos Picos Nevados até o atual Território Nõmade.

Alguns clãs se habituaram a hostilidade da Cordilheira dos Picos Nevados de tal forma, que tempos depois retornaram ao lugar para sobreviverem aquele rigor desmedido e capaz de testá-los diariamente; Em contrapartida, alguns desbravadores que atravessaram as montanhas jamais retornaram a fazê-lo, e, alguns de seus descendentes também nunca tiveram a intensão de se lançar em tal empreitada, tendo qualquer desejo aspirado imediatamente pela simples lembrança da audição de tristes canções e trovas que narram àqueles tempos idos quando ainda crianças.

Pouquíssimos foram os clãs Deserdados que conseguiram conquistar algum mérito sobre os Picos Nevados - e que ainda o é até os dias atuais -, pois, em suma, boa parte deles quando sobem as montanhas sob a condição de exilados são tidos pelos que ali já estão como páreas, e, tendem a ser ignorados, subjugados, capturados, escravizados ou rechaçados. Os clãs permanentes quando ignoram ou subjugam a presença de tribos deserdadas, costumam assistir a sua fatídica sobrevivência sobre as montanhas, e, em suas libações enaltecer o triunfo dos seus sobre a força da natureza.


Honorável são os teus antepassados, que brandiram pujantes espadas diante de agourentos presságios de batalhas.

Gilgamesh IcyBreath era um guerreiro descendente direto dos primeiros desbravadores que se habituaram a dura vida sobre os Degraus para Niflheim. Ainda muito novo perdeu os seus pais. Ambos foram assassinados durante um ataque surpresa efetuado pelo Clã de Aggios Panzer, um grupo de deserdados que vinha adquirindo ascensão sobre a cordilheira após alguns meses de sobrevida na região, contudo, coube ao tio de Gilgamesh, Honnor IcyFists tingir de rubro a neve abaixo de seus pés com o sangue dos inimigos. Honnor foi implacável em sua sede de vingança contra Aggios e seu bando. Tamanha determinação rendeu a ele inúmeras trovas, muitas delas capazes de gelar a espinha dos mais fortes e fazer titubear o pensamento dos mais sábios em suas reflexões.

A Vingança Gélida de Honnor

Um irmão morto não descerá a Niflheim sem que os seus algozes partam em fulminante desespero para suplicarem de joelhos e em coro uníssono a sua ascensão ao Valhalla, diretamente aos pés de Hel, Senhora Soberana sobre o Mundo da Neblina. E, nem que para isso, um pacto de vida e morte fosse selado com a própria rainha.

E, naquele dia, não somente os punhos Honnor se tornaram gélidos por completo, mas também os seus braços, pernas, tronco, e cabeça. Das unhas do pé até a última ponta dos pelos de seu corpo se fizeram gelo sob a benção de Hel, para que ele pudesse percorrer os degraus sem que tormentos humanos o afligissem em sua campanha sanguinária.

Em três dias ele caminhou como um espírito de vingança sobre as montanhas. O seu olhar era de morte agourenta. O seu hálito era gélido como o de um vento sombrio emanado das profundezas de Niflheim. A sua pele e o seu odor se assemelhavam a de um cadáver. E, a sua voz era a mescla pavorosa de uns cem espíritos enfurecidos a vociferar injuriosos.

Quando a morte chegou ao clã de Aggios Panzer ela veio como um vento gélido cortante entre as montanhas. Antes que os guerreiros pudessem tomar suas armas sobre o presságio de morte daquele vento uivante, os corpos dos mesmos já estavam jazidos sobre o chão, sem vida e dilacerados brutalmente, tal como corpos a serem estraçalhados pela boca de um imenso lobo faminto. Ninguém foi poupado da irá daquela vingança desmedida, todos foram sacrificados em honra de Hel pelos punhos gélidos de Honnor.


Ilustração por Isidore.
Honnor IcyFists, Guerreiro
que vive sobre os Degraus de Niflheim
,
 e que pactuou com Hel
um sanguinário desejo de vingança
pela morte de seu irmão (pai de Gilgamesh).
Honnor IcyFists teve a sua vingança, contudo, o pacto que ele fez com a rainha de Niflheim teve um preço além do esperado. Após a sua campanha, o guerreiro nunca mais foi o mesmo. A sua pele permaneceu com aquele aspecto cadavérico, pálida e acinzentada. Os seus cabelos e barbas ficaram brancos, feito a mais densa neve, O seu olhar tornou-se cinza e opaco, sem qualquer referência de vida. A sua voz adquiriu um ranger sombrio. E, por fim, nada era mais aterrador que o seu próprio desapego à vida e a humanidade, pois, quase tudo se resumia a batalhas e mortes.

Em um primeiro instante, Gilgamesh, assim como muitos outros de seu clã, se viram vingados pela atitude do tio, contudo, o tempo lhes ensinou o quanto aquilo lhes custaria, pois, ao retornar de sua jornada sangrenta, ele almejou a liderança do clã, e o que foi concedida a ele sem o rito habitual de passagem. E, seus dias como líder foram marcados por constantes guerras com outros clãs, batalhas que se justificavam apenas pelo desejo impetuoso de mais sangue e morte.

Honnor foi morto pelo gigante do gelo, Collus Gramalt, após ter matado o irmão dele, Otus. Embora, Honnor detivesse algum laço de amizade com Otus, a mesma sessou quando ele tomou conhecimento de que o gigante havia dado passagem em seu território para um clã de deserdados. IcyFists, juntamente com mais alguns combatentes, emboscou o gigante de gelo em sua caverna, e o chacinou friamente. Tempos depois, o contrário se sucedeu, porém, Collus arremessou sobre o acampamento do clã em direção a barraca de Honnor um imenso rochedo durante uma nevasca.

Alguns membros do clã desejavam vingança pela vida de Honnor, sobretudo, Gilgamesh IcyBreath, sobrinho do líder, porém, tantas inimizades colhidas ao longo da liderança do tio fizeram com que o grupo se decidisse por voltar a sua atenção para batalhas que se precipitavam contra outros clãs. Todavia, Collus Gramalt, não era qualquer gigante do gelo a qual gostariam de ter como inimigo, pois, ele era o mais temido e poderoso dentre os seus, uma lenda viva, capaz de lançar arpões de raios de suas mãos e invocar das entranhas das montanhas a primeira linha de guerreiros anões de Thulin.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

RPG: Aventuras em Yrth - Ladrões de Corcéis Encantados - Um urso por vez


Dia 03: 03/10/2110, Sobre a regência de Libra.

A passagem da noite foi tranquila para Adrien e Marduk, que preferiram descansar despreocupadamente. Ao contrário de Worean, que na companhia de um estranho de índole duvidosa, preferiu se manter em prontidão, mesmo que isso lhe custasse o prazer de um merecido descanso.

Embora, um clima de desconfiança pairasse sobre o estranho companheiro de quarto na guilda, o dia amanheceu, e, nada de calamitoso aconteceu. Não tardou para que Luca Benedino surgisse a porta para sutilmente inspecionar o local, solicitando que os mercenários se pusessem de pé, e começassem a se aprontar para a partida.

Os mercenários acharam por bem manter Pericles Fant amordaçado enquanto estivesse próximo a eles. O ladino por sua vez, achou aquilo ultrajante e insensato, pois, ele tinha certeza de que seus companheiros não o conheciam para tomar tal julgamento, conquanto eles houvessem citado no dia anterior e o inquirido quanto ao recente crime ocorrido dias atrás em local distante dali, e, que de fato, esteve envolvido, mas que, naquele momento era sensato negar até onde a sua vida não corresse risco. Enfim, a sua condição de prisioneiro dentro da guilda o deixou bastante incomodado, logo, começou a brandir injurias contra tudo e todos para requerer liberdade, mas o máximo que conseguiu foi ser nocauteado com um murro de seus anfitriões.

Antes da partida da Guilda, Luca Benedino lhes deu orientações para seguirem até o vilarejo de Caballeros de Drawin, que ficava a aproximadamente cinco dias de viagem em direção nordeste da cidade e Arvey, e que no local deveriam procurar por Francis Malgorr, o criador e treinador de Chocobos, pois, era ele o amigo de Lorde Klauss Athoris que requisitava auxílio no sequestro das filhas e dos animais de sua fazenda.

O Grão Mestre cedeu a eles para essa viagem:

  • 4 Cavalos;
  • 1 Jumento;
  • 3 Rações/Diárias por 10 dias de viagem;
  • 2 Rações para Animais/Diárias por 10 dias de viagem;


Benedino acresceu ainda aos mercenários as suas suspeitas quanto a história relatada por Pericles Fant, pois, algo em seu intimo lhe dizia que aquele homem estava a esconder alguma coisa sombria, e, que isso talvez tivesse haver com os eventos aos quais eles estavam prestes a se lançar. No mais, caso fosse apenas um falso presságio, o larápio poderia ser abandonado em qualquer ponto da estrada a qualquer momento da viagem, pois, esse homem a mais na viagem seria significativamente mais um peso a ser carregado, alguém para partilhar as recompensas, a ser protegido em combate pelo seu aspecto doentio, e uma boca a ser saciada, com comida, vinho e fumo,

Os mercenários acharam por bem levar Pericles com eles, amordaçado sobre o lombo de uma das montarias, e sob as suas vistas.

O sol estava auto quando Pericles recobrou a consciência, e, não tardou para que ele retornasse a manifestar em tom elevado a maneira desrespeitosa como estava sendo tratado pelos mercenários.

Ilustração por Nebezial.
Marduk, O Coração de Gelo,
confiou na capacidade de seus companheiros
 para capturar o fugitivo, enquanto,
se pôs a apreciar solitário
o sagrado momento de refeição.
Dentre os três, somente Adrien, o meio elfo, era favorável a liberdade do prisioneiro. Contudo, Worean, era o primeiro a mantê-lo preso e sob guarda até que o mesmo resolvesse falar aquilo do qual suspeitavam. Tal impasse, fez com que o grupo se apressasse em parar para descansar os animais, se alimentar e debater o assunto com mais calma em um almoço. E, assim o fizeram. Entretanto, enquanto conversavam sobre como lidariam com Pericles, o mesmo se aproveitou da distração do trio para se desvencilhar das amarras que o mantinham preso, e, furtivamente, escapar.

O grupo percebeu Pericles em fuga, correndo entre a mata baixa e a saltar alguns obstáculos obscurecidos. Não hesitaram Adrien e Worean, partiram em seu encalço, porém, a cavalo. Marduk preferiu não forçar a sua montaria e nem estragar o momento de sua refeição, portanto, creditou aos companheiros a certeza de que capturariam o fugitivo.

Quando Pericles estava próximo de ser alcançado por seus captores que se aproximavam com velocidade tamanha, o mesmo conseguiu se safar por uma encosta íngreme, deslizando com destreza sobre a parede solida e areenta. Ao se aproximarem do anunciado declive, os cavalos hesitaram, e, nesse momento, Adrien e Worean se lançaram na continuidade da busca a pé, e, se lançaram destemidos no mesmo trajeto do larápio, pois, a frente um pequeno bosque os aguardava para tornar aquela tarefa de captura ainda mais complexa.

Adrien teve a oportunidade de se lançar sobre Pericles enquanto cruzava próximo a ele, contudo, por muito pouco o meio elfo falhou em sua investida, e, ficou a comer poeira. Worean que vinha logo atrás o ultrapassou, mas já era tarde, pois, o ladino havia adentrado o bosque de vegetação não muito fechada, e se escondido.

Worean e Adrien ficaram a perscrutar o bosque em busca do fugitivo, cada qual em um canto, porém, o tempo passou e nem um sinal de Pericles. No entanto, Worean conseguiu achar algo mais que um franzino gatuno fugitivo: um feroz urso pardo! O guerreiro megalano não hesitou em fugir de um combate desnecessário contra aquela fera, logo, buscou nas mediações uma árvore na qual pudesse escalar e aguardar do alto da copa a desistência do animal. Adrien, o caminhante, por sua vez, percebeu o risco em que o companheiro se encontrava, e, se lançou novamente, em uma proeza mortal, agora em auxilio daquele que o menosprezava.

Ilustração por Adam Antaloczy.
Um feroz urso pardo surge
em meio ao bosque durante a busca
pelo fugitivo, Pericles Fant.
Por muito pouco Worean não foi atingido por um ataque lateral da fera, que se erguia a quase dois metros e trinta de altura com uma violência aterradora sobre ele. Enquanto, o guerreiro ganhava fuga de seu atacante, Adrien partia sobre a besta em um ataque total munido de suas duas armas. O Meio Eflo atingiu o urso com dois ótimos golpes, porém, isto não foi suficiente para poupa-lo de uma fúria selvagem, que no momento em que sentiria na pele a peso de garras furiosas, a fera foi surpreendida pela repentina aparição de Pericles. O ladino se lançou sobre a besta em um encontrão, fazendo-a vacilar e ir ao chão.

Adrien não perdeu tempo diante da oportunidade surgida inesperadamente das sombras, e, mais uma vez atacou a criatura com golpes que culminaram na morte do animal.

Ainda que, a sua ajuda não tenha sido devidamente reconhecida pelo Meio Elfo, que seria facilmente dilacerado pela criatura, Pericles concordou retornar junto com os dois mercenários ao acampamento, desde que não fosse tratado como um prisioneiro pelo grupo. Worean e Adrien concordaram com tal pedido, sobretudo, o caminhante.

Ilustração por Iuccy Chiara Piunno.
Adrien, O Caminhante, que se provou um temerário
ao se lançar ferozmente contra uma grande fera
para “salvar” a vida de um companheiro.
No âmago de seu raciocínio, o Caminhante, sabia que se o larápio não intervisse no ataque da besta, provavelmente ele era quem estaria desfalecido ao chão sendo destroçado por uma boca sedenta por sangue, mas ele não estava propenso a engolir o orgulho e admitir isto, principalmente, após ter se elevado diante de Worean, salvando a sua pele.

Antes de partir daquele bosque, Worean e Pericles retiram algumas partes do animal que podem utilizar em uma refeição, assim como uma das patas para provarem a Marduk a aventura da qual abdicou. 

Tempos depois, já em cavalgada rumo a nordeste de Arvey, Marduk acreditou ser sensato revelar a Pericles a empreitada na qual eles e os companheiros de Guilda estavam se lançando, e, que se o Especialista em Fugas estivesse disposto a partilhar de seu conhecimento sobre o assunto, assim como, os seus talentos, as recompensas também poderiam ser compartilhadas com ele. Para aguçar o interesse de Pericles Fant, o bárbaro citou as cifras que os aguardavam no caso de uma missão bem sucedida.

Pericles Fant se surpreendeu com o valor da recompensa, contudo, tentou demonstrar imparcialidade, e, ainda, negociar o valor de sua recompensa. Não obteve êxito nessa última argumentação, assim como também, não conseguiu persuadir Adrien com suas estórias a respeito dos eventos que o colocaram no caminho dos mercenários. Por fim, ele acabou cedendo aos seus impulsos genuínos de obter lucro e vingança. Revelou aos novos companheiros de empreitada os perigos que os aguardavam, e, sobretudo, o nome do inimigo, Qualbaesh StinkDog. Avisou da direção para qual o inimigo seguia (Sahud, por meio dos Reinos Anões) e na companhia de quem: kobolds, gnolls e uma medonha fera munida de poderosas garras capazes de dividir um homem ao meio em um único ataque!

O grupo ficou tentado em subir as montanhas em direção a rota feita por Qualbaesh, ponderando as palavras de Pericles Fant ao longo do resto do dia, porém, concluiu ser mais sensato manter o caminho em direção a Caballeros de Drawin, ao encontro do amigo de Lorde Klaus Athoris.


Dia 04: 04/10/2110, Sobre a regência de Libra.

Em viagem ao longo do dia os mercenários encontram Rafael, o feirante que havia recolhido Pericles Fant e o conduzido até a Guilda de Mercenários de Arvey. Pericles agradece ao comerciante a ajuda prestada. O grupo faz algumas perguntas ao mercador, mas nada de relevante é mencionado, além do local onde o ladino foi encontrado desfalecido inconsciente.

Próximo ao término do dia, o grupo tem o caminho atravessado pela passagem de um bando de hienas trazendo ossadas humanas a boca, vindo de um caminho paralelo ao deles e mais estreito, próximo aos paredões das Montanhas de Bronze. Aquilo soou suspeito ao grupo de mercenários que resolveu averiguar, sobretudo, mediante as informações dispostas até então a respeito de um sangrento combate, que com muita sorte Pericles saiu vivo.


Quanto mais se aproximavam do local, maior era o odor de carniça podre, assim, como a presença de criaturas carniceiras como abutres e algumas poucas hienas remanescentes do bando anterior.


Ilustração por Simon Bisley.
Um grupo de amaldiçoados espectros
oriundos do ataque de dias atrás sobre a colina
surge para terror dos mercenários.
O grupo ao se aproximar do local para averiguá-lo com cuidado percebeu tardiamente que não estava só. Criaturas humanoides translúcidas e de aparência sofrível, das quais os mercenários aparentemente desconheciam a origem, surgiram em meio ao bando de abutres e hienas que estavam a se alimentar sem afugentá-los, e, ainda, transpassando-os sem dificuldade como senão estivessem ali, movendo-se em direção ao grupo, em uma caminhada vagarosa e sobrenatural.

Marduk, por nunca em sua vida ter estado frente a frente com um espectro, foi surpreendido funestamente por aquela visão mórbida e incomum, de tal forma, que o horror provocado pela mesma no âmago do gigante foi capaz de desnortear a mente, atordoando-o ao ponto de lança-lo ao chão desmaiado. Nesse momento, a sua montaria se viu livre e apta a se debandar das proximidades levando consigo seus equipamentos pessoais e a sua arma – o seu poderoso machado de duas mãos -, enquanto que os demais companheiros de grupo, além dos espectros, agora também passavam a tê-lo como um empecilho em qualquer tentativa de fuga rápida.

Adrien tentou deferir um golpe com a sua espada em um dos espectros, contudo, o ataque foi em vão. A arma do meio-elfo transpassou a criatura sem causar aparentemente nenhum tipo de dano a mesma. Embora tenha dividido a criatura em dois na passagem de sua lâmina, logo em seguida, a mesma se recompôs sem dificuldade.

O grupo tentou manter-se próximo enquanto as criaturas avançavam sobre eles.

Um homem que montava um animal que mais se assemelhava a um grande galo de plumagem amarelada, e, que por ventura, percorria em sentido oposto o caminho estreito o qual o grupo perfazia, avistou-os, e, percebendo o perigo que corriam no alto daquela colina ao enfrentar aquelas criaturas, imediatamente gritou para que eles saíssem daquele lugar. O Grupo percebeu a sua presença e o seu apelo.

Worean lembrou-se do frasco entregue em mãos por um dos religiosos que caminhava em procissão no dia anterior. E, antes que as criaturas atacassem o grupo, o guerreiro megalano aspergiu parte do liquido sobre aquela que estava mais a frente, e, dentro de seu alcance, e, ao fazê-lo, imediatamente a malévola assombração dissipou em uma nuvem de fumaça asquerosa. Os demais espectros ao perceberem o ataque com água benta se sentiram compelidos a recuar.

O grupo de mercenários assistiu o bando de espectros retornarem aflitos e revoltos para abaixo da terra, ainda que parcialmente, pois, ficaram a observar os inimigos somente com as cabeças postas para fora. Os homens enviados por Luca Benedino conseguiram ganhar tempo suficiente para tentar raciocinar e colocar em pratica um plano para ajudar o companheiro tombado em combate, Marduk.

Pericles e Adrien amarraram pelos pés o pesado guerreiro nômade junto à montaria do Meio Elfo, uma vez que, a tentativa de coloca-lo sobre o animal somente arruinaria a possibilidade de uma fuga no tempo mais breve possível. Aquela era uma medida arriscada e emergente, portanto, eles tentaram proteger o companheiro com alguns itens que pudessem amortizar os atritos ao longo do percurso.

As criaturas fantasmagóricas retornaram a investir contra o grupo de mercenários, erguendo-se do chão em direção a eles por mais uma vez. 

O grupo partiu em retirada da colina amaldiçoada. No entanto, os constantes solavancos provocados pela irregularidade do terreno e a velocidade com a qual o animal era conduzido pelo Meio Elfo, ainda que com a cabeça parcialmente protegido, fizeram com que o gigante recobrasse a consciência. Assustado com aquilo, sobretudo, ao perceber que as pernas estavam amarradas e que o corpo estava sendo puxado literalmente ladeira abaixo, como em um impulso sobre-humano pela manutenção da vida, Marduk lançou o corpo para frente, e, com os braços agarrou a corda que o prendia. O próximo ato do austero combatente foi ainda mais violento: ele tentou frear o animal o puxando para trás, e, conseguiu! Contudo, isso resultou em um incidente ainda maior, pois, Adrien foi arremessado para frente com o movimento abrupto, e, o cavalo para trás caindo parcialmente sobre o nômade. Tal pancada por mais uma vez deixou o guerreiro desacordado, e, agora no limite de sua existência em Midgard.

Rapidamente Worean e Pericles foram acudir o companheiro Marduk. Adrien, apesar do tombo, não se feriu tanto, ao contrário de sua montaria, que ficou muito machucada. E, por mais uma vez, eles ergueram o corpo do gigante e o colocaram sobre o lombo do único animal suficientemente capaz de sustenta-lo, porém, sem forçar o seu trote. Eles seguem em direção a estrada de encontro ao homem que os alertou quanto ao perigo que corriam no alto da colina.


Ilustração por Leopard.
Francis Malgorr, o homem que oportunamente
auxiliou o seu grupo de mercenários contratados
em um momento funesto sem conhecê-los.
A montaria incomum e o semblante do velho reconhecido por Pericles, e, logo, alertado disfarçadamente aos companheiros, fizeram com que os mercenários se apresentassem como enviados por Lord Klaus Athoris em seu auxílio, sem mais delongas. Francis Malgorr, com a face ainda um pouco machucada pela surra que levará de Qualbaeshi dias atrás, não duvidou das palavras daqueles que ajudou momentos atrás. Para tanto, solicitou que eles os acompanhassem em retorno ao caminho que fazia antes do oportuno encontro, até um local onde poderiam passar a noite em segurança.

Os mercenários na companhia de Malgorr chegaram a uma pequena colina não muito distante da estrada, onde antes de montarem suas barracas, o velho ranger julgou necessário fazer um círculo de proteção para proteger a área em que repousariam ao longo da noite, sobretudo, para manter distantes os mortos-vivos que costumavam perambular pela região a procura de desatentas vitimas.

Aprontado o acampamento, Malgorr percebe que um dos mercenários está desacordado e muito ferido, para isso solicita a Millo, o Chocobo, que o cure. E, pela primeira vez, os mercenários presenciam o lendário animal executar uma cura.


Ilustração por Square.
Millo, O Chocobo Amarelo de Malgorr,
que por meio de sua habilidade inata de cura
consegue socorrer os mercenários
de seus ferimentos mortais.
As plumas que encobrem o corpo de Milo brilham em um tom dourado, e, em um movimento de bater de asas abruptas, algumas de suas penas brilhosas se desprendem caindo sobre o corpo do guerreiro que se encontra próximo a ele, para logo em seguida, estourar sutilmente como se fossem pequenas bolhas de espuma. Após o efeito mágico, não tardou para que o gigante recobrasse a consciência, ainda sentindo um pouco de dor atrás de sua cabeça e outras partes, sobretudo, onde o cavalo o atingiu.

Os companheiros de Marduk o colocaram a par dos fatos, porém, isto soou em seu íntimo como algo extremamente desgostoso, principalmente, para um homem nascido em um leito de guerra, sangue, pilhagem e nervos a flor da pele. Tal sentimento de angustia somado às lembranças funestas com as criaturas amaldiçoadas fez com que o nômade tivesse uma péssima noite de descanso.

Malgorr antes de se deitar falou aos mercenários o que havia lhe sucedido dias passados em sua fazenda, como foi enganado e roubado por Qualbaeshi. E, principalmente, que era de seu interesse maior resgatar as suas filhas com vida, pois, eram para ele o seu bem mais precioso.

terça-feira, 7 de maio de 2013

RPG: Aventuras em Yrth - Ladrões de Corcéis Encantados - Worean, O Vingativo - Parte 3


Eis que atravessarei um mar de sangue se preciso for para ter a minha vingança.

Com os seus já vinte anos de idade, Worean pela primeira vez em anos, inquiriu o velho Jhon Rowsever a respeito do que havia acontecido aos assassinos de sua família, eis que ouviu dele:

“Worean, ainda que nunca tenhamos chegado aos assassinos de sua família, isto é, levados a julgamento, não tenho dúvidas que até onde acompanhei, o crime foi motivado por alguém que era opositor aos interesses de seus pais e tios, sejam lá quais fossem esses interesses. Porém, esse alguém não era um qualquer de nossa sociedade, era um tipo abastado o suficiente para contratar assassinas vindos de outro extremo de nosso continente, do Reino de Sahud”.

Rowsever já não podia deter o espírito vingativo de Worean, pois, o rapaz ansiava feito um lobo faminto o sangue dos algozes de sua família. E, o velho comandante sabia que muito do que havia se perdido lá trás foi justamente pelo seu afastamento da frente das investigações, provavelmente, propiciada pela articulação de algum nobre que estivesse envolvido até o pescoço nesse crime.

Antes que Worean partisse em sua caçada para Myrgan, Rowsever o levou até um saguão especial de sua casa, onde mantinha devidamente organizadas e lustrosas, armas e armaduras que fizeram parte de sua história enquanto combatente, para entregar em mãos, duas espadas.

“Worean, um dia Eu entrei em seu caminho e o impedi que morresse em meio as cinzas de seus pais, comovido pela tragédia que havia se sucedido em sua vida, gostaria de poder ter sido a mão de Deus capaz de amparar positivamente a trajetória de sua vida.... Hoje não serei Eu a impedi-lo de seguir o caminho de justiça que almeja em memória de seus familiares, contudo, espero que compreenda que você vive sobre a lei dos homens, queira você sim ou não, portanto, o que fizer, faça consciente que responderá por tal ato. Prometa a mim, que nunca ceifará a vida de um inocente com essas armas, filho?”.

Worean tentou compreender as palavras de Rowsever, e, fez a ele a promessa de que não usaria as espadas para tirar a vida de nenhum inocente. Os dois se abraçaram pela última vez, com lágrimas nos olhos, e cada qual seguiu o seu caminho.


Sangue vai correr sangue até que no horizonte se resplandeça a glória.

De volta ao condado de Myrgan, Worean encontrou um lugar que já não lhe era familiar, muito havia mudado em tantos anos afastado, salvo algumas famílias que se remanesciam no poder da sociedade local. A quantidade de homens e mulheres oriundas de Sahud também era incompreensível, algo em torno de dois cidadãos megalanos para um sahudense.

Worean buscou se aproximar da antiga fazenda de sua família e da fazenda de seus tios Mancinnos, e sem se identificar, ficou sabendo que ambas as propriedades pertenciam a outros que adquiriram meses depois do crime. Não havia mais frondosas parreiras de uvas, morangos e amoras, mas um vasto pasto de criação de merinos negros, ovelhas, cabras e bodes. E, o senhor daquelas terras era um mercador de Sahud. As pessoas da região sabiam também muito pouco a seu respeito, que rumo havia tomado. Muitas delas acreditavam que havia se tornado escudeiro de Rowsever, assim que o mesmo ascendeu ao posto de Cavaleiro Dragão do Império. Chegou inclusive ouvir de que havia morrido ainda muito cedo vitimado por uma depressão profunda... De certa forma, as informações contraditórias que encontrou em maio aos populares o favoreceram, ou seja, ele estaria longe demais para ser o responsável pelos assassinatos quando o sangue começasse a correr ladeira abaixo.

Ilustração por Yngvar
Walsham, Grão Mestre
 da Guilda de Mercadores de Myrgan
no tempo do assassínio dos Mancinnos.
Ele passou pelo menos seis anos sob o disfarce de Woffgan Cortez de Mehan, trabalhando em hospedarias e tabernas, recolhendo todo o tipo de informação que pudesse coloca-lo na trilha de seus inimigos. E não tardou para que as informações consistentes chegassem a ele, sobretudo, quando as bocas têm sede e os bolsos são gananciosos, pois, geralmente, essas não são prudentes em relação a fonte que lhes entope. Desta forma, os nomes foram surgindo como em um abrir de cortinas, e, para sombrio espanto dele, a sua família foi assassinada de maneira indireta, pois, o alvo era o tio Otto Mancinno que havia dado força a rebelião da guilda mercantil, na época liderada por Walsham, o grão mestre. Embora houvesse mais famílias nobres ligadas a insurreição dos mercadores, o Visconde Rufos Hostilius, não quis ceifar todas para não gerar uma balbúrdia em seu governo, portanto, buscou entre as famílias aquelas com as quais tinha mais desafeições (menos afinidade, por assim dizer), e, dentre elas estavam, os Mancinnos.

Worean levantou o nome de todos aqueles que estavam vinculados ao antigo visconde, e, em semanas partiu para sua caminhada sangrenta por entre becos, vielas e campos arados do condado. Sabia que tinha que ser rápido naquela vingança, pois, não tardaria para que os antigos aliados de Rufos Hostilius se erguessem das sombras para persuadi-lo a parar. Contudo, ele procurou fazer de maneira cautelosa e sensata, buscando não levantar suspeitas.

A família Hostilius, assim como os seus asseclas, já não tinha o prestígio de outrora, portanto, não houve tamanha dificuldade em se aproximar dela. No entanto, ao assassinar alguns de seus membros ele trouxe para a cidade a atenção do império, o que para seus inimigos (e antigos aliados da família dizimada) foi um terrível golpe. Worean ao perceber o clima hostil que a cidade tomava, sobretudo, com o burburinho entre os populares de que se aproximava a chegada de uma legião megalana para averiguação dos fatos, ele tratou logo de abandonar a cidade.

Ilustração por Sakimichan
Worean, O Mercenário,
cujo propósito maior é vingar a morte
de seus pais e de seu tutor, Rosever.
Worean não queria voltar para Mégalos, não enquanto o assassínio de membros da família do antigo visconde de Myrgan e outros estivessem em foco, pois, sabia que Rowsever detectaria no ato que ele estaria envolvido naquilo, e, isso poderia gerar um problema ainda maior para todos. Sendo assim, ele resolveu seguir a vida como um mercenário sem rumo, tendo praticamente um nome diferente para cada localidade que chegasse.

Após o massacre de Myrgan, Worean passou ainda mais de três anos peregrinando pelo império, sem ter notícias de Rowsever, porém, foi na cidade de Mehan - a noroeste da capital de Mégalos -, que recebeu a triste notícia de que seu antigo tutor havia falecido. E, não somente, morto, mas incinerado dentro de seu casarão! Anos longe da capital, ele retornou durante a noite para ver as cinzas do antigo casarão em que viveu anos de sua história. Mais uma vez, ele se pôs a caminhar sobre os destroços de algo bom de sua vida, tendo ainda fumaça a subir por entre as frestas - mesmo passado dias do incidente -, e, discretas lágrimas a correrem a sua face.

Antes do raiar do dia, Worean já estava dentro da Catedral para ali, por mais uma vez, refazer em segredo com Deus os seus votos de vingança para com todos aqueles que tramaram contra a vida de sua família, e, agora também, pela vida de Rowsever.

domingo, 5 de maio de 2013

RPG: Aventuras em Yrth - Ladrões de Corcéis Encantados - Worean, O Vingativo - Parte 2


Perseverar no Caminho do Guerreiro.

Worean acordou dentro de uma barraca deitado sobre um colchonete. Estranhamente ele não trajava mais as suas roupas, mas uma calça em couro um pouco maior que as de costume presa a cintura por um cordão. E o seu corpo que antes estava encoberto de cinzas, agora estava completamente limpo, no entanto, as marcas de queimadura pela sua ação não puderam ser facilmente removidas, haviam bandagens em algumas partes de seu corpo encobrindo as feridas. Do lado de fora ele ouvia vozes e choros de lamentação. Quando o jovem saiu da barraca, ele pode observar contra o que as suas pequenas mão lutavam, e, sabia que aquilo era cruelmente inevitável.

Algumas pessoas tentaram se aproximar dele, mas Worean era inacessível, o seu pensamento estava distante de todos que estavam a sua volta, as palavras e os abraços de conforto somente o afastavam para mais longe. Mesmo sendo advertida por alguns soldados, a criança subiu sobre os escombros da casa em ruína que ainda expeliam fumaça por entre as frestas e se pôs a caminhar. Onde encontrava o menino segurança para pisar, seguia friamente. Ao longe, um homem assistia aquele episódio funesto e comovente mascando uma ponta de cravo, pois, ele sabia que seria um choque dizer para aquele garoto que teria que ir para um orfanato, pois, naquela mesma noite não somente a sua casa havia sido incendiada, como também a dos seus parentes mais próximos, não restando nenhum parentesco para lhe garantir a tutela naquela localidade. 

Ilustração por Joanna Raven Morgoth's
Jhon Rowsever, soldado do Império de Mégalos,
que após o assassínio dos pais de Worean
se viu obrigado moralmente de guardar
a vida do garoto como se fosse o seu filho.
Jhon Rowsever era o primeiro comandante daquela infantaria de soldados, designada pelo Império de Mégalos para averiguar uma denuncia de complô e insurreição. A previsão de chegada da tropa no condado de Myrgan estava prevista para o início da tarde desse mesmo dia, contudo, com a percepção dos focos de chamas de onde se encontrava o acampamento, ele como responsável, assim que foi notificado, solicitou que as tendas fossem rapidamente desmontadas e que a marcha prosseguisse até os locais denunciados pelas chamas. Porém, quando os soldados chegaram já não havia muito a ser feito, salvo o resgate de alguns corpos e moribundos, dentre eles o menino Worean.

Durante duas semanas, o Comandante Rowsever e sua tropa montaram cerco na cidade, buscaram todo o tipo de informação que pudessem levar aos assassínios e incendiários que semearam um terror desmedido sobre a população, no entanto, nada que conseguiam era conclusivo, os interrogados quando falavam algo, brevemente sentiam a necessidade de rever o que haviam dito sob a alegação de que estavam confusos e amedrontados. Jhon e seus companheiros observaram ainda em alguns corpos que puderam ser resgatados antes de serem consumados pelas chamas, que a maneira como foram golpeados demonstrava uma precisão atípica para assassinos convencionais, e, a arma utilizada também não era de fácil acesso. O fato é que o comandante do império sabia que algo de muito errado e suspeito acontecia em Myrgan, e, que o Visconde estava por de trás disso, pois, ele demonstrava uma segurança impávida e os tributos que recolhiam do povo estavam muito além das demais regiões, sobretudo, as que se encontram em condições similares. 

Antes de partir de Myrgan, Rowsever achou por bem levar consigo o garoto Worean Hosborn, pois, ele era até aquele momento a única testemunha que havia sobrevivido a chacina, o único que assistiu a execução dos pais, irmãos e servos de sua casa por um grupo de exímios assassinos mascarados.

Ao longo da viagem até a capital do império o garoto não disse nada e mau se alimentou. E essa situação persistiu por mais algum tempo, mesmo quando Worean percebeu que o comandante que o resgatou dos destroços de sua casa havia o levado para dentro de seu lar, para viver com a sua família. Nesse momento foi necessária uma dose de energia de Rowsever para reconecta-lo a vida.

“Worean, não adianta ficar desse jeito, rapaz! Esse autoflagelamento que tem vivido diariamente somente esta lhe fazendo mal. Dessa maneira não conseguirá fazer nada contra aqueles que realmente merecem ser punidos. Tenha um propósito legitimo, assim como um dia tiveram os seus pais quando o colocaram no mundo”.

No âmago de Worean algo retornou a vida com essas palavras do comandante. Lembrou-se imediatamente das palavras proferidas em sonho pelo seu avô na fatídica noite da tragédia. Somente com o tempo Rowsever conheceria o propósito legitimo associado pelo garoto, a vingança, e, em relação a isso trabalharia arduamente para compelir a sede que esse sentimento destrutivo é capaz de trazer.



A árdua lapidação de uma rocha feita em carne, osso e sentimentos.

Com o correr dos anos, Jhon Rowsever, um comandante de uma tropa imperial ascendeu junto a hierarquia militar do império, e a ele houveram honras de cavalaria ao se tornar Cavaleiro da Ordem do Dragão servindo a Quinta Legião Megalana. E, nesse ínterim  Rowsever instruiu Worean em uma série de conhecimentos que para um soldado seriam importantes, principalmente, para sobreviver em locais hostis e a esmos do império, contudo, o garoto tinha dificuldade em assimilar determinados ensinamentos que não fossem demasiadamente práticos ou não estivessem ligados diretamente ao seu propósito maior. Portanto, com o comandante aprendeu forçadamente o seu código de honra pessoal, somente para ter a certeza que o melhor lhe seria agraciado, ou seja, o aprendizado de sua incrível técnica de combate com as espadas.

Rowsever gostaria que o sentimento de vingança fosse aplacado do peito de Worean gradativamente até que não passasse de uma distante cicatriz, contudo, o tempo parecia fazer com que o garoto se tornasse mais obcecado por aquilo, e, isso acelerava a sua maturidade diante das demais crianças. No início, Worean costumava perguntar ao comandante como seguiam as investigações a respeito da captura dos assassínios de sua família, e, a princípio ele até comentava algo, contudo, o soldado imperial achou por bem não mencionar mais nada, pois, o interesse se demonstrou sombrio. Por algumas vezes ouviu de outros um comentário agourento a respeito da natureza de Worean, inclusive de sua esposa, no entanto, foi necessário ele surpreender seu inquilino dizer em tom baixo enquanto se exercitava com a espada:

 “Não tenho a paciência e a crença do povo de que a justiça divina será feita no tempo de Deus aos meus inimigos... Estou farto disso!”.

“O meu julgamento já está selado só preciso saber onde e quando encontra-los. Seria muito mais fácil tê-los todos juntos, encarcerados em um cubículo, tal como ratazanas em uma arapuca, para liquidá-los ao sabor do tempo a tanto aguardado”.


Ilustração por Henning Ludvigsen
Benne Bruquer, soldado do Império Megalano,
que durante cinco anos
foi tutor de Worean dentro de um Quartel.
Worean deveria ter por volta dos onze anos de idade quando foi levado por Rowsever para dentro de um reduto de combatentes das legiões do império. Ele praticamente viveu apartado da família que o acolheu por cinco anos, somente estando com os mesmos nos feriados santos. O seu imediato dentro daqueles quatro muros era Benne Bruquer, um grande amigo de Rowsever, que era o armeiro chefe da casa e um exímio combatente também, seja armado ou desarmado. No entanto, Bruquer era de longe alguém mais tolerante que Rowsever, muito pelo contrário, geralmente de mau humor, ranzinza, não havia com ele dias leves, os treinamentos eram pesados e as tarefas dentro do lugar eram intermináveis. Benne tinha uma memória infalível, conhecia cada um dos que passavam por ali pelo nome, sobrenome e alcunha. Nos raros festejos da casa, era de lei que Bruquer ficasse bêbado, e, consequentemente, ultrajasse alguém relatando histórias pessoais a despeito de um ou outro, que embora além da realidade dos fatos, as mesmas não eram jamais inventadas. Embora fizesse do tipo durão, a grande maioria apreciava a sua companhia e a seriedade como tratava as coisas. Antes de Worean deixar o quartel, seu tutor disse o fitando de maneira intimidadora nos olhos:

“Garoto, atenção! Não sei se o tempo que passou aqui dentro lhe fez bem ou mal, na verdade, já estou velho e estou chutando a coroa! Mas, espero sinceramente, que o dia que estiver frente a frente com os seus demônios você tenha peito suficiente para enfrentá-los como o homem que tentei formá-lo, caso contrário, nem ouse citar meu nome em suas lembranças para outros”.

Por fim, o próprio Bruquer quebrou o protocolo de um simples aperto de mão de despedida, e deu em Worean um rápido e espontâneo abraço, e acresceu:

“Não me decepciona, garoto!”


As manhas de uma vingança que renasceu das ruas.

De volta ao lar de Rowsever, Worean se mostrou uma nova pessoa, alguém mais intrépido, descontraído e atencioso. Com idade suficiente para trabalhar logo buscou afazeres nas ruas para driblar o ostracismo. Não queria compor a guarda local como orientação de seu senhor, porém, tinha interesse em trabalhar em uma guilda de mercenários. Jhon não viu problema na escolha do rapaz, sobretudo, na capital, onde o grão mestre era um conhecido de longa data e também já havia composto uma das Legiões do Império. No entanto, algo transpassou essa escolha.


Ilustração por Omu Upied
Kevim Cepris, o Arremessador de Facas
 do Circo Saramango, irmão de Sara,
 e Líder dos Arteiros Saltimbancos.
Nas suas incursões para reconhecimento da cidade após anos de distância, Worean conheceu os irmãos Cepris: Sara e Kevim. Ambos um pouco mais velhos que ele, e, que aparentavam ter um tipo de envolvimento mais estreito que a amizade, contudo, algo que o tempo demonstrou ser uma errada impressão a respeito dos dois, pois, ambos eram irmãos de rua que foram apadrinhados por uma família circense.

Worean conheceu Kevim Cepris, quando ele era o líder de um grupo de adolescentes rebeldes e delinquentes que cometiam alguns crimes menores na cidade, sobretudo, nas proximidades do circo onde ele residia, O Saramango. Geralmente, esses garotos se aproveitavam da distração dos populares e o tumulto da multidão para assaltarem suas vitimas. Kevim se referia ao seu bando de Arteiros Saltimbancos. Uma vez um ou outro um desses aprendizes de ladino era capturado por um adulto, mas o grupo como um todo se mobilizava e se esforçava para que imediatamente fosse resgatado o azarado, muito antes de ser lançado em uma jaula. E, isso talvez, fosse o que mais admirava Worean, pois, enquanto esteve dentro do quartel havia uma pratica dentro das legiões de não abandonar o companheiro, mas que fora dos muros, muitas das vezes não conseguia percebe-la em pratica, sobretudo, em alguns relatos de Rowsever.

Kevim costumava entreter os populares com o seu impressionante talento de arremessar facas e adagas, algo que aprendeu e aperfeiçoou com o seu falecido pai circense. Geralmente ele costumava dispor a sua assistente de palco e irmã - Sara Cepris -, como alvo em meio a uma mesa circular giratória, isso em um último e grandioso ato, após muito exibicionismo de pontaria e equilíbrio com as armas. A população vibrava com o espetáculo mortal enquanto os arteiros saltimbancos os assaltavam. Worean ficava perplexo com aquilo, ficava instigado a aprender a fazer aquilo.


Ilustração por Omu Upied
Sara Cepris, acrobata do Circo Saramango,
irmã de Kevim e romance juvenil de Worean.
O talento da jovem Sara Cepris, Worean somente pode conhecer quando adentou a grande tenda do Saramango, pois, ela era uma perfeita acrobata. Suspensa em cordas demonstrando completo equilíbrio ou a saltitar de maneira harmônica sobre um tablado de picadeiro, a bela conseguia propiciar um espetáculo tão prodigioso quanto ao de seu irmão com as facas. Worean olhava a precisão dos movimentos de Sara como um dia observou o bruto Bruquer bêbado a se esquivar perfeitamente de inúmeros braços a quererem acertá-lo por sua injuriosa língua das verdades.

Worean sabia que teria problemas com Rowsever se entrasse na gangue dos Arteiros Saltimbancos, contudo, tinha que se aproximar de Kevim e Sara. Portanto, declarou que ingressaria nas atividades do circo. A princípio Jhon estranhou aquela atitude, já que estava tudo tão bem encaminhado para o ingresso do jovem na Guilda de Mercenários de Mégalos, no entanto, ao ver a acrobata equilibrista, o tutor compreendeu o desejo orientado pelas paixões da fase, desta forma preferiu não discutir mais nada crendo ele que aquilo seria somente algo passageiro, mas necessário.

A princípio Worean foi hostilizado por Kevim e a sua trupe de delinquentes, pois, ambos sabiam do seu tutor e os riscos que isso implicava a atividade do bando. Contudo, embora o artista fosse um excelente arremessador de facas, nada se comparava a uma mente treinada e mais esperta, e, aí se valeram as muitas experiências narradas por Rowsever e Bruquer, que nunca precisaram ser tão fortes que o seu oponente, ou seja, aplicou a Kevim a seguinte lição: para se finalizar um gigante, basta apenas ser mais esperto para fazê-lo rir das próprias bobagens, tropeçar nas próprias pernas e ir ao chão com a garganta sobre a lâmina da própria arma.

Passada algumas semanas, Worean conseguiu ganhar a confiança de Kevim. E, aquilo foi em si o espetáculo que ele conseguiu propiciar a Sara e aos demais que o desacreditavam ser capaz.

Kevim e Worean se tornaram grande amigos, contudo, o primeiro nunca conseguiu fazer com que o segundo assumisse uma posição dentro do bando de delinquentes juvenis. Worean, até participava das seleções de novos integrantes, mas não queria se envolver com o grosso das atividades, pois, sabia que aquilo poderia trazer um desgosto profundo a Rowsever, caso ele fosse por descuido surpreendido por alguém que o conhecesse.

Sara percebeu um algo a mais em Worean quando ele conseguiu driblar o gênio difícil do irmão, e, conquistar a aceitação dos demais. Sara não somente o instrui em algumas técnicas de acrobacia de bom grado, como também permitiu a ele adentrar em seu coração, e, ensiná-lo o prazer a dois. Por um bom tempo os dois foram mais que mestre e aluno, foram enamorados. Tal relação não era muito bem quista por Kevim, devido ao ciúme que tinha pela irmã, mas ele tolerava e não permitia piadas entre os seus.

Com o circo Saramango, Worean viajou e conheceu dentre a capital de Mégalos, as cidades de Dekamera, Mehan, Hildelban, Kethalos e Azer, grandes centros que circundavam a capital do império.

Em Azer, Worean viveu a emoção ímpar de ouvir algumas lendas a respeito de seu avô, e de como o velho lobo-do-mar havia se apaixonado por uma linda sereia, e, que por ela, buscou um perigoso encantamento para fazê-la eternamente mulher, a fim de constituir com a sua amada uma família feliz, longe de tudo que um dia os dois representaram para o mar. Lá também ele conheceu o amargo de uma bebida alcoólica denominada Jacobeer, cujo muitos homens que ali estavam, reclamavam em tom alto, “a quem você quer enganar, taberneiro, isso que você serve aos outros é a sua urina velha misturado com vinho de Caityhness”. Essa foi a última viagem de Worean com o circo Saramango, pois, aquela experiência foi a gota d’água para que ele retornasse a Mégalos e fizesse um voto de vingança no altar da catedral.

Embora Sara amasse demasiadamente Worean, ela conheceu na profundeza dos olhos de seu amante que o sentimento de vingança contra os assassínios de sua família era algo do qual ela jamais poderia atravessar. Portanto, permitiu a ele passagem para que fizesse o que deveria ser feito, e, quem sabe algum dia retornar para os seus braços.