Bem-Vindo Errante Viajante

Do Olimpo trago a almejada chama, da qual sugiro dançarmos embriagados a sua volta, e quando assim for, sujiro arriscar tocá-la, pois, felizes os que dela se queimarem.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Cintilar de Devaneios - Da Apropriação Indébita do Paraíso.

Ilustração por Autor Desconhecido.
Aquele que Observa, Almeja e Luta.

Era uma vez, em uma terra muito distante daqui...

Havia um Líder Religioso que possuía para o exercício de sua atividade – esta sem fins lucrativos e com benesses a comunidade -, uma considerável porção de terras prósperas. Essas terras foram a ele designadas há muito tempo pelo império em função de seu propósito maior que consistia em resgatar homens da vilania, e delas (as terras) o Abade não poderia se abdicar jamais, pois, o decreto do imperador dispunha claramente que aquela área não era exclusiva do Monsenhor, mas de todas as pessoas que compunham a ordenação religiosa (o todo), e, que, portanto, se algum dia, a região não fosse mais quista por esse grupo e para essa finalidade, estas (produtivas terras) deveriam retornar aos domínios do império.

Durante anos a obra divina prosperou naquela região, na santa paz, e resgatando vidas de homens subjugados pela sociedade.

Próximo às terras afortunadas da obra divina, precisamente, ao lado, havia uma grande propriedade de um lorde. Terras essas também muito férteis, diga-se de passagem. O Príncipe daquela região era conhecido pelo seu espírito empreendedor, ganancioso e inescrupuloso. Cuja má fama dentre a turba dizia ser munido de uma língua afiada como uma lamina amolada, e que possuía tesouros de valores incalculáveis, sendo ambos, artifícios capazes de corromper as mais puras almas humanas do mundo.

A paz sessou quando o Príncipe ambicionou as terras prósperas da obra divina.

Por muitas vezes a figura desse Senhor Feudal foi caracterizada como a encarnação viva da divindade do mal pelo Líder Religioso e seus asseclas ao longo dos incontáveis cultos. Vigílias foram realizadas pelos fiéis. Jejuns de dias, semanas e até meses foram executados. Orações e mais orações foram proclamadas do silêncio dos jardins até as praças públicas em grandes cortejos. Sacrifícios foram ofertados a grande divindade para que a ganancia do Lorde se findasse.

A Assembleia se manteve fiel à causa. Eles oravam fervorosamente para que as peregrinações de negociação de paz do Monsenhor até o principado vizinho resultassem no fim do assédio, e até mesmo na queda do vil Príncipe.

Quando o Monsenhor foi ao encontro do Príncipe, ele sabia do perigo que enfrentaria, de que estaria se lançando a boca da besta. Por sua vez, ele clamou a grande divindade a investidura de poder necessária para se sair vitorioso nesse confronto. Porém, o lorde também tinha suas armas para afrontar a deidade e o avatar, pois, embora o primeiro fosse infinitamente poderoso, o outro, que era a sua ferramenta, era feito de carne, sangue, desproporcionalmente fraco e suscetível a queda. Por fim, o Líder Religioso teve a sua fé subjugada e aplacada pelo Inimigo. Ele se viu vislumbrado com os presentes ofertados pelo Príncipe, fatalmente ferido no cerne de suas convicções/princípios morais pela ganancia semeada em seu íntimo com doses homeopáticas de palavras envenenadas.

Dias depois do encontro com o Príncipe, o Monsenhor realizou um último culto nas terras prósperas da obra do divino diante de toda a Assembleia, imbuído de uma carapaça mágica ofertada pela própria divindade maligna que sustentava o Príncipe, de modo que não permitisse a nenhum outro perceber o mal que havia se instalado em sua alma. O Líder Religioso celebrou um culto do qual os homens mais viris se prostraram de joelhos ao chão derramando lágrimas copiosas, algo tão esplendoroso como os de costume, e, por fim, envio todas aquelas generosas almas de volta as suas casas.

No dia seguinte, os homens fortalecidos pela fé, em função do inominável culto realizado na noite anterior, retornaram para mais uma vez comungarem dessa experiência religiosa, todavia, a eles não foi permitida a entrada nas terras prósperas da obra do divino por decreto do Príncipe, e, a ainda, a mais funesta visão, que incidia na demolição por completo do Grande Templo. Um espaço majestoso edificado com grande esforço pelos devotos para se reunirem em adoração a sua divindade e a celebração da fraternidade constituída.

Esses homens, mulheres, idosos, crianças, e portadores de necessidades especiais, retornaram para os seus lares desconsolados. Com a fé abatida, sobretudo, por não perceberem dentre a grande turba moribunda, a presença daquele que deveria mantê-los unidos e fortalecidos, o Grande Líder Religioso. Aquele que com moral poderia lidera-los em uma cruzada mortal contra o Inimigo.

Os homens abaixo do Monsenhor tentaram sem êxito se aproximar do Príncipe na esperança de reconquistarem as suas terras, mas foram facilmente abatidos. Alguns desses foram comprados por valores insignificantes que não pagariam as ferraduras do corcel do Grande Lorde. E, houve também aqueles que buscaram a ajuda do Imperador, porém, mãos mais ardilosas chegaram muito antes a corte e resguardaram os imorais direitos do principado. Essa recorrência de resultados ruins nas batalhas que se seguiram fizeram com que os Homens de Boa Fé simplesmente aceitassem o fardo de uma guerra perdida, e, assim, migrassem para um outro lugar, uma região qualquer, a esmo nos cantos, menos desprovida e adversa do que um dia dispuseram com abundancia.

Não existe ainda um “final feliz” para esse conto, pois, os Homens de Boa Fé não se permitiram tão ansiada vitória.

Embora possa parecer um enredo de ficção mirabolante sem conotação com a realidade, pasmem, isso faz parte da história do bairro em que moro a quase três décadas.

Todos os moradores mais velhos do bairro conhecem a fundo o nome do Monsenhor e do Príncipe (ou a Princesa) em questão, assim como também sabem que nunca houve a intervenção de quaisquer divindades nessa guerra por terras, senão a submissão ao ego, aos caprichos humanos e aos interesses próprios. E que o mais triste nisso tudo é saber que muito pouco se fez, ou não se fez nada (verdade seja dita), no momento em que se deveria ter sido feito com retumbante estrondo/estardalhaço, e hoje, o deposto Líder Religioso segue longe das luzes da ribalta e dos holofotes, inspirando asseclas na sua faceta mais obscura e mesquinha... Onde acredito perdurar o principal legado do Príncipe sobre as demais gerações de Homens de Boa Fé: a fragilidade da mente e a complacência com o absurdo.

Sinceramente, Eu não tenho certeza se as minhas mãos terão a graça de escrever um desfecho bem-aventurado para este conto, mas segue aqui a minha necessidade em relatar um fato, e em tentar fazer a diferença, sobretudo, para as gerações vindouras.

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