Bem-Vindo Errante Viajante

Do Olimpo trago a almejada chama, da qual sugiro dançarmos embriagados a sua volta, e quando assim for, sujiro arriscar tocá-la, pois, felizes os que dela se queimarem.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

RPG: Aventuras em Yrth - Fragmentos: Um abstruso caminho para frente e para cima, com toda certeza.

Uma complexa jornada sobre as Montanhas de Bronze.

Dia 14: 01/03/2111, sobre a regência de Peixes.

Logo no início da manhã, Delvin e Dionísio seguem até ao mercado para encontrarem Yoleuss, o gnomo, com quem o halfling havia negociado na noite anterior um equipamento que poderia auxiliar a todos no processo de escaladas da montanha onde esta localizada a ruina. Sem dificuldade, eles encontraram a oficina dos gnomos. Os astutos comerciantes transmitiram aos mercenários a melhor maneira de manusearem o mecanismo, assim como também, o cuidado que deveriam ter no transporte do mesmo, sobretudo, para não serem avistados com ele.

O fato é que o equipamento comercializado pelos gnomos não era completo, ele requeria uma parte a qual os mercadores não poderiam dispor: uma espécie de “braço de apoio” feito a partir de madeira firme, e, mais uma vez, Dionísio foi ao mercado buscar material e os préstimos de um ótimo marceneiro para que fosse aprontado o tal item complementar. O anão queria escolher as melhores peças em madeira e pedir a execução da atividade em sigilo pelo artesão, senão, sem que ele mesmo nem compreendesse o que estaria a fazer, ou tivesse uma ideia muito vaga sobre o desejado. Para isso, ele recorreu novamente a Yoleuss e os seus comparsas que o ajudassem no arranjo do mecanismo.

O dia posterior ao envolvimento de Marduk com a rameira Lesley também deixou sequelas pelo corpo do nômade... Uma coceira impertinente na virilha estava retirando do gigante a concentração – algo que poderia afetar o seu desempenho na empreitada, senão viesse a ser tratado. Contudo, ele preferiu não compartilhar tão enfermidade e seguir solitário e inquieto com a sua mazela. Porém, este é um tipo de comportamento que dificilmente passa despercebido por aqueles que estão às voltas de quem sofre, pois, os humores também tendem a oscilar.

A conversa no período em que o anão guia esteve longe permitiu a Delvin relatar a Marina do estranho objeto que havia surgido em um de seus bolsos: uma estranha moeda, que aparentemente era feita em ouro maciço, porém, sem qualquer cunho de emblema que a identificasse. E o halfling relatou que a mesma havia surgida em sonho, e que por algumas vezes, já acordado, ele conseguia ver brevemente em uma das faces o rosto de Grover, o seu mestre. Ele entregou a moeda nas mãos da amiga para que a mesma averiguasse se o misterioso item possuía algum tipo de propriedade encantada, contudo, em nada resultou.

Era meadas da tarde quando Dionísio retornou a hospedaria convocando os mercenários para irem com ele a oficina dos gnomos.

Na oficina, o grupo pode presenciar o braço feito em madeira maciça e os mecanismos de roldanas devidamente acoplados a ele. O Grupo ficou maravilhado com a engenhoca e ansioso em testá-la, e, até sugeriram em leva-la até ao paredão ao qual praticaram escaladas exaustivamente no dia anterior, porém, Dionísio foi categórico em se negar a fazê-lo, pois, o local era próximo a vila, e o que poderia, consequentemente, facilitar as vistas de um curioso.

Os mercenários envolveram o equipamento em uma pele de um animal a fim de disfarça-lo na saída da oficina do gnomo Yoleuss.

Thridway orientou aos mercenários que aproveitassem o resto do dia para averiguarem os seus equipamentos e suprimentos, pois, como o mercado ainda estava acessível, os mesmos poderiam adquirir aquilo que lhes fosse útil nessa empreitada. O Anão destacou que seriam necessários pelo menos dois dias de refeição até as ruinas, e, assim também para voltar, quanto ao tempo de estadia lá em cima, isso dependeria exclusivamente da motivação deles, contudo, ele frisou que o quer que eles venham a fazer lá dentro (nas ruinas) deveriam ser breve.

Ao longo do dia, Marina percebeu algo de diferente no guia, o anão Dionísio, pois, toda vez que fora mencionado sobre as ruinas, ele franzia a testa e procurava se evadir da conversa, contudo, ela preferiu não importuna-lo. Porém, ela tinha certeza de que ele sabia de algo e que ainda não havia revelado por algum motivo.

O sono que os aventureiros almejavam ter foi parcialmente resumido a poucas horas de algo que realmente lhes ofertasse algum conforto, embora, estes últimos pensamentos tenham sido menos perturbadores, pois, a mensagem havia se mantido intacta e com uma ou outra peculiar diferença.

O guerreiro SnowFinger novamente se viu paralisado de joelhos sobre a neve, sentindo o seu corpo sendo tragado pelo frio que lhe subia pelas pernas e que também se manifestava de forma agressiva pelas rajadas de ventos lançadas contra o seu peito. A neve por muito pouco lhe cobria as vistas, onde somente o que conseguia perceber eram vultos assombrosos de coisas indistinguíveis... Exceto, pela valquíria de cabelos avermelhados que se apresentava metros a frente, de pé, imponente olhando em sua direção como se o desafiasse. O seu cabelo enrijecido pela temperatura gélida se movia pouco ao toque do vento, embora, pudesse sentir que a cada tentativa do vento de fazê-lo se mover parecia tentar lhe arrancar o próprio escalpo. Em seus braços, Maduk percebeu o peso daqueles três corpos, que jaziam semi cristalizados em seu colo, diluírem-se a nada quando ele por fim, ergue-se, como quem estivesse disposto a aceitar o desafio retido no flertar daqueles olhos selvagens... Ele caminhou em direção ao vulto da mulher sentindo com isso a tempestade se findar, e, em seu ouvido, a voz dela mais uma vez ressoar: “Os olhos perceberão vida onde somente há morte... Confia no teu instinto aguerrido, sobretudo. O teu inimigo se amparará nas tuas fraquezas... Corroendo a tua visão, a tua mente e o teu juízo. Nem uma arma é mais letal que a verdade, Quando empunhada com convicção”. Quando ele chegou até o local onde estaria a mulher, lá ela já não mais estava - havia desaparecido tal como teria surgido -, porém, somente a visão de um lugar ao qual ele muito apreciava de suas terras, um local do qual ele podia avistar a movimentação de muitos homens que ousavam afrontar a soberania de seu clã... Foi quando ele se agachou para olhar ao horizonte, então pode sentir ao seu lado a presença amada da companheira, Drunna.

A arcana Marina, aparentemente mais consciente do terreno onírico que atravessa ao longo desses dias sobre as Montanhas de Bronze, via-se novamente lançada em meio à tempestade que surgira na lembrança vivida de seu santuário no jardim de sua antiga residência em Nova Jerusalém... Ela estava no olho do furacão, porém, menos afetada pelas rajadas de vento e a violência do ambiente que outrora havia lhe ferido. Sobre a sua cabeça, uma luz clara e constante que vinha do alto, onde também girava com demasiada velocidade um grimório, cujas páginas eram brutalmente arrancadas e lançadas no movimento circular da nebulosa ventania. Algumas das páginas que se chocavam contra o corpo da jovem estouravam em pequenos estilhaços luminosos que repentinamente se dissipavam. Ela chegou a fechar os olhos diante de tantas cores que vibravam a sua volta, como se previsse que aquilo pudesse lhe fazer algum mal, no entanto, mais uma vez, ela ouviu o ressoar da voz afável de sua mentora lhe dizer com voz penetrante em sua mente verbetes de magias que as quais não conheciam... E, antes que recobrasse a consciência total, Marina foi alertada “Filha minha, cuidado em teus caminhos... Muita atenção quanto, ao teu inimigo que espreitará a todo instante os seus caminhos por meio de vias sombrias e escuras. Pois, ele se fará forte sobre as suas fraquezas. Ele atacará você e a quem mais estiver em sua companhia, fazendo de seus companheiros possíveis armas, somente para sobressair ao combate”. Ela recobrou a consciência sentindo o último toque sutil de sua mestra sobre as suas mãos contra o seu peito.

O audaz Delvin se viu mais uma vez no cômodo do antigo trabalho que estava a executar em favor de um mago em Nova Jerusalém, porém, ele estava em meio a um problema que envolvia: o desaparecimento de seu mestre, as paredes que pareciam se comprimir rapidamente e o cerco de desconhecidas criaturas que a qualquer momento se lançariam sobre ele. E, como senão bastasse, ele viu as suas moedas de ouro, recolhidas com tamanho afinco naquele insólito ambiente, saltarem pelo ar, e a única moeda que apanhou, com um brilho distinto das demais, viu o semblante do rosto de Grover que lhe disse: “Cuidado com o inimigo que age nas sombras, ele, é ainda mais traiçoeiro do que todos que já conheci. Ele vai colocar cada um de vocês em lados opostos, e, o mais importante, vai atacar por suas fraquezas”. A moeda brilhou de tal forma, que muito antes da mesma lhe cegar por meio do brilho – que já não podia ser contido pelo braço a frente ou os olhos fechados -, o pequeno ladino a deixou cair no chão pelo calor que o item também passou a emanar sentindo queimar a palma da mão que a segurava. A moeda quicou por três vezes ao chão até que a mesma explodisse em um imenso clarão... Delvin acordou sentido a palma da mão que em sonho empunhava a moeda formigar, assim como o calor ameno da moeda em seu bolso.

O espadachim Worean estava mais uma vez a cambalear sobre a embarcação que navegava em um revolto mar rubro de sangue, o vento que soprava de maneira impetuosa a rasgar as velas, os gritos de homens que não via, assim como o correr destes fantasmas invisíveis sobre o assoalho da embarcação... A única voz que conseguia guardar para si, e, ter a certeza de que não era o único ali, era a de seu avô: “Atenção para as nuanças daquilo que ver. Nem tudo e Nem todos são reais, portanto, duvide. O inimigo saberá como lhe atacar... Sustentado e Armado com as suas fraquezas”. Ele tentou se colocar de pé, e, o corpo parecia estar bastante debilitado pelas forças empenhadas nas frustrantes e recorrentes tentativas, porém, quando ele por mais uma vez buscou fazer aquilo que tanto ansiava, ele conseguiu se colocar por completo de pé, e assim, sentir como se a luz do sol brilhasse sobre o seu rosto de forma acolhedora, penetrando e dissipando as nuvens enegrecidas que cobriam o céu... Não havia mais fantasmas sobre o convés, a correr e a gritar; o mar subitamente se apresentou calmo e azul, tal como sempre teve em suas memorias mais distantes; e, o vento que sobrava sobre as velas, firmes e claras, era tal como uma brisa convidativa a navegação.


Dia 15: 02/03/2111, sobre a regência de Peixes.

No inicio da manhã, os mercenários saíram em direção à montanha que os conduziria ao seu destino, e, foi somente, quando estavam muito distantes da Vila de Baramphas que Dionísio resolveu lhes dizer sobre o local para o qual estavam se dirigindo. E, Marina então sentiu verdades nas palavras proferidas pelo guia, verdades tais que calaram parte de sua curiosidade.


RUÍNAS DE THARGODDAS
Mistérios, Rumores, e Contos Inacabados de um clã anão desaparecido.

Ilustração por Raphael Lacoste.
Ruínas do Reino Anão de Tharggodel.

"Eu quero lhe presentear com um belo rubi...
Ele não é de Thargoddas, pois, não seria presente.
E se fosse, ao meu inimigo seria mais digno tal sortilégio.
Essa joia reflete a beleza de um sentimento genuíno,
Onde a confiança e o respeito mútuo se fizeram dignos".

- Um dito popular dos anões dos reinos de Morriel
 e adjacências sobre rubis.

São poucos os anões vivos em Ytarria que podem mencionar algo sobre o Povo de Thargoddas do Reino de Thargoddel, pois, são escassos os registros que se tem a respeito desse clã, uma vez que, o que se conhece sobre os mesmos deixou de ser escrito a cerca de mil anos.

Os Thargoddas eram um clã menor vinculado a outro grande clã anão, os Morthrinn (Reino de Morriel). Eles eram reconhecidos pelo seu genuíno trabalho em pedras preciosas, sobretudo, rubis. O último rei deste clã foi Hyppus Thargoddas, e a sua esposa e rainha era Lanths Morthrinn. Desde o evento cataclismo, estes anões cessaram o seu contato com o mundo exterior, selando a sua passagem para que eles não fossem importunados por criaturas desconhecidas e interessadas em furtá-los - uma atitude de aversão que fora tomada como pratica por outras muitas comunidades da raça. Eles se reportavam e somente mantinham contato com o Rei de Morriel, mas mesmo assim, um contato distante e frio, que os últimos anos se resumiram ao envio de alguns de seus trabalhos como pagamento de seus tributos de gratidão ao Rei. No entanto, quando até mesmo esse último contato se encerrou foi necessário enviar algumas comitivas para saber o que estava acontecendo em Thargoddel, e, o que os sobreviventes relataram foi algo desolador, pois, o lugar estava inabitado por anões, parcialmente destruído e enfestado por criaturas oriundas de medonhos pesadelos.

Para o Clã Morthrinn, e o que muitos outros anões sustentam, é que os Thargoddas encontraram um meio para chegar aos Domínios Profundos – sem comunicar ao Rei de Morriel ao qual deveriam se reportar. Uma atitude inadvertida como essa já custou a vida de muitos outros clãs, não somente menores, pois, tomados pela ambição de explorarem as inóspitas regiões abissais do mundo, eles acabaram sendo vitimas do doce perfume da morte.

Rumores falam que pouco mais de alguns anos passados desde a última tentativa de averiguação das minas dos Thargoddas, uma grande caixa repleta de rubis lapidados foi destinada ao avô de Morkagast, tal como a tributação que era comum ser feita pelo povo de Thargoddel, algo que a princípio trouxe esperança e alívio ao Rei de Morriel. Porém, aquelas pedras foram todas mantidas intactas até que um mago as avaliasse com cuidado, pois, elas possuíam um estranho brilho e que gerou em alguns anões próximos ao rei um sentimento notório de desconfiança... Não precisou a noite virar dia, para que a rainha suplicasse copiosamente ao Rei que se livrasse daquele maldito presente, pois, em sonhos ela havia tido presságios ruins a respeito dessas pedras. A desconfiança se tornou ainda maior ao ponto de se tornar uma preocupação, quando o arcano responsável por analisar as joias também desapareceu, sem deixar quaisquer vestígios.

Outros clãs anões tentaram se apossar das Ruinas de Thargoddas para estabelecerem moradia, reergue-la sobre um novo signo de prosperidade, contudo, tal empreitada não resultou em nada além de mais mortalhas e infortúnio, o que acabou trazendo ao local a sua afamada maldição.

Também houve grupos de inadvertidos aventureiros que se lançaram sedentos em busca dos tesouros do reinado de Hyppus Thargoddas, porém, o pouco que se soube desses, é que eles partiram munidos de muita coragem e expectativas rumo as famigeradas ruinas, no entanto, permanece com todos aqueles que os viram seguir para tal lugar a dúvida se estes obtiveram êxito na empreitada, ou se pelo menos, ainda estão vivos...

***

Os mercenários chegaram até um local um pouco acima dos pés da montanha que deveriam escalar – o último lugar possível de locomover andando em função de sua inclinação -, e, no local encontraram alguns funestos vestígios de homens que falharam em tal empreitada... Corpos de muito tempo destruídos por quedas descomunais frutos do tamanho do desafio que estavam prestes a encarar.

Como o grupo havia combinado, Delvin seria o primeiro a subir, de forma que pudesse preparar todo o caminho que os aventureiros iriam percorrer por meio dos acessórios (martelinho, ganchos, pítons e cordas), então, nesse sentido, Dionísio e Marduk, cederam as ferramentas que dispunham e que não prejudicariam o desenvolvimento da atividade do halfling por conta de excesso de peso. O halfling levou algum tempo até conseguir chegar a um local seguro a mais de oitenta metros de altura, e, plano o suficiente para abrigar mais alguns companheiros. Do local, ele sinalizou para os demais subirem, pois, estava avido por completar essa parte do trajeto e se alimentar - a fome já lhe batia traiçoeiramente a porta.

Dionísio subiu logo em seguida levando consigo o equipamento que auxiliaria Marina a escalar com menos esforço, além do restante da carga. Entretanto, quando estava prestes a alcançar metade do trajeto feito pelo halfling, o anão falhou desastrosamente em sua atividade, e, o que por muito pouco não lhe custou à própria vida... A sua queda foi devidamente poupada pelas cordas e os pítons, e, embora tenha evitado uma tragédia maior, custou o equipamento que o grupo havia adquirido com os gnomos, uma vez que, ninguém que estava embaixo pode evitar que o impacto o destroçasse em pedaços irreparáveis... Quase todos se esquivaram com o receio de que aquilo atingisse alguém, exceto Marina, que foi ferida por uma dos estilhaços. O anão ficou içado a metros de altura até se recompor para retomar a subida, sentindo algumas dores no ombro pelo impacto na parede além das cordas que o pressionaram.

Delvin estava longe do incidente e não pode discriminar o som ouvido, e nesse momento seguia na busca de um local que eles e os demais poderiam prender o equipamento.

Passado algum tempo, Worean iniciou a subida, e, o espadachim até seguia bem na atividade de escalada, quando em um descuido a cerca de pouco mais de sessenta metros, ele rolou em meio às cordas que o seguraram evitando um desastre maior, porém, ainda sim, a pancada foi suficiente para lhe deslocar um de seus ombros e incapacitar o seu braço esquerdo, o que o manteve içado, e absorto em dor.

O último a tentar subir o colosso natural foi o nômade, e, como o mesmo não havia demonstrado muita aptidão em seu treinamento, assim, logo ele empacou em meio ao trajeto de escalada, ficando içado a poucos metros do chão.

Marina assistia sutilmente consternada o desafio que seus companheiros enfrentavam em subir aquela montanha, pois, sabia que os dons mágicos que havia aprendido até então de pouco ou nada poderiam ajuda-los. Naquele momento, ela precisava contar com eles, e, quem sabe em um futuro breve, retribuir a gentileza.

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