Bem-Vindo Errante Viajante

Do Olimpo trago a almejada chama, da qual sugiro dançarmos embriagados a sua volta, e quando assim for, sujiro arriscar tocá-la, pois, felizes os que dela se queimarem.

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Vampiro Sozinho na Escuridão: O Senhor das Moscas... Antes de Tudo.

Noite em Saint Augustine, Flórida.

Brisa envolvente de uma noite prometida...


A Lilitu Hellen Roja - popularmente conhecida nestes tempos, e dentre os seus mais íntimos, como "A Roxy" -, desperta em seu aparente e seguro refúgio, situado na área nova da cidade, após pouco mais de doze horas de sono ininterrupto.

Ilustração de Autoria Desconhecida.
Hellen Roja "A Roxy",
Vampira da Casta Lilitu
Já faz algum tempo que a noturna senhorita Roja se apoderou indiretamente das dependências deste suntuoso apartamento duplex disposto no vigésimo segundo andar de um prédio bem localizado e conceituado nesta área da cidade, uma vez que, fez de seu proprietário, o jovem Ethel Liddane, um de servo.

No início a relação entre Hellen e o jovem Ethel, nada mais era do que uma espécie de “consumação corpórea”, pura e simplesmente: dele o saciar do ego e dos hormônios, e dela o saciar de sua libido e da besta vampírica. Contudo, com a passagem do tempo (semanas), ela percebeu nele potencial para alçar seu subserviente libertino à uma condição além de casual amante e escravo sexual, fazendo dele um servo – uma criatura fadada aos anseios e a sorte última de um abraço funesto pelas garras e lábios de sua imortal dominatrix.

O fato é que Hellen acordou predisposta a viver mais uma noite de deleites e caça, e sobretudo, a alimentar-se de outros, não somente de seu cativo servo Ethel, que possivelmente nesta dia não a satisfaria em plenitude - algo que em dias já lhe estava a incomodando em função de seu alto grau de devassidão.

Após despertar, Hellen vagarosamente se pôs a deslizar sobre a cama até colocar os pés sobre o frio assoalho, mas já presumindo o futuro voluptuoso que se seguiria minutos mais tarde, e que em resumo, seria o retorno ao leito do corpo dos dois amantes – ela e seu servo -, para que houvesse um desfecho do consumo de seus corpos pelo ato libidinoso, e o devido encaminhamento de Ethel aos braços de um merecido descanso pós exaustão sexual do amante mortal na tentativa falha de suprir os anseios de sua incansável e impetuosa amante.

A vampira desnuda seguiu caminhante, senão, quase que flutuante pela delicadeza silenciosa de seu passear, em meio a penumbra do quarto em direção a luminosidade do cômodo adjacente – o banheiro -, de onde podia se ouvir o som de uma música de fluidez harmônica, vibrante e envolvente a tocar pela acústica proposta provida ao ambiente, e também, o som da água corrente que fluía incessantemente do chuveiro no box... Era Ethel, seu servo e amante que se banhava com zelo em um trejeitos claramente narcisista – sem sombra de dúvidas, um aspecto do qual Ela sempre apreciou em seus amantes, em vida e na pós vida. Por alguns minutos, Hellen se pôs a admirar o jovem Liddane, estando ela parcialmente abraçada a uma das entradas de acesso ao banheiro, a mordiscar com suavidade os lábios, enquanto o flertava em detalhes, e que aparentemente ele não teria a percebido por se encontrar de costas, imbuído pelo acumulo de sons que preenchiam o espaço, e distraído em seus afazeres benfazejos.

Ilustração de R.M. Archer.
Ethel Liddane,
Servo da Lilitu Hellen Roja.
Como a ducha do chuveiro era quente, o box ao qual Ethel se banhava estava excessivamente enfumaçado de maneira tal que seria pouco provável que o mesmo percebesse a aproximação de alguém do lado de fora; assim como os sons da melodia no espaço somado ao da queda d’água, faziam de todos os elementos supracitados, fatores que colaborariam para que o servo não percebesse a sua predadora e fosse assim facilmente emboscado, ainda que este humano fosse um servo, e assim, sem delongas isso de sucederia... Pois, dada as circunstancias, o jovem servo não conseguiu percebê-la, e a sua impudica dominadora o surpreendeu pelas costas em um forte abraço, contraindo o seu pequeno corpo contra o corpanzil dele, correndo com avidez as suas mãos, narina, lábios e língua. Desta forma, Hellen se aproveitou de seu servo tempo o suficiente, e com o prazer que lhe era quisto, para iniciar algo no banheiro e finalizar sobre a cama, no intuito de adormecê-lo por horas afinco, e com isso seguir por demais horas em sua aleatória caçada noturna pela cidade.

Com o seu amante desacordado em seu leito, Hellen pegou o carro “emprestado” na garagem para seguir em sua intencionada empreitada noturna



Em um beco qualquer parcialmente envolto de sombras...


Hiroshi "John" Saito, um vampiro da Casta Gaki, transita silenciosamente e cauteloso, distante das vistas dos demais transeuntes, e encoberto pelas sombras de muitas vielas formadas pelos prédios desgastados, e aos quais ele se familiarizou com o passar do tempo. Pois, assim são os subúrbios das cidades norte americanas, ou possivelmente de todas elas pelo mundo à fora, sejam velhas ou novas, segundo a sua percepção. Não totalmente absorto em seus pensamentos para não se distrair, Saito caminha furtivo, encoberto pelo propício manto de sombras que toma como recurso natural, afim de garantir que aos menos capazes que cogitarem ter a impressão de tê-lo visto, duvidem quanto a veracidade do observado, e sigam seus caminhos, geralmente, em passos vagarosos como fazem os alheios, ou apressados, aqueles que temem pelas suas vidas e pertences.

O vampiro da casta de descendencia oriental, mudou-se há cerca de cinco meses para a cidade de Saint Augustine, especificamente, para um antigo bairro composto em sua maioria por uma população de origem também oriental (japoneses). e neste local tem levado uma vida essencialmente reclusa, por hora sem muitas ambições além de se manter a salvo, bem alimentado e seguro.

Ilustração de Oren Miller.
Hiroshi “John” Saito,
Vampiro da Casta Gaki
Atualmente, Saito reside no andar subterrâneo de um prédio que integra um modesto conjunto habitacional formado por algumas dezenas de edifícios de mesmo padrão. Tal empreendimento é um projeto de décadas atrás firmado em parceria entre os governos dos Estados Unidos e o Japonês. Os prédios em sua maioria hoje já não são habitados somente por descendentes nipônicos, pois, muitos que ali residiram inicialmente por concessão dos governos fiadores, ou passaram para frente a titularidade do patrimônio, ou retornaram para o Japão, e a realidade do momento implícita é que existem mais vietnamitas, sul-coreanos, chineses e latinos (sobretudo, mexicanos e brasileiros), seja na condição de proprietário ou inquilino. Enfim, de vista, e sem deveras empatia, ele conhece muitos de seus vizinhos em seu prédio e nas mediações adjacentes, mais como uma forma de se precaver, mas com certeza, muito deles nem sabem se ele existe ou é real. 

O motivo pela adoção de uma vida mais reclusa, enquanto residente de Saint Augustine, deve-se por um fato em específico ocorrido meses atrás em sua chegada... Quando na cidade anterior em que residiu por quase cinco anos, Richmond (Virgínia), o mesmo se viu envolvido em uma trama que culminou no homicídio de seus dois servos (Klein Tristan Mitchell e Ae Young Moon) e um ancião da Casta Vyrolakos, ambos assassinados por vampiros, e com o suporte de caçadores, e que por vez, desencadeou em uma batalha sangrenta entre duas legiões de Castas ditintas (Lilitus x Vyrolakos), e a Saito foi atribuído de maneira arbitrária o julgo de “assassino”, sem a menor chance de contra argumentar em autodefesa.

Quando o Gaki chegou na cidade de Saint Augustine – meses atrás -, logo tomou conhecimento sobre a existência do antigo bairro e das características peculiares dos populares da região e que poderiam lhe aferir alguma sutil empatia, e o que de fato ocorreu. Sendo assim, ele logo chamou por um táxi para que o levasse até o lugar, afim de encontrar o mais breve possível um refúgio para se estabelecer ao longo do dia, visto a proximidade do amanhecer. E foi ainda nesta infortuna madrugada que Saito conheceu o Adze Tobias Iwealla “Tob”.



Transitando em velocidade moderada pelas avenidas, e a procura de...


Ainda percorrendo a área nova da cidade – isso por volta de umas 22:00 -, no intuito de encontrar alguma presa aleatória pelas mediações, o celular da Hellen toca, e o telefone que chama não é de alguém conhecido, mas mesmo assim ela resolve atender em função da insistência: 

- Olá Lilitu amiguinha do Adze Tob... Você não me conhece, e eu tão pouco a você, mas temos este “amigo” em comum, e como fora noites atrás bem referenciada pelo mesmo, resolvi por bem convidá-la para integrar um grupo de trabalho em uma pequena operação para desbancar a ação de uma legião afrontosa que atenta contra a paz de nossa cidade, e isso incluí a sua tranquila vida libertina e a dos seus irmãos de casta. E, antes que me pergunte, o Sr. Iwealla também integrará o grupo. O que me diz sobre? Posso contar contigo em nossa frente de trabalho? – A voz era metódica e endossada de um leve sarcasmo.

Desenho por Bruno Sather
Tobias Iwella "Tob"
Vampiro da Casta Adze
Hellen pensa por um breve momento, mas antes de firmar este compromisso para com esse estranho interlocutor, ela reflete rapidamente sobre o conhecido Adze Tobias Iwealla “Tob”, e o quão este último foi significativo noites atrás quando perambulava errante como uma criatura da noite recém chegada a cidade de Saint Augustine... “Por esse Adze em especifico vale pagar a moeda de favor que lhe devo... bem mais importante, que o tribuno de minha casta por essas redondezas”. Por fim, ela se manifesta:

- Ok, aceito a oportunidade de empatar a foda dos outros. – Assim, Hellen firmou com o seu misterioso contratante.

- A princípio conseguimos identificar sete servos que adentraram a nossa cidade, e que aqui residem, ou estão em constante idas e vindas, para manter seus senhores avisados, portanto, quanto a estes visitantes precisamos com brevidade liquida-los, e, consequentemente, transmitir um recado claro aos invasores, além de encerrar essa comunicação. – O sarcasmo de outrora de seu interlocutor sumiu para tomar um tom mais ríspido. – Em alguns minutos devo-lhe retornar o contato para definir um ponto de partida inicial para não mais tempo.

Tão repentino o estranho que entrou em contato com Hellen Roja, ligou, do mesmo modo encerrou.

Agora em seus pensamentos e lembranças, a vampira Lilitu reflete o dia em que conheceu o Adze Tobias Iwealla “Tob”, e como isso lhe foi suficiente capaz neste momento aceitar ingressar em algo nebuloso e desconhecido, sobretudo, sugerido por um contratante tão igual quanto o ofertado, e pelo simples mencionar do nome do “amigo” da casta Adze, e o seu envolvimento no trabalho.

"Havia chegado recentemente na cidade de Saint Augustine - não mais que duas semanas ao certo -, e a minha companhia era a serva, Violla Santinni, uma ex-policial exonerada da corporação por má conduta, que ganhava a vida como investigadora particular, e era tão voraz sexualmente quanto a mim. Foi ela quem me convenceu a residir nesta cidade, e sair de Nova York... E antes não houvesse saído se soubesse que o preço deste esforço para salvar as nossas peles de uma Legião de Ghuls seria a morte de Santinni neste lugar. E foi em uma fatídica noite de transitar aleatório para conhecer a vida noturna de alguns lugares da região, e emboscar presas para se alimentar, que eu e Violla fomos cercadas por um grupo de Caçadores de Vampiros. Não vou esquecer nunca do gesto caridoso e empático de minha companheira para com uma moradora de rua cega digna de pena que aparentava ter sido acometida por algum grande problema... uma sutil armadilha, claro. Poderia ter sido finalizada ali naquele momento com a minha amante se não fosse a intervenção do Adze Tobias Iwealla “Tob”. Juntos, eu e Tob, conseguimos liquidar e afugentar alguns caçadores, mas a minha amante teve de ser levada as pressas para um Pronto Socorro para receber os devidos cuidados médicos, pois, havia perdido muito sangue e estava perdendo a consciência em função das balas que a alvejaram. No Hospital, eu fiquei sabendo na noite posterior que Santinni havia perdido muito sangue e que havia chegado no lugar entre a vida e a morte, com possibilidades mínimas de sobrevida, e que o máximo que poderia ser feito por ela seria sedá-la e coloca-la em coma induzido até que se recuperasse. Semanas se passaram desde o incidente, e com ela a minha angustia e incertezas quanto ao destino de minha amante só aumentavam, sobretudo, vislumbrando diariamente o seu corpo definhar. E foi em um dado momento destes, que Iwealla reapareceu para me dizer que no início da noite que Violla havia tido uma parada cardíaca logo pela manhã, e que se eu ainda tinha desejo em relação a se vingar, pois, ele havia descoberto onde um dos caçadores sobreviventes se encontrava.  Não hesitei em aceitar a oferta do Adze em cumprir a vingança, mas que estava disposta a fazê-la sozinha, sem qualquer intervenção. Nós fomos ao encalço do caçador sobrevivente, e lá descobrimos que ele não estava só, tinha a companhia de mais dois novatos, dos quais destinei estes últimos a fazer o que bem entendesse Tob, enquanto eu me saciaria do maldito caçador que parcialmente abateu a minha amante Santinni".



Fim de noite, e mais sangue há de ser derramado.


Por meio de um servo de terceiros, o Adze Tobias Iwealla foi informado e incumbido de seguir o Gaki Hiroshi Saito, uma vez que, o ocorrido na cidade de Richmond já havia sido disseminado em conversas truncadas entre alguns desmortos, e posto em alerta pontuais grupos de vampiros do leste do país. O fato é que, neste momento, a cabeça de Saito já se encontrava à prêmio, e se tornará uma moeda de troca em potencial, mas não para Tobias, a priori.

Ilustração de Jasper Sandner.
José Tess Sellon,
Veterano Caçador de Vampiros.
Na furtiva perseguição executada por Tobias Iwealla ao Gaki recém chegado a Santi Agustine, o primeiro não percebeu sendo perseguido por um grupo de cinco caçadores, dentre eles um conhecido, e renomado algoz do sobrenatural, que possivelmente liderava e coordenava a ação dos demais envolvidos, um chileno chamado José Tiess Sellon. Por fim o vampiro da casta Adze foi cercado por seus captores, contudo, sem saber da presença do mesmo, o Gaki identificou a movimentação suspeita de alguns humanos ao seu redor, e que se revelaram caçadores em seus trejeitos.

- Se Você não quiser cair aqui também, considere me ajudar! – Essas foram as palavras ditas entre os dentes por Tobias diretamente a Hiroshi em uma breve troca de olhares. O oriental tentou se afastar a passos largos de toda a situação, mas a imperceptível comunicação foi entendida pelo veterano caçador Sellon. Saito o fitou Adze de cima a baixo, e em uma notória percepção de que mais uma vez fora envolvido em algo além do aguardado, ele acatou.

E, logo iria amanhecer.

Em um confronto nos becos, Saito e Iwealla conseguiram liquidar quatro de seus caçadores liderados por Sellon, contudo, somente conseguiram deixar o caçador chileno gravemente ferido, pois, logo mais tarde (em minutos!), os destroços e corpos de caçadores foram recolhidos, antes mesmo da polícia chegar para atender a denúncia local de um possível conflito entre grupos criminosos.

Posteriormente, o Adze Tobias Iwealla “Tob” veio a saber que o caçador chileno havia ficado com uma das vistas comprometida, além da movimentação de um dos braços, e que isso de alguma forma fora o passaporte de volta para qualquer outro lugar além de Saint Augustine.

Em função do abrupto amanhecer, e com a intensão clara de se manterem vivos, sobretudo, sem tempo para quaisquer questionamentos -, Tobias ajuda Hiroshi a obterem um lugar para ambos se refugiarem, e dada as circunstâncias, o oriental recém chegado não discute e muito menos dispensa o suporte do desmorto, que a essa altura da história compreendia ele estar o seguindo. Contudo, ao despertar no dia seguinte, Saito não encontrou Tobias, mas este último deixou no local o celular.

Neste aparelho largado pelo Adze havia uma série de mensagens trocadas com diversos interlocutores desconhecidos - salvo o Senhor Tobias -, mas que fora suficiente para Hiroshi compreender o quão negativo o assassínio daquele desconhecido ancião ocorrido no estado da Virgínia havia o colocado em uma situação perigosa dentre os desmortos... Independente disto, da parte de Tob, havia um recado para ele conciso de gratidão, para se manter vivo, e para todos os fins, de que ele havia sido destruído pelos caçadores na noite anterior.

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