Bem-Vindo Errante Viajante

Do Olimpo trago a almejada chama, da qual sugiro dançarmos embriagados a sua volta, e quando assim for, sujiro arriscar tocá-la, pois, felizes os que dela se queimarem.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

RPG: Aventuras em Yrth - Fragmentos: Um abstruso caminho para frente e para cima, com toda certeza.

Uma complexa jornada sobre as Montanhas de Bronze.

Dia 14: 01/03/2111, sobre a regência de Peixes.

Logo no início da manhã, Delvin e Dionísio seguem até ao mercado para encontrarem Yoleuss, o gnomo, com quem o halfling havia negociado na noite anterior um equipamento que poderia auxiliar a todos no processo de escaladas da montanha onde esta localizada a ruina. Sem dificuldade, eles encontraram a oficina dos gnomos. Os astutos comerciantes transmitiram aos mercenários a melhor maneira de manusearem o mecanismo, assim como também, o cuidado que deveriam ter no transporte do mesmo, sobretudo, para não serem avistados com ele.

O fato é que o equipamento comercializado pelos gnomos não era completo, ele requeria uma parte a qual os mercadores não poderiam dispor: uma espécie de “braço de apoio” feito a partir de madeira firme, e, mais uma vez, Dionísio foi ao mercado buscar material e os préstimos de um ótimo marceneiro para que fosse aprontado o tal item complementar. O anão queria escolher as melhores peças em madeira e pedir a execução da atividade em sigilo pelo artesão, senão, sem que ele mesmo nem compreendesse o que estaria a fazer, ou tivesse uma ideia muito vaga sobre o desejado. Para isso, ele recorreu novamente a Yoleuss e os seus comparsas que o ajudassem no arranjo do mecanismo.

O dia posterior ao envolvimento de Marduk com a rameira Lesley também deixou sequelas pelo corpo do nômade... Uma coceira impertinente na virilha estava retirando do gigante a concentração – algo que poderia afetar o seu desempenho na empreitada, senão viesse a ser tratado. Contudo, ele preferiu não compartilhar tão enfermidade e seguir solitário e inquieto com a sua mazela. Porém, este é um tipo de comportamento que dificilmente passa despercebido por aqueles que estão às voltas de quem sofre, pois, os humores também tendem a oscilar.

A conversa no período em que o anão guia esteve longe permitiu a Delvin relatar a Marina do estranho objeto que havia surgido em um de seus bolsos: uma estranha moeda, que aparentemente era feita em ouro maciço, porém, sem qualquer cunho de emblema que a identificasse. E o halfling relatou que a mesma havia surgida em sonho, e que por algumas vezes, já acordado, ele conseguia ver brevemente em uma das faces o rosto de Grover, o seu mestre. Ele entregou a moeda nas mãos da amiga para que a mesma averiguasse se o misterioso item possuía algum tipo de propriedade encantada, contudo, em nada resultou.

Era meadas da tarde quando Dionísio retornou a hospedaria convocando os mercenários para irem com ele a oficina dos gnomos.

Na oficina, o grupo pode presenciar o braço feito em madeira maciça e os mecanismos de roldanas devidamente acoplados a ele. O Grupo ficou maravilhado com a engenhoca e ansioso em testá-la, e, até sugeriram em leva-la até ao paredão ao qual praticaram escaladas exaustivamente no dia anterior, porém, Dionísio foi categórico em se negar a fazê-lo, pois, o local era próximo a vila, e o que poderia, consequentemente, facilitar as vistas de um curioso.

Os mercenários envolveram o equipamento em uma pele de um animal a fim de disfarça-lo na saída da oficina do gnomo Yoleuss.

Thridway orientou aos mercenários que aproveitassem o resto do dia para averiguarem os seus equipamentos e suprimentos, pois, como o mercado ainda estava acessível, os mesmos poderiam adquirir aquilo que lhes fosse útil nessa empreitada. O Anão destacou que seriam necessários pelo menos dois dias de refeição até as ruinas, e, assim também para voltar, quanto ao tempo de estadia lá em cima, isso dependeria exclusivamente da motivação deles, contudo, ele frisou que o quer que eles venham a fazer lá dentro (nas ruinas) deveriam ser breve.

Ao longo do dia, Marina percebeu algo de diferente no guia, o anão Dionísio, pois, toda vez que fora mencionado sobre as ruinas, ele franzia a testa e procurava se evadir da conversa, contudo, ela preferiu não importuna-lo. Porém, ela tinha certeza de que ele sabia de algo e que ainda não havia revelado por algum motivo.

O sono que os aventureiros almejavam ter foi parcialmente resumido a poucas horas de algo que realmente lhes ofertasse algum conforto, embora, estes últimos pensamentos tenham sido menos perturbadores, pois, a mensagem havia se mantido intacta e com uma ou outra peculiar diferença.

O guerreiro SnowFinger novamente se viu paralisado de joelhos sobre a neve, sentindo o seu corpo sendo tragado pelo frio que lhe subia pelas pernas e que também se manifestava de forma agressiva pelas rajadas de ventos lançadas contra o seu peito. A neve por muito pouco lhe cobria as vistas, onde somente o que conseguia perceber eram vultos assombrosos de coisas indistinguíveis... Exceto, pela valquíria de cabelos avermelhados que se apresentava metros a frente, de pé, imponente olhando em sua direção como se o desafiasse. O seu cabelo enrijecido pela temperatura gélida se movia pouco ao toque do vento, embora, pudesse sentir que a cada tentativa do vento de fazê-lo se mover parecia tentar lhe arrancar o próprio escalpo. Em seus braços, Maduk percebeu o peso daqueles três corpos, que jaziam semi cristalizados em seu colo, diluírem-se a nada quando ele por fim, ergue-se, como quem estivesse disposto a aceitar o desafio retido no flertar daqueles olhos selvagens... Ele caminhou em direção ao vulto da mulher sentindo com isso a tempestade se findar, e, em seu ouvido, a voz dela mais uma vez ressoar: “Os olhos perceberão vida onde somente há morte... Confia no teu instinto aguerrido, sobretudo. O teu inimigo se amparará nas tuas fraquezas... Corroendo a tua visão, a tua mente e o teu juízo. Nem uma arma é mais letal que a verdade, Quando empunhada com convicção”. Quando ele chegou até o local onde estaria a mulher, lá ela já não mais estava - havia desaparecido tal como teria surgido -, porém, somente a visão de um lugar ao qual ele muito apreciava de suas terras, um local do qual ele podia avistar a movimentação de muitos homens que ousavam afrontar a soberania de seu clã... Foi quando ele se agachou para olhar ao horizonte, então pode sentir ao seu lado a presença amada da companheira, Drunna.

A arcana Marina, aparentemente mais consciente do terreno onírico que atravessa ao longo desses dias sobre as Montanhas de Bronze, via-se novamente lançada em meio à tempestade que surgira na lembrança vivida de seu santuário no jardim de sua antiga residência em Nova Jerusalém... Ela estava no olho do furacão, porém, menos afetada pelas rajadas de vento e a violência do ambiente que outrora havia lhe ferido. Sobre a sua cabeça, uma luz clara e constante que vinha do alto, onde também girava com demasiada velocidade um grimório, cujas páginas eram brutalmente arrancadas e lançadas no movimento circular da nebulosa ventania. Algumas das páginas que se chocavam contra o corpo da jovem estouravam em pequenos estilhaços luminosos que repentinamente se dissipavam. Ela chegou a fechar os olhos diante de tantas cores que vibravam a sua volta, como se previsse que aquilo pudesse lhe fazer algum mal, no entanto, mais uma vez, ela ouviu o ressoar da voz afável de sua mentora lhe dizer com voz penetrante em sua mente verbetes de magias que as quais não conheciam... E, antes que recobrasse a consciência total, Marina foi alertada “Filha minha, cuidado em teus caminhos... Muita atenção quanto, ao teu inimigo que espreitará a todo instante os seus caminhos por meio de vias sombrias e escuras. Pois, ele se fará forte sobre as suas fraquezas. Ele atacará você e a quem mais estiver em sua companhia, fazendo de seus companheiros possíveis armas, somente para sobressair ao combate”. Ela recobrou a consciência sentindo o último toque sutil de sua mestra sobre as suas mãos contra o seu peito.

O audaz Delvin se viu mais uma vez no cômodo do antigo trabalho que estava a executar em favor de um mago em Nova Jerusalém, porém, ele estava em meio a um problema que envolvia: o desaparecimento de seu mestre, as paredes que pareciam se comprimir rapidamente e o cerco de desconhecidas criaturas que a qualquer momento se lançariam sobre ele. E, como senão bastasse, ele viu as suas moedas de ouro, recolhidas com tamanho afinco naquele insólito ambiente, saltarem pelo ar, e a única moeda que apanhou, com um brilho distinto das demais, viu o semblante do rosto de Grover que lhe disse: “Cuidado com o inimigo que age nas sombras, ele, é ainda mais traiçoeiro do que todos que já conheci. Ele vai colocar cada um de vocês em lados opostos, e, o mais importante, vai atacar por suas fraquezas”. A moeda brilhou de tal forma, que muito antes da mesma lhe cegar por meio do brilho – que já não podia ser contido pelo braço a frente ou os olhos fechados -, o pequeno ladino a deixou cair no chão pelo calor que o item também passou a emanar sentindo queimar a palma da mão que a segurava. A moeda quicou por três vezes ao chão até que a mesma explodisse em um imenso clarão... Delvin acordou sentido a palma da mão que em sonho empunhava a moeda formigar, assim como o calor ameno da moeda em seu bolso.

O espadachim Worean estava mais uma vez a cambalear sobre a embarcação que navegava em um revolto mar rubro de sangue, o vento que soprava de maneira impetuosa a rasgar as velas, os gritos de homens que não via, assim como o correr destes fantasmas invisíveis sobre o assoalho da embarcação... A única voz que conseguia guardar para si, e, ter a certeza de que não era o único ali, era a de seu avô: “Atenção para as nuanças daquilo que ver. Nem tudo e Nem todos são reais, portanto, duvide. O inimigo saberá como lhe atacar... Sustentado e Armado com as suas fraquezas”. Ele tentou se colocar de pé, e, o corpo parecia estar bastante debilitado pelas forças empenhadas nas frustrantes e recorrentes tentativas, porém, quando ele por mais uma vez buscou fazer aquilo que tanto ansiava, ele conseguiu se colocar por completo de pé, e assim, sentir como se a luz do sol brilhasse sobre o seu rosto de forma acolhedora, penetrando e dissipando as nuvens enegrecidas que cobriam o céu... Não havia mais fantasmas sobre o convés, a correr e a gritar; o mar subitamente se apresentou calmo e azul, tal como sempre teve em suas memorias mais distantes; e, o vento que sobrava sobre as velas, firmes e claras, era tal como uma brisa convidativa a navegação.


Dia 15: 02/03/2111, sobre a regência de Peixes.

No inicio da manhã, os mercenários saíram em direção à montanha que os conduziria ao seu destino, e, foi somente, quando estavam muito distantes da Vila de Baramphas que Dionísio resolveu lhes dizer sobre o local para o qual estavam se dirigindo. E, Marina então sentiu verdades nas palavras proferidas pelo guia, verdades tais que calaram parte de sua curiosidade.


RUÍNAS DE THARGODDAS
Mistérios, Rumores, e Contos Inacabados de um clã anão desaparecido.

Ilustração por Raphael Lacoste.
Ruínas do Reino Anão de Tharggodel.

"Eu quero lhe presentear com um belo rubi...
Ele não é de Thargoddas, pois, não seria presente.
E se fosse, ao meu inimigo seria mais digno tal sortilégio.
Essa joia reflete a beleza de um sentimento genuíno,
Onde a confiança e o respeito mútuo se fizeram dignos".

- Um dito popular dos anões dos reinos de Morriel
 e adjacências sobre rubis.

São poucos os anões vivos em Ytarria que podem mencionar algo sobre o Povo de Thargoddas do Reino de Thargoddel, pois, são escassos os registros que se tem a respeito desse clã, uma vez que, o que se conhece sobre os mesmos deixou de ser escrito a cerca de mil anos.

Os Thargoddas eram um clã menor vinculado a outro grande clã anão, os Morthrinn (Reino de Morriel). Eles eram reconhecidos pelo seu genuíno trabalho em pedras preciosas, sobretudo, rubis. O último rei deste clã foi Hyppus Thargoddas, e a sua esposa e rainha era Lanths Morthrinn. Desde o evento cataclismo, estes anões cessaram o seu contato com o mundo exterior, selando a sua passagem para que eles não fossem importunados por criaturas desconhecidas e interessadas em furtá-los - uma atitude de aversão que fora tomada como pratica por outras muitas comunidades da raça. Eles se reportavam e somente mantinham contato com o Rei de Morriel, mas mesmo assim, um contato distante e frio, que os últimos anos se resumiram ao envio de alguns de seus trabalhos como pagamento de seus tributos de gratidão ao Rei. No entanto, quando até mesmo esse último contato se encerrou foi necessário enviar algumas comitivas para saber o que estava acontecendo em Thargoddel, e, o que os sobreviventes relataram foi algo desolador, pois, o lugar estava inabitado por anões, parcialmente destruído e enfestado por criaturas oriundas de medonhos pesadelos.

Para o Clã Morthrinn, e o que muitos outros anões sustentam, é que os Thargoddas encontraram um meio para chegar aos Domínios Profundos – sem comunicar ao Rei de Morriel ao qual deveriam se reportar. Uma atitude inadvertida como essa já custou a vida de muitos outros clãs, não somente menores, pois, tomados pela ambição de explorarem as inóspitas regiões abissais do mundo, eles acabaram sendo vitimas do doce perfume da morte.

Rumores falam que pouco mais de alguns anos passados desde a última tentativa de averiguação das minas dos Thargoddas, uma grande caixa repleta de rubis lapidados foi destinada ao avô de Morkagast, tal como a tributação que era comum ser feita pelo povo de Thargoddel, algo que a princípio trouxe esperança e alívio ao Rei de Morriel. Porém, aquelas pedras foram todas mantidas intactas até que um mago as avaliasse com cuidado, pois, elas possuíam um estranho brilho e que gerou em alguns anões próximos ao rei um sentimento notório de desconfiança... Não precisou a noite virar dia, para que a rainha suplicasse copiosamente ao Rei que se livrasse daquele maldito presente, pois, em sonhos ela havia tido presságios ruins a respeito dessas pedras. A desconfiança se tornou ainda maior ao ponto de se tornar uma preocupação, quando o arcano responsável por analisar as joias também desapareceu, sem deixar quaisquer vestígios.

Outros clãs anões tentaram se apossar das Ruinas de Thargoddas para estabelecerem moradia, reergue-la sobre um novo signo de prosperidade, contudo, tal empreitada não resultou em nada além de mais mortalhas e infortúnio, o que acabou trazendo ao local a sua afamada maldição.

Também houve grupos de inadvertidos aventureiros que se lançaram sedentos em busca dos tesouros do reinado de Hyppus Thargoddas, porém, o pouco que se soube desses, é que eles partiram munidos de muita coragem e expectativas rumo as famigeradas ruinas, no entanto, permanece com todos aqueles que os viram seguir para tal lugar a dúvida se estes obtiveram êxito na empreitada, ou se pelo menos, ainda estão vivos...

***

Os mercenários chegaram até um local um pouco acima dos pés da montanha que deveriam escalar – o último lugar possível de locomover andando em função de sua inclinação -, e, no local encontraram alguns funestos vestígios de homens que falharam em tal empreitada... Corpos de muito tempo destruídos por quedas descomunais frutos do tamanho do desafio que estavam prestes a encarar.

Como o grupo havia combinado, Delvin seria o primeiro a subir, de forma que pudesse preparar todo o caminho que os aventureiros iriam percorrer por meio dos acessórios (martelinho, ganchos, pítons e cordas), então, nesse sentido, Dionísio e Marduk, cederam as ferramentas que dispunham e que não prejudicariam o desenvolvimento da atividade do halfling por conta de excesso de peso. O halfling levou algum tempo até conseguir chegar a um local seguro a mais de oitenta metros de altura, e, plano o suficiente para abrigar mais alguns companheiros. Do local, ele sinalizou para os demais subirem, pois, estava avido por completar essa parte do trajeto e se alimentar - a fome já lhe batia traiçoeiramente a porta.

Dionísio subiu logo em seguida levando consigo o equipamento que auxiliaria Marina a escalar com menos esforço, além do restante da carga. Entretanto, quando estava prestes a alcançar metade do trajeto feito pelo halfling, o anão falhou desastrosamente em sua atividade, e, o que por muito pouco não lhe custou à própria vida... A sua queda foi devidamente poupada pelas cordas e os pítons, e, embora tenha evitado uma tragédia maior, custou o equipamento que o grupo havia adquirido com os gnomos, uma vez que, ninguém que estava embaixo pode evitar que o impacto o destroçasse em pedaços irreparáveis... Quase todos se esquivaram com o receio de que aquilo atingisse alguém, exceto Marina, que foi ferida por uma dos estilhaços. O anão ficou içado a metros de altura até se recompor para retomar a subida, sentindo algumas dores no ombro pelo impacto na parede além das cordas que o pressionaram.

Delvin estava longe do incidente e não pode discriminar o som ouvido, e nesse momento seguia na busca de um local que eles e os demais poderiam prender o equipamento.

Passado algum tempo, Worean iniciou a subida, e, o espadachim até seguia bem na atividade de escalada, quando em um descuido a cerca de pouco mais de sessenta metros, ele rolou em meio às cordas que o seguraram evitando um desastre maior, porém, ainda sim, a pancada foi suficiente para lhe deslocar um de seus ombros e incapacitar o seu braço esquerdo, o que o manteve içado, e absorto em dor.

O último a tentar subir o colosso natural foi o nômade, e, como o mesmo não havia demonstrado muita aptidão em seu treinamento, assim, logo ele empacou em meio ao trajeto de escalada, ficando içado a poucos metros do chão.

Marina assistia sutilmente consternada o desafio que seus companheiros enfrentavam em subir aquela montanha, pois, sabia que os dons mágicos que havia aprendido até então de pouco ou nada poderiam ajuda-los. Naquele momento, ela precisava contar com eles, e, quem sabe em um futuro breve, retribuir a gentileza.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

RPG: Aventuras em Yrth - Fragmentos: Existem perigos naturais mais traiçoeiros.

Instruções necessárias para sobressaírem aos desafios naturais.

Dia 13: 29/02/2111, sobre a regência de Peixes.

Disposto a não perder mais tempo, Dionísio Thirdway pediu que os mercenários pegassem o seu material de escalada para iniciarem o treinamento. Esses exercícios na companhia do instrutor seriam realizados em um paredão não muito distante da vila, um local que o Delvin já havia sido apresentado dias antes, e, tratava-se de uma parede natural com pouco mais de cinco metros com algumas imperfeições típicas.

O treinamento durou quase o dia inteiro, e eles subiram e desceram por incontáveis vezes aquele paredão até que Dionísio pudesse perceber quem deles seriam os mais aptos a seguirem a frente do grupo quando estivessem no desafio real das montanhas, pois, um dos locais pelos quais seguiriam era pelo menos dez vezes maior que essa parede de exercícios. Nesse caminho, tido como o menos provável de encontrarem Grimlocks, eles lidariam com o algo mais traiçoeiro, as correntes de vento, portanto, subir requeria muito cuidado em relação às condições do tempo e horário.

Marina e Marduk se mostraram despreparados em relação à escalada com o uso dos itens básicos dessa atividade, e por mais de uma vez penderam içados pelas cordas de segurança. Worean conseguiu se sair bem. E, Delvin, conseguiu superar a todos, inclusive as expectativas do próprio tutor, que não tinha dúvidas em relação a função deste, o halfling teria que ser para essa atividade a peça chave e o primeiro a seguir a frente preparando o caminho para demais, pois, Dionísio ficaria como retaguarda e apoio, caso algo desastroso ocorresse.

O último treinamento do dia, e, que Dionísio fez intercalado com o exercício de escalada era o de Sobrevivência nas Montanhas. Embora, caso somente um pudesse dar conta de todo o grupo, isto é, na busca de abrigo, segurança, alimento e outros, ele precisava ter certeza que todos os demais estariam aptos a dar conta do recado caso o mais preparado viesse a faltar, e, isso o incluía. O treinamento em sobrevivência se mostrou favorável a todos.

Ao término das atividades do dia era consenso de todos se dirigirem a uma taberna mais próxima para se alimentarem dignamente. Marduk e Worean também queriam beber, e, o primeiro estava afoito por copular, e ambos seguiram a frente do grupo, uma vez que, os demais preferiram antes de seguirem para taberna passarem primeiramente na hospedaria.

Dionísio indicou para Marduk e Worean a Taberna dos Lobos Bufões, conduzida por um humano, pois, nesse local encontrariam além de bebida, comida e música, o entretenimento feminino que desejavam, exceto de anãs, que foi rispidamente respondido pelo anfitrião anão sob a possibilidade de sofrerem represálias caso mencionassem isso diante de outros.

Ilustração por Daroz.
A Taberna Lobos Bufões na Vila de Baramphas, dentro do Reino Anão de Morriel, o único local que poderia ofertar aos viajantes além de comida e bebida, os prazeres lascivos da carne, na companhia de algumas mulheres.

Na taberna, os dois escolheram uma mesa que pudesse comportar os cinco, e, iniciaram a sua atividade de entretenimento a base da alcoolização. Tempos mais tarde, Dionísio, Delvin e Marina surgiram e se juntaram a mesa. O Halfling estava com tanta fome que gostaria de se servir com o que a casa tinha de mais generoso para lhes servirem, e, as gnomas que atendiam ao grupo, mencionaram uma iguaria chamada de A Moda dos Lobos Bufões...

Para os estrangeiros advindos de outros reinos, sobretudo, os humanos, é perceptível que em Zarak, as tabernas para não embromarem muito com nomes exóticos em suas principais refeições, elas simplesmente denominam o seu prato mais servido em comida de A Moda da Taberna ou Cidade, prático assim.

Enquanto a refeição não vinha, o grupo se servia de bebida para aumentar o apetite.

A taberna possuía um número moderado de fregueses naquela noite, a maioria destes, por sua vez, tratava-se de indivíduos da própria localidade, humanos, gnomos e anões. Uma trupe de bardos gnomos liderados por um humano tentavam executar sofrivelmente algumas melodias que pareciam estar em desarmonia com o ambiente desde a chegada do Bárbaro e o Espadachim, matadores de gigantes... Até que lhes foi possível encontrar uma nota adequada com a visão encantadora de Marina.

Delvin, muito atento ao ambiente, começou a observar o local e os seus frequentadores com a sua dissimulada atenção, ou seja, primeiro os perigos ou os promissores frutos externos, e em segundo, a aleatoriedade da conversa de seus companheiros. E, foi desta forma que o sagaz halfling percebeu algo de favorável para o grupo, ao ver em um animado grupo de comerciantes gnomos, que jogavam dados descontraidamente, mencionarem que haviam negociado equipamentos com os anões de Morriel que seriam favoráveis a escalada.

Como a refeição ainda não havia chegado, Delvin se levantou e pediu a Marduk atenção, pois, ele iria se aproximar da mesa dos gnomos.

Ilustração por Alphabethater.
Yoleuss, o gnomo comerciante que
Delvin negociou um item incomum
de escalada oriundo das profundezas
do Reino Anão de Morriel. Contudo,
o halfling não satisfeito com o preço
adquirido na barganha tentou intimida-lo,
o que resultou em um desgaste que
por muito pouco não liquidou todo
o negócio.
O halfling se aproximou da mesa para se certificar da amistosidade como seria recebido pelos gnomos, porém, antes mesmo de ser convidado a se sentar e jogar, ele percebeu que aquela mesa de jogos era desfavorável a sorte, pois, um dos membros estava trapaceando nas jogadas. No entanto, Delvin aceitou o convite de se assentar para negociar o tal equipamento do qual os gnomos havia mencionado minutos atrás, e, embora, eles parecessem desconfiados pela forma como foram abordados, eles aceitaram negociar. Yoleuss, o gnomo mais falante e que parecia ser o dono do item, chegou a um valor de seu interesse, e pediu que na manhã do dia seguinte o halfling estivesse na oficina com as moedas.

Delvin tentou melhorar ainda mais o preço negociado com Yoleuss, e para isso, ameaçou-o de informar aos seus companheiros de que ele estava trapaceando na mesa de jogos... O gnomo, por sua vez, em tom ameaçador rebateu aquele afrontamento com uma elevação do valor, a possibilidade do fim do negócio e outros perigos mais que ele e o seu grupo poderiam adquirir agindo daquela forma nessas terras.

As gnomas que atendiam a mesa do grupo ficaram de arranjar uma companhia adequada para atender o imundo bárbaro, uma vez que, nenhuma delas ou qualquer outra das meretrizes que trabalhavam no local, gostaria de fazê-lo, e, para isso só havia uma fêmea na cidade capaz de se sujeitar a tal atentado: Lesley, A Belezona.

Dionísio não tinha muito interesse em saber como a história iria correr depois dali para o grupo, sobretudo, as peripécias sexuais do bárbaro, portanto, ele comeu e bebeu o suficiente para logo em seguida deixa-los à vontade para aproveitarem o resto da noite.

Não tardou para que a afamada Lesley adentrasse o recinto da taberna fazendo com que alguns homens já murmurassem injurias a respeito da simples presença dela no mesmo ambiente, pois, além de Marina, as gnomas e algumas mulheres que estavam no local, nada poderia ser equiparado aquele tipo único de mulher... Ela até se assemelhava a uma mulher de corpo esbelto, porém, o seu rosto era algo pavoroso, uma criatura sem pai e nem mãe. O fato mais gritante é: se ela fosse uma orca, ou mesmo uma meia orca, já estaria morta, mas não era, para tristeza de muitos que ali estavam.

As gnomas acenaram para que Lesley se aproximasse da mesa onde estava o bárbaro que a desejava, e, ela imediatamente se sentou ao lado dele, e com um apetite voraz bebeu e comeu à custa de seu acompanhante. Assim como o bárbaro, a Lesley não demonstrava nenhum tipo de modos a mesa e fazia sem qualquer resquício de culpa, sobretudo, percebendo no semblante de Marduk que o mesmo se satisfazia desses trejeitos. Ela também exalava um odor muito peculiar.

Marduk apostou uma moeda de prata de que aquela mulher não seria suficientemente capaz de derruba-lo na cama. E, ela achou aquilo um afronto desmedido, sendo assim, a Belezona se predispôs a receber no mesmo leito a ele e mais os seus outros companheiros, pois, ela tinha fôlego o suficiente para arrebatar toda a raça de homens que haviam naquele lugar. 

Afoito e com sede de saber até onde iria o folego dessa mulher, o bárbaro não perdeu mais tempo puxou Lesley pelo braço com uma jarra de cerveja em mãos e a conduziu para um dos quartos.

Ilustração por Autor Desconhecido.
Lesley, A Belezona, uma insaciável e
afamada meretriz que vive na Vila
de Baramphas, cuja aparência é um
tanto duvidosa, pois, embora possua
traços de uma meia orc, essa é
aparência que ela forjou a alguns
anos atrás,
SnowFinger foi com tanta sede ao pote que não tardou para reconhecer o fato de que estava diante de uma mulher forjada em leitos de chamas ardentes, pois, ela sabia de fato como dar prazer sem qualquer resquício de frescura ou pudor. Ele apagou com uma breve visão dela se vestindo e saindo pela porta resmungando algo...

Lesley desceu a escada sorridente pela tarefa cumprida. Imediatamente, ela requereu do grupo de Marduk sentado a mesa a moeda de prata prometida... Worean duvidou das palavras da mulher e pediu para que Delvin fosse checar, algo que ela achou desnecessário, pois, poderia dar conta quem mais estivesse disposto. O halfling nem perdeu muito tempo avaliando o estado do Grandão, pois, o odor não era nada agradável, apenas constatou a verdade e avisou aos demais.

Assim que ela recebeu a moeda de prata, Lesley se insinuou para todos demais homens do recinto, perguntando de maneira afrontadora, se haveria homem suficiente para lhe dar prazer naquele lugar, pois, o único que aparentava ser mais homem dentre todos que ali estavam, nesse momento, estava caído em uma cama acima deles, recuperando-se de uma surra memorável de sua voraz crespa – ela sorria desdenhosamente enquanto acariciava a sua vulva, enquanto os homens seguiam murmurando injurias. Como ela percebeu o desafeto do taberneiro, sobretudo, por parte da clientela dele, ele gesticulou para que Lesley saísse logo com uma caneca de cerveja por conta da casa.

Passado algum tempo depois da saída de Belezona, Marduk, retornou a mesa onde estavam sentados os seus companheiros de grupo, que nesse momento já conversavam sobre muitos assuntos em relação aos sonhos que tiveram em dias anteriores, porém, a simples presença do gigante exalando um odor lastimável e indescritível de dias sem banho, sangue ressecado e suor acumulado em crostas de caracas culminaram em algo suficientemente capaz de fazer com que alguns de seus companheiros regurgitassem o alimento recém digerido e apreciado com bom gosto... Foi uma náusea seguida por anciã de vomito sem precedentes para Marina e Delvin.


O dono da taberna considerou ultrajante aquele episódio, o que fez com que ele pedisse para que o grupo se retirasse do local ineditamente.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

RPG: Aventuras em Yrth - Fragmentos: Sobrevida além dos Mundos Oníricos.

Respirar vida ante um pesadelo mortal tem as suas benesses.

Dia 13: 29/02/2111, sobre a regência de Peixes.

Ilustração por Pawel.
Vila de Baramphas no Reino de Morriel (Zarak), local ao qual Adrien esteve antes de partir em direção as ruinas em socorro ao amigo anão, Tourth Barabrum. 

Após horas caracterizadas por um ligeiro repouso, principalmente, em função de uma série de contínuos sonhos, delírios e pesadelos, os mercenários, Marduk, Marina e Worean recobraram a consciência sobre as montanhas. Ambos estavam reclusos em seus aposentos individuais, enquanto refletiam sobre o que havia lhes ocorrido nessa tenebrosa passagem por vias oníricas desconhecidas:


O gigante nômade bufava ruidosamente um som truculento e grave como o de uma fera feroz sendo atiçada por criaturas impertinentes: Haaarrrrrr... Nãoooooo... – Esbravejava Marduk acompanhado de um grito de dor e desespero! A face e o corpo estavam tomados por um suor frio; o rosto estava pálido; as pupilas estavam dilatadas; os olhos estavam esbugalhados; o coração batia de maneira acerada como se a qualquer momento este lhe fosse saltar pela garganta; a boca estava seca; os lábios estavam rachados; e, o frio que sentia, parecia lhe cortar a carne.

O bárbaro se levantou da cama com um salto, tomou a tigela de água fria disposta ao chão próxima a cama, e, subitamente, lavou o rosto escarrando e assoando o nariz sobre a mesma. Ele olhou para o espelho preso a uma das paredes, e vendo a imagem turva de suas das pupilas ainda sonolentas, sentindo a respiração ainda bem forte e ofegante, a cama encardida e suada com o odor fétido de mortalha, tal como se até pouco tempo antes, aquele leito houvesse abrigado um cadáver pútrido... Não tardou para que um pensamento lhe ocorresse a mente: “Por Odim, o que foi isso, Drunna... era mesmo você? Por todos os deuses, tinha me esquecido da fera que habita em mim...” – Ele bufou mais uma vez na tentativa de dispersar aquela fatídica lembrança ao qual o nome de sua antiga companheira estava associada, porém aquilo o perseguia: “O que faço aqui, droga, ponho todos em perigo! Preciso seguir sozinho, solitário por toda minha desprezível vida?” – Mais uma sonora expiração, enquanto contrai os dedos sobre as laterais rígidas das mesas até ouvir o sutil som da madeira estalando, na tentativa de se agarrar a algo concreto e solido capaz de dispersa-lo do pensamento que lhe pairava a mende: “Droga tudo tão real!”.

O SonwFinger, sem medir a sua força e tomado por aquele sentimento de desejosa imediata dispersão, deu um soco com uma de suas mãos sobre a mesa - a mesma qual ele dispôs a bacia com agua -, contudo, tal pancada foi suficiente para destruir parte do móvel e derramar sobre o chão a água. O gigante enxugou o rosto, que trazia não somente os respingos de água que usará para acorda-lo, mas também, lágrimas... Ele chorou copiosamente, como há muito tempo não o fazia, e na sua mente um novo pensamento lhe incorreu: “É admirável que ainda exista lagrimas... Pensei ter chorado tudo naquele fatídico dia!”.


Worean se levantou da cama e foi direto ao balde de água, posto bem próximo a uma pequena mesa que havia no cômodo, ergueu-o e colocou sobre a mesa, de pé, com as duas mãos em conchas apanhou a água e por diversas vezes lavou a face, e após fazer isso, tendo não somente molhado o rosto, mas os cabelos, os braços e o tronco também, ele afixo o olhar sobre o seu reflexo que pairava sobre as águas que lentamente se inquietavam ante a agitação dos seus bruscos movimentos, um momento que lhe trouxe alguns pensamentos: “Que sonho foi esse? Sinto exalar de meu corpo o cheiro de sangue... Novamente o semblante do velho marujo invade os meus sonhos. O que ele quis dizer com essas palavras relacionadas a não condenar o meu caminho de vingança, pois, ele de alguma forma havia me trago até aqui, contudo, atenção para as nuanças daquilo que ver, pois, nem tudo e nem todos são reais, portanto, duvide. O inimigo saberá como lhe atacar... Sustentado e Armado com as suas fraquezas”. – O espadachim olhava o seu reflexo se acomodar nas águas, mas a sua mente não: “Em instantes a face de todos que morreram em minhas mãos no Condado de Myrgan e em minhas viagens em busca de vingança começam a aparecer em minha frente e novamente o cheiro de sangue volta a exalar de meu corpo”.

Worean mergulhou a cabeça dentro do balde, e, logo, bolhas saltaram como se estivesse colocando dentro da mesma algo quente. Aquele efeito havia se derivado de uma mente tomada por pensamentos febris, e que ao ser imergida na água calou o som de gritos que não requeriam qualquer tipo de público, além do próprio autor: - Haaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa! – O coração do mercenário pulsava de forma acelerada na busca de deixar naquele recipiente qualquer moléstia que pudesse distraí-lo de sua jornada, pois, a sua mente seguia lhe dizendo: “Novamente as palavras do velho marujo... Atenção para as nuanças daquilo que ver, pois, nem tudo e nem todos são reais, portanto, duvide. O inimigo saberá como lhe atacar... Sustentado e Armado com as suas fraquezas".

- O porquê desse sonho tão real. Será só o efeito do cansaço da viagem nas montanhas?! – Assim, Worean disse em tom baixo e quase murmurante, como em uma oração, de olhos fechados enquanto a água lhe corria a face em direção ao chão.

Worean vai até o lavatório comum, para um banho. Feita a sua higiene pessoal, desce para se alimentar e encontrar o restante do grupo.


Ela retomou a consciência, como se o folego em algum momento houvesse lhe faltado, abrindo os olhos abruptamente, com as mãos sobre o peito, o coração em arritmia acelerada, e a respiração ofegante, assim, Marina despertou de seu intrigante sonho. Suada, a jovem tocou o próprio rosto com as palmas da mão, percebeu a face ainda quente e ruborizada, tentou acreditar que o seu corpo ainda era real e que não estava ainda sonhando. Em seguida, arcana se levantou e foi olhar pela janela de seu aposento, rapidamente observou a uma altura de pouco mais de quatro metros, a movimentação de habitual de uma vila, com alguns pouco transeuntes em função do horário – ainda era cedo, e o sol estava por nascer. Marina retornou para cama, e confortavelmente, sentou-se e lá, com um demorado piscar de olhos, soltou um suspiro de alivio seguido por um ligeiro: - Ufa! – Tal gesto foi complementado por um pensamento: “Que sonho estranho... Foi tão real, a dor das folhas me cortarem, o desespero de estar em meio a uma tempestade e nada poder fazer... O mais intrigante é ter sentido a presença forte de meu pai ao lado da Irvy. Como se os dois estivessem preocupados comigo”.

Ainda pensativa em relação ao sonho, Marina olhava estática para frente enquanto outro pensamento crescia a mente: “Nossa nunca imaginei ver em meus sonhos a Irvy daquela maneira, ela tão jovem, tão gentil e preocupada comigo... Era se eu pudesse sentir ate mesmo carinho em suas palavras!”. - Neste instante, a arcana silenciou a sua mente, desligando-se dos turbilhões de acontecimentos vividos recentemente, pois, ela voltou a refletir sobre Irvy, e desta vez, pensou nela de maneira parcial, sem as provocações de sua mentora e outros rancores que trazia consigo em relação à mestra, pois, agora a aprendiz se colocava em uma condição da qual até então não havia se disposto a fazer, ou seja, a de que ela, Marina, teria sido egoísta consigo mesma. Ela, a jovem aprendiz, estaria a almejar o conhecimento de segredos aos quais ainda não havia sido preparada para recebê-los, que a mentora queria apenas prepara-la, mentalmente para suportar o peso desse conhecimento, ou ainda, que Irvy queria pegar um diamante bruto e torná-lo refinado. Ela exclamou mentalmente, e com os olhos brilhantes: “Sim!”. - Marina conclui em seu pensamento: “Fui egoísta sim... E pior, uma covarde! Ao invés de fugir da Irvy, eu deveria tê-la enfrentado, provando a ela que sou digna de compartilhar o caminho de sabedoria trilhado por minha tutora!". - Ela já olhava para os lados, sem qualquer direção especifica, balanceando a cabeça em gesto de inadvertência: "Como fui cega ao pensar que seria digna de aprender o que aquela mulher incrível aprendeu apenas reclamando com ela em minhas lamentáveis discussões... Como fui cega...”.

Ainda muda, esfregando as mãos umas sobre as outras como se estivesse incomodada com algo, Marina pensava: “Basta! Não é bom ficar me lamentando, o que fiz está feito, o que posso faze de melhor para me redimir é provar para Irvy que sou capaz, não vou retornar até a minha mestra como uma estupida que fui, até porque talvez eu esteja tendo a oportunidade que Irvy não teve... De me aventurar, se este é meu caminho na vida então irei cruza-lo”. – Os olhares da jovem se encheram de firmeza, e com eles um brilho diferente se apresentou repleto de expectativas.

Marina colocou os seus trajes, levantou-se da cama, retirou as olheiras, correu os dedos entre os cabelos lisos penteando-os com facilidade, e fez a sua higiene pessoal. Mais uma vez, ela caminhou até a janela que dava para a rua, observou que o sol acabará de despertar por completo, conseguia ouvir o som dos habitantes da vila e também de parte da natureza que circundava o lugar e sentia todo o clima das montanhas que pareciam muros naturais de uma fortaleza. A arcana respira fundo, sentindo o ar umedecido do lugar, algo que até então não havia experimentara antes. Ela tentou captar as força da mana presente no ambiente, para isso ela mentaliza o momento em que o feixe luminoso a tocou durante a tempestade em seu sonho, e algo lhe incorre sobre as ultimas palavras proferidas por Irvy: “Convicção e predisposição em seu caminho, o inimigo agirá sobre as suas fraquezas” - Marina se indaga, com o olhar perdido em uma das colossais montanhas: “Quem pior que eu mesma para agir sobre minhas fraquezas? Penso que talvez eu mesma seja minha própria inimiga...”


Delvin, o halfling ladino, ao contrário dos demais companheiros mercenários apresentou uma facilidade incomum de adaptação ao terreno de Zarak, mesmo nunca tendo estado em um local tão diferente e alto. E, embora ele também tivesse tido sonhos incomuns como os outros, somente algo lhe chamou a atenção nesses dias, e, justamente, neste último dia em que aqueles rodeios de delírios culminaram em tê-lo tirado o sono mais cedo, fazendo com que acordasse com uma leve dor de cabeça no local onde uma caixa lhe atingiu em sonho e um estranho dobrão de ouro que surgiu em seu bolso... Essa moeda, aparentemente comum, não era cunhada, não dispunha de nenhum brasão ou algo que a identificasse, só o fato, de que às vezes ele tinha a impressão de ver o rosto de Grover, o seu mestre, tal como no sonho.

Como o halfling não sofreu tanto como os demais nesses dias de febris delírios, ele pode aproveitar melhor as andanças pela vila de Baramphas, o que lhe foi oportuno, pois, Dionísio Thirdway pode iniciar com ele alguns exercícios relacionados a escalada e a sobrevivência nas montanhas, além de, apresentar-lhe um artesão que dispunha de uma oficina de couro, onde ele poderia trabalhar sossegadamente a confecção de um item que havia prometido para O Grandão (apelido concedido a Marduk), e, assim ele o fez, terminando no dia anterior tal trabalho.


No inicio da manhã deste dia, o grupo se encontrou novamente, após a passagem de dois longos dias em repouso. Eles estavam com muita fome, logo, dirigiram-se a cozinha para fazer uma refeição matinal, conforme indicado pelo dono do estabelecimento, que diante mão, também os informou que Dionísio não estava no local, mas que iria chama-lo, uma vez que, ele pediu que fizesse isso assim que os demais se levantassem.

O café da manhã foi servido reforçado para satisfação e o apetite dos mercenários, que ainda assim, alguns destes encontravam alguma dificuldade em relação ao ar das montanhas.

Dionísio surgiu pela porta da cozinha da hospedaria demonstrando satisfação em rever a todos - com uma cordial saudação e um sorriso estampado em seu rosto -, principalmente, acordados e dispostos, pois, o anão mencionou a preocupação tida quanto a saúde dos mesmos que sofreram de alguma forma com o chamado Mal das Montanhas. Tomando um lugar a mesa, ele mencionou que não poderia leva-los imediatamente até o local que almejavam, justamente por se tratar de um lugar mais alto e inóspito, e, que para isso, seria necessário um breve treinamento em relação a escalada e a sobrevivência nessas regiões.

Quando questionado em relação a Adrien, o anão foi direto em dizer que o meio elfo sofreu da mesma enfermidade experimentada pelo grupo, contudo, ele não teve o bom senso e a necessidade de tempo para se preparar em relação às adversidades externas do local. Ele demonstrava estar muito afoito em relação à missão de auxilio que pretendia cumprir, e, quanto a isso, como somente se tratava de um único individuo, o anão conseguiu leva-lo até próximo à entrada das ruinas sem muita dificuldade.

Em função do tempo que passou desde a chegada do grupo ao local, e, após ouvir essas palavras do Dionísio em relação ao membro da guilda, não tardou para que alguém trouxesse a mesa o incomodo vivido nos últimos dias em relação a uma mescla de sonhos, pesadelos e delírios.

Ilustração por Juliana Karina.
Worean Hosborn se mostrou
introspectivo em relação a conversa,
porém, com uma relativa atenção ao
que era tratado, uma vez que, aquilo
de certa forma havia ocorrido a todos,
e de longe parecia se tratar de uma
mera casualidade.
A mesa, Worean se resguardou em silencio, e escutando com atenção oque todos os demais falaram, sobretudo, Marina e Marduk. Ao ouvir que todos tiveram sonhos e ver a expressão de preocupação no olhar de cada um deles, ele pensou consigo: “Que diabos esta acontecendo aqui, todos tiveram sonhos estranhos. Será que realmente não foi um sonho e sim um aviso? Com que diabos aquele Elfo maluco esta envolvido? Quem será o inimigo que o velho marujo expressou em suas palavras?”.

Delvin demonstrou e mencionou que algo também havia lhe ocorrido nos últimos tempos, porém, não falou muito a respeito do que havia lhe ocorrido, preferindo se manter atento as palavras dos companheiros. Longe das vistas dos demais, ele corria entre os dedos de uma mão a estranha moeda de ouro, onde por mais uma vez, ele teve a breve visão do rosto de Grover em uma das faces, algo que a demonstração de estranheza em relação a visão se confundia aos relatos dos companheiros e que acabava passando desapercebidamente.

Marina estava curiosamente surpresa com os relatos de todos em relação ao que cada um deles havia sentido enquanto estiveram em repouso, exceto por Worean Hosborn. O espadachim se manteve distante sem qualquer contribuição para aquele dialogo, apenas como um cauteloso ouvinte, porém, a sensitiva arcana percebeu em seu semblante que algo também havia lhe ocorrido, e, que ele demonstrava relutância em compartilhar com os demais. Porém, antes que ela pudesse questionar algo de maneira direta a Hosborn, a voz de sua mestra lhe veio à mente com citações de verbetes mágicos que subitamente fez surgir uma pequena esfera de chamas, e, logo em seguida, a explosão desta sobre a mesa.

A magia súbita espantou a todos ao ponto de lançar alguns ao chão como meio de se protegerem contra o efeito. Sobre a mesa ficaram as evidencias da magia evocada por meio dos chamuscos.

Recuperados do susto e novamente sentados a mesa, a arcana estava imbuída de certeza de que a partir daquele efeito mágico, onde se evidenciou um aprendizado transmitido por meio de sonhos pela sua mestra, aquilo que o grupo havia experienciado poderia se tratar de algo muito além do que todos imaginavam. E, isso fez com que ela buscasse ainda mais informações, inclusive aquelas resguardadas por Worean.

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

RPG: Aventuras em Yrth - Fragmentos: Sonhos, terrenos de insólitas revelações,

Uma manhã marcada por confusas vias oníricas.


Dia 11: 27/02/2111, sobre a regência de Peixes.

Em função da longa e cansativa viagem noturna pelas péssimas estradas montanhosas do Reino de Morriel que os mercenários tiveram de cobrir entre as duas comunidades (Olinn e Baramphas), nada mais justo que uma manhã de descanso para que estes recomponham as suas forças, principalmente, estando eles em uma altura de terreno a quilômetros acima do nível do mar. Algo, incomum para Marina, Delvin e Worean, e até mesmo para o gigante Marduk, nascido e crescido nas Cordilheiras dos Picos Nevados, pois, a tempo não vivenciava tal sensação.

Tendo em vista uma necessidade emergencial de adaptação ao terreno, e, em um breve espaço de tempo, Thirdway achou por bem condiciona-los antes de seguirem viagem sobre as montanhas. Pois, embora o local em que fossem percorrer não fosse encoberto por neve, tal como nas regiões oriundas do bárbaro, todos eles estavam sujeitos a sofrer, e alguns já demonstravam isso, do Mal-das-Montanhas, que pode causar dores de cabeça, insônia, tontura, fadiga, náusea e vômitos, a princípio, culminando em uma lesão fatal do cérebro. 

Dionísio conseguiu amparar o grupo com algumas poções herméticas: 2 (um) frascos para cada um dos membros.

O item em questão é o Elixir Esculapius (Elixir da Vitalidade). Ele cura toda e qualquer doença que aflija o objetivo, restaurando parte da vitalidade (2 pts. de HT). Somente uma dose será eficaz. O custo médio deste elixir medicinal nas cidades de Mégalos varia de $750 p.c à $1.200 p.c.

O além do elixir, o treinamento intensivo do anão em sobreviver nas montanhas, também incluía praticas de respiração, de forma que o oxigênio nãos lhes faltasse, atividades de alongamento para não serem apanhados por eventuais câimbras, além de outros artifícios. Que o próprio morador das montanhas teve que mencionar a dificuldade em lidar com perigos jamais percebidos para quem viveu sob esses colossais e majestosos monumentos da natureza, denominados, singelamente como os Mantos Égides de Zarak.


Dia 12: 28/02/2111, sobre a regência de Peixes.


O SONHO DE SNOWFINGER

Um vento gélido soprava feito uma lâmina afiada sobre o austero rosto de SnowFinger, e, por vezes, o nômade sentia como se aquelas pequenas lâminas naturas lançadas contra ele, partissem-se ao simples choque contra o seu corpo em minúsculos pedaços, onde algumas dessas lhes rasgavam acidamente parte da pele que se encontrava desprotegida em sutis escoriações. Aquilo não era uma tempestade comum... E era algo fúnebre que trazia consigo um tormento anuviado de malfazejas lembranças... De dores aparentemente transpassadas e desconexas em sua memória. Coisas das quais não lhe representavam mais nada! Nada do que talvez algum dia tenha feito algum sentido concreto na sua vida...

O gigante estava de joelhos, prostrado sobre a neve, intacto feito uma escultura constituída essencialmente de gelo - do mais puro gelo de Jotunheim -, e, em seus braços, três corpos grotescamente mutilados pendiam: duas crianças e uma mulher! Ele ainda ofegava e respirava pesadamente com estremecidos ruídos involuntários pela força de seus pulmões. Os seus pulmões com dificuldade severa, trabalhavam incessantemente para mantê-lo consciente, mesmo sentindo que os órgãos estivessem a trabalhar no seu limite, pois, como se não bastasse a hostil característica de suas terras, ele sentia que em algum momento de uma intensa batalha que havia se sucedido anteriormente, ele fora ferido. Por fim, quem eram essas criaturas em seus braços? Houvera ele sido maculado por um sentimento de arrependimento pela ceifa da vida dos familiares de seu inimigo? Teria tido o seu inimigo compaixão impar pelos seus se a história fosse outra?! Quem em nomes de Wotan, o atormentava com tal moléstia?!

O vento soprava inquietante, ruidoso e uivante.

As malditas agulhas de gelo eram incessantes, afrontado desdenhosamente o guerreiro:

O que será capaz de fazer agora, Filho de Gilgamesh?!
Esmurrará a mim até que o seu corpo padeça de joelhos...
 Sem fôlego, sem mérito, sem juízo, e sem forças,
Nem mesmo para rivalizar a nossa irá?!
O nosso mútuo sentimento de autodestruição, Besta!

Aquela neve álgida era ainda mais congelante de que qualquer outra que algum dia houvesse sentido sobre a sua pele nos Degraus para Niflheim (a sua terra natal), ainda que não conseguisse mais distinguir naquele fatídico momento, o que era pele, armadura, gelo, vida ou morte.

A neve era de um tom rubro vivido e que exalava um incomum odor fétido de morte – nada parecia ser tão intenso e nauseante -, que por vezes parecia até tentar asfixiar o guerreiro.

Marduk quase não acreditou, estarrecido pela visão macabra dos corpos jazidos que pendiam sobre os seus fortes braços: Eles demonstravam-lhe algum tipo de afeto, com suaves caricias, enquanto que de suas feridas brutalmente laceradas jorravam incessantes jatos de sangue... Um sangue que respingavam sobre o seu corpo, e, prontamente se transformava em lágrimas!

O vento, o amaldiçoado vento, que momentos antes somente trazia a SnowFinger feridas por meio de injuriosas e afiadas laminas de gelo que tentavam lhe afligir o espírito bravio, passou também a zunir em seus ouvidos agoniantes murmúrios de lamento e dor!

Ele queria esbravejar de forma que pudesse calar o angustia daquele momento, mas ele estava emudecido! Os seus olhos já não pareciam ver como antes, pois, tudo que conseguia enxergar estava encoberto por uma penumbra em tom vermelho sangue...

Ilustração por Nebezial.
A familiar Valquíria de nome Drunna, que
surgiu em um assombroso sonho de Marduk,
trazendo consigo, um resquício de
lembranças de alo que alguém já lhe
disse no passado.
Ao longe, algo chamou a atenção de Marduk... Era o vulto de uma mulher de cabelos parcialmente carmesim, longos e esvoaçantes, corpo esbelto e forte, e em seu olhar - o traço mais marcante -, possuía um brilho inflamado de atemporal paixão. Que depois de muitas visões atribuladas, agora ao menos aquela Valquíria soava ao guerreiro como familiar, um lampejo de lembranças chamado Drunna, entretanto ainda, além do forte nome que ressoava como um sino em seu intimo, ela ainda sim, não tinha qualquer identidade ou correlação com a sua vida de antes ou de agora...

Distante e intocável, a familiar Valquíria lhe disse cálida como se estive aos pés do ouvido do guerreiro nômade:

Os olhos perceberão vida onde somente há morte...
Confia no teu instinto aguerrido, sobretudo.
O teu inimigo se amparará nas tuas fraquezas...
Corroendo a tua visão, a tua mente e o teu juízo.
Nem uma arma é mais letal que a verdade,
Quando empunhada com convicção.


O SONHO DE HOSBORN

O mar estava parcialmente revoltoso, com crescentes ondas a todo instante se erguendo como grandes e fortes braços esmurrando a superfície da água, as nuvens estavam escuras e carregadas, raios cruzavam os céus seguidos de ensurdecedores trovões, chovia bastante e ventava muito em meio ao oceano... Uma perigosa tempestade se precipitava, e, Worean estava dentro de uma embarcação naval desconhecida, mas que, em seu intimo lhe sugeria familiaridade. Ressoava curiosamente em seu amago uma pergunta:

Que lugar era este? Onde estou?

Estranhamente, não havia uma tripulação sobre a embarcação, porém, o espadachim percebeu vozes a sua volta, sons confusos de homens afoitos gritando palavras de ordem em relação a própria situação, enquanto as velas pareciam se rasgar ante a força do vento, que muitas das vezes lançava o barco sobre o ar. Ele olhava de um lado para o outro tentando buscar sentido, e coerência para aquilo tudo, entretanto, quanto mais tentava fazê-lo, mais se perdia.

E, embora detivesse alguma destreza (equilíbrio), naquele momento e sobre o mar, Worean tentava com todas as suas forças se colocar em um lugar seguro, pois, sabia que a qualquer momento, poderia ser lançado ao mar bravio, e isso seria mortal. Sendo assim, buscou cordas para amarrar o seu corpo a algo que lhe provesse segurança, tal como um dos mastros,

Ele percebeu quando uma das espadas que lhe fora presenteada por Jhon Rowsever se soltou de sua bainha e escorregou pelo convés até bater em uma canaleta e com o choque ser lançada ao vento e em direção ao mar... Hosborn se desvencilhou das cordas para tentar agarrar a arma, porém, não conseguiu, e por muito pouco não foi arremessado ao mar, senão fosse uma das cordas que se embolou a perna na ação abrupta.

A aguardada tempestade era agora um momento real.

As vozes continuavam a eclodir na mente de Worean sem qualquer sentido lógico, trovejavam enfurecidas, e, o balançar da embarcação aumentava ainda mais a sua aflição em relação à ruptura do caos que tomara conta da situação. Ele sentiu fortes dores de cabeça, seguidas por náuseas, e, logo, vomitou sobre o convés e parte de suas roupas... Porém, ele regurgitou sangue! Um tipo de sangue incomum, algo enegrecido e malcheiroso, que de longe lembraria o comum odor do sangue. A sua cabeça girava com uma visão distorcida da realidade a sua volta, ele estava estafado, e, os pés vacilavam tentando equilibrar-se naquele chão resvaladio.

De repente ele olhou para o lado e acima, pois, uma voz soou lhe familiar e mais nítida do que todas as demais:

Worean Hosborn, filho de Jacob e de Tesla...
Bendita seja a sua concepção, filho!
Que se manteve além dos signos de anátemas,
Que um dia eu mesmo proferi por crer em inconcebível união.
Bem-vindo ao Galeão Atroz e dos Oitos Ventos Soprantes.
E ao seu mar de decisões, conturbadas por sinal.
Confesso que me senti compelido mais uma vez a navega-lo.

Ele buscou forças para se colocar de pé, e seguir em direção ao som da voz que parecia vinha da sipopa, onde estava o leme. Worean tentou por diversas vezes, mas enfraquecido escorregava e caia, permitindo que o vento e a água disposta sobre o convés o fizesse percorrer incondicionalmente cada metro daquele lugar. Fatidicamente, ele percebeu que a agua que vinha da chuva e das ondas que se chocavam contra a embarcação se tornavam repentinamente em sangue... Aquilo lhe soava insano e prejudicial, consumindo suas forças com ferocidade.

O corpo de Wolrean estava ensopado daquele sangue que não era seu, assim como das escoriações afligidas pelas constantes quedas e choques contra as diversas barreiras que de alguma forma o mantinham com sorte dentro da embarcação.

A tormenta daquele mar revolto sugeria que a qualquer momento o Galeão poderia ser estilhaçado em pedaços, senão mergulhado nas profundas águas que cruzava.

Ilustração por Gerrard Capashen.
Worean de Azer, O Senhor do Galeão
Atroz e Filho dos Oito Ventos
Soprantes, e avô de Worean Hosborn,
que mais uma vez surgiu em sonhos
para declarar atenção às atribulações
Novamente a voz ressoou distante e próxima ao mesmo tempo:

Não condene o teu caminho de vingança,
Pois, ele de alguma forma o trouxe até aqui.
Contudo, atenção para as nuanças daquilo que ver.
Nem tudo e Nem todos são reais, portanto, duvide.
 O inimigo saberá como lhe atacar...
Sustentado e Armado com as suas fraquezas.

Worean conseguiu ver brevemente a imagem dos braços firmes ao leme e um leve sorriso no rosto, de seu avô, Marius Hosborn ou Worean de Azer, que por vezes olhava adiante como uma águia, mas também com certa frequência, o fitava demonstrando zelosa atenção,

A mesma fisionomia do homem que um dia também apareceu em sonhos para alertar a Worean sobre os Mares de Sangue que percorreriam a sua vida após a tragédia da morte de sua família na fazenda, e, principalmente, a necessidade de afrontá-lo como parte da aceitação de sua própria condição, ou seja, de um destemido lutador com fortes raízes em valores atemporais.


O SONHO DE BALCKHEART

No palacete ao qual foi criada em Nova Jerusalém, Marina tinha acesso a uma agradável área aberta, um jardim de grama verdejante, muito bem cuidado, que ficava as voltas de uma fonte que jorrava incessantemente aguas límpidas e refrescantes, onde por vezes, ela costumava ir para respirar perfumes naturais das flores que Irvy gostava, e, que também a ensinou aprecia-las. Uma espécie de santuário que ela, sua mestre, e seu pai constituíram. Um local, ao qual sentiu falta desde que se iniciaram as suas andanças pelo mundo, pois, por durante muito tempo, plantas e pequenos animais lhes foram amigáveis companhias.

O dia era convidativo para um passeio ao ar livre, e, assim, Marina o fez, munida com um tomo de magia das águas em mãos, algo que não era de seu feitio fazer, pois sabia que sua tutora recriminaria tal gesto, pois, Irvy até a trazia ao local para praticar seus aprendizados, mas não para andar com livros de magias em mãos, pois ela era extremamente receosa quanto a possibilidade de outros magos quererem rouba-las.

Enquanto lia distraidamente, Marina sentada sobre o parapeito da fonte não percebeu a brisa agradável tomar proporções de ventos mais fortes. Quando ela se deu por conta, o vento havia perdido o seu toque de frescor e anunciava uma estranha tempestade. Assustada ela olhava as suas voltas as flores sendo arrancadas doo caule das plantas, as folhas ainda verdes também serem tragadas pela ventania que se formava, a agua da fonte já não jorrava de maneira comum, como se estivesse engasgando para sair com dificuldade, e, a própria agia da fonte se movia em pequenos torvelinhos de coloração turva.

Marina se assustou com aquilo, porém, ela estava estática, buscando meios para vencer aquela paralisia e reagir. Porém, não deixava de cogitar em seu intimo:

O que acontece aqui?
Isso não é natural? São forças mágicas...
Será que Irvy está a me testar pela minha insolência?

A jovem aprendiza percebeu quando o tomo de magia lhe foi arrancado das mãos pela força do vento, mesmo havendo ela tentado mantê-lo pressionado junto ao corpo. Marina tentou se agachar em direção ao local onde o livro havia caído, mas o livro deslizou por alguns metros até se abrir. Nesse momento, ela presenciou algo surpreendente, uma a uma das páginas foram arrancadas, perfeitamente, para em seguida, subirem aos céus em movimentos circulares.

No céu, Marina assistia a um estranho e gigantesco redemoinho de nuvens escuras a se movimentar.

Ela sabia que algo estava prestes a acontecer, algo catastrófico!

Marina olhava para o palacete, e conseguia ver e ouvir as janelas e portas se baterem com a força do vento até se quebrarem, e, não conseguiu perceber a presença de nenhum dos habituais servos que cuidavam da limpeza e da organização do lugar. Ela gritava clamando por auxilio, entretanto, o seu grito parecia emudecido, distante e sem sentido.

Pequenos pedaços de galhos e folhas das árvores se tornaram lâminas, e eles vinham de encontro à pele macia e alva da jovem, que facilmente era cortada. Marina tentou de alguma forma se defender por meio de magias, mas algo acontecia bloqueando as suas forças e inibindo para que ela fizesse uso de um poder arcano.

Foi então que Marina percebeu uma voz, um som inconfundível que reconheceria a qualquer tempo, e muito além da cacofonia amestrada por aquelas agourentas forças da natureza. Ela viu nitidamente as feições de Irvy, todavia, não a convencional que um dia conheceu ao lado do Pai, Jammes Casneffous, que tenha lhe criado e a doutrinado nos caminhos da magia... Era uma jovem, que talvez não houvesse sonhado algum dia ser o que era hoje, a Senhora do Imersível Atroz, ou em ser a Lady Casneffous. Distintivamente, aquela ela alguém que trazia consigo um aspecto gentil, amistoso e de uma mãe zelosa (sem sombra de dúvidas, algo ansiado no fundo do coração da herdeira dos Casneffous):

Ilustração por Fernanda Suarez.
Irvy, a mãe e mestra de Marina, que
de alguma forma lhe surgiu em sonhos
para instruí-la em magias a cerca de
um inimigo perigoso e desconhecido.
Filha, cuidado em teus caminhos.
Tenha a convicção e a predisposição naquilo que almeja, pois, sei que fará o melhor.

Muita atenção quanto, ao teu inimigo que espreitará a todo instante os seus caminhos por meio de vias sombrias e escuras.

Pois, ele se fará forte sobre as suas fraquezas.

Ele atacará você e a quem mais estiver consigo,
Fazendo de seus companheiros possíveis armas,
Para se sobressair no combate.

Eis a única forma que posso intervir para o êxito de sua missão.

Nesse momento, um poderoso feixe luminoso desce do olho do furação que estava sobre Marina, a elevando a alguns metros de altura do chão. Ela sente como se a sua mente estivesse sendo aberta, sem qualquer dor,, contudo, um sensação agoniante de invasão, e tocada internamente em movimentos ligeiros e sutis por incontáveis dedos, enquanto verbetes mágicos lhes são proferidos diretamente, e pequenos signos mágicos surgem e desaparecem como fagulhas de luzes.


O SONHO DE MALLORY

Grover e Delvin haviam aceitado em fazer um serviço para um dos membros da guilda de magos de Nova Jerusalém, e, este serviço consistia em adentrar a casa de um mercador, que recentemente havia retornado de uma viagem e falecido logo em seguida por causas desconhecidas, o fato é que, como este mercador havia sido contratado para trazer para o mago do local em que ele havia viajado um item, não teve nem ele tempo para entregar as suas encomendas, a morte lhe veio muito antes, e, sendo assim, devido a uma série de eventos, os materiais adquiridos pelo mercador ficaram retidos em sua casa sob a guarda da família e outros, portanto, cabia aos dois ladinos roubar o item que pertence ao mago, um pequeno baú.

Esse baú estaria lacrado, e de nenhuma forma deveria ser destrancado, sendo devidamente entregue intacto ao contratante, pois, ele informou não se responsabilizar por quaisquer dos eventuais danos, assim, como não pagaria pelo meio serviço.

Delvin estava em um quarto amplo do tal mercador, ele e Grover, que estava ao lado em um espaço menor, procuravam pelo tal pequeno baú que deveria conter alguns desenhos em sua estrutura mencionados pelo mago.

O halfling averiguava item por item na busca do tal objeto, até inclusive achando algumas moedas de ouro dispostas por esquecimento e felicidade alheia, em gavetas, Ele não pensava duas vezes sobre em levar todas elas, uma vez que, o dono já estava morto, e a melhor herança para os seus familiares era a casa e um monte de bugigangas (a maioria, coisas que não tinham serventia para ele ou que não poderiam ser transformada brevemente em moedas).

Ao longe ele ouvia, de maneira bem sutil, Grover também fazendo a sua procura.

A casa estava tão silenciosa que Delvin conseguia ouvir o som do seu próprio estomago sinalizando que em muito em breve fará barulhos ainda maiores caso não seja atendidas as suas solicitações... O pequeno sagaz, também conseguia ouvir Grover tirando e recolando coisas nos lugares, e, pelo som, eram livros e caixas diversas. O tutor sempre dava uma olhada rápida para ver se estava tudo bem e se tinha encontrado algo... E, em seu pensamento sempre incorria:

Grover tem essas manias de velho, putz...
Não vou coloca-lo numa fria, e mito menos Eu, chefia.
Tô animado, tô com fome e doido pra terminar logo isso.

Ilustração do Artastrophe.
Grover Mallory, o mestre de Delvin,
que em sonhos lhe informou sobre um
possível perigo. para logo.
Nenhum barulho na casa até então, e o serviço seguia tranquilamente.

Os dois ladinos passaram horas antes analisando o entra e sai das pessoas na residência dos familiares do mercador, dentre elas o mago contratante, que havia mencionado a Grover que iria tentar mais uma vez requerer o item que comprou, mesmo sabendo que não funcionaria tal tática de persuasão.

Delvin começou ter uma sensação ruim naquela casa, mas não sabia dizer ao certo do que se tratava, ele então resolveu parar de procurar e foi ao encontro de Mallory, não o achou no lugar que havia lhe visto pela última vez. O halfling olhava com suspeita aflição para todos os lados naqueles cômodos, e não conseguia ver nada, a luz, por sua vez, parecia ficar ainda mais fraca como se estivesse sendo absorvida pela escuridão.

Ele tentou fazer um som de forma que chamasse a atenção de seu mestre, mas nada, pois, estranhamente, nem Delvin havia conseguido perceber o som que havia feito. Ele, então resolveu chamar um pouco mais alto por Grover, e, o mesmo ocorreu. Ele já não ouvia nada!!! O Silêncio era total!!! Ele correu para uma pequena janela embaçada no fundo do cômodo, mas a mesma estava emperrada, ele tentou abri-la, e sem sucesso!

Ele começou a entrar em estado de pânico em meio aquele breu e funesto silêncio, pois, não conseguia ouvir a nada. As coisas que estavam naquele quarto pareciam estar apodrecendo, e, de tal forma que os seus olhos lacrimejavam. Logo, o lugar que parecia ser um pouco grande, parecia gradativamente encolher, as paredes pareciam andar como se estivessem vivas e sendo comprimidas.

E o estado de tensão de Delvin somente aumentou ao perceber o movimento de sombra de criaturas um pouco maiores do que ele, esgueirando-se pelos cantos. Ele tentou se esconder, e se esquivar de golpes advindos das sombras, porém, foi inevitável não ser atingido por uma caixa que o derrubou ao chão, fazendo com que as suas moedas voassem pelo ar. Ele viu quando mãos sombrias tentaram apanhar as suas moedas, e, subitamente, saltou para tentar pegar o máximo delas.

Ele percebeu na face das sombras sorrisos macabros, e, o odor de carne queimando... O chão aos seus pés estava queimando, o lugar agora todo estava aquecendo rapidamente!!!

Delvin! Escuta-me, aqui ó...
Na mão! Na sua mão...

Meio inconsciente pelo calor que se sucedera o haçfling, percebeu que a voz de Grover vinha de sua mãe, de fato, da única moeda que ele havia pegado quando saltou no ar. Ela trazia cunhada a face de Grover que se mexia enquanto falava a ele:

Você sem querer abriu a caixa naquele dia, e viemos todos parar nessa panela...

Antes fosse, Sagaz... Cuidado com o inimigo que age nas sombras,
Ele, é ainda mais traiçoeiro do que todos que já conheci.
Ele vai colocar cada um de vocês em lados opostos,
E, o mais importante, vai atacar por suas fraquezas.

Delvin tinha certeza que estava sendo cozinhado por alguém, e, o mais importante, ele sabia que o cheiro não era agradável... Então, halfling na panela, nem pensar.