Bem-Vindo Errante Viajante

Do Olimpo trago a almejada chama, da qual sugiro dançarmos embriagados a sua volta, e quando assim for, sujiro arriscar tocá-la, pois, felizes os que dela se queimarem.

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

RPG: Aventuras em Yrth - Fragmentos: Sobrevida além dos Mundos Oníricos.

Respirar vida ante um pesadelo mortal tem as suas benesses.

Dia 13: 29/02/2111, sobre a regência de Peixes.

Ilustração por Pawel.
Vila de Baramphas no Reino de Morriel (Zarak), local ao qual Adrien esteve antes de partir em direção as ruinas em socorro ao amigo anão, Tourth Barabrum. 

Após horas caracterizadas por um ligeiro repouso, principalmente, em função de uma série de contínuos sonhos, delírios e pesadelos, os mercenários, Marduk, Marina e Worean recobraram a consciência sobre as montanhas. Ambos estavam reclusos em seus aposentos individuais, enquanto refletiam sobre o que havia lhes ocorrido nessa tenebrosa passagem por vias oníricas desconhecidas:


O gigante nômade bufava ruidosamente um som truculento e grave como o de uma fera feroz sendo atiçada por criaturas impertinentes: Haaarrrrrr... Nãoooooo... – Esbravejava Marduk acompanhado de um grito de dor e desespero! A face e o corpo estavam tomados por um suor frio; o rosto estava pálido; as pupilas estavam dilatadas; os olhos estavam esbugalhados; o coração batia de maneira acerada como se a qualquer momento este lhe fosse saltar pela garganta; a boca estava seca; os lábios estavam rachados; e, o frio que sentia, parecia lhe cortar a carne.

O bárbaro se levantou da cama com um salto, tomou a tigela de água fria disposta ao chão próxima a cama, e, subitamente, lavou o rosto escarrando e assoando o nariz sobre a mesma. Ele olhou para o espelho preso a uma das paredes, e vendo a imagem turva de suas das pupilas ainda sonolentas, sentindo a respiração ainda bem forte e ofegante, a cama encardida e suada com o odor fétido de mortalha, tal como se até pouco tempo antes, aquele leito houvesse abrigado um cadáver pútrido... Não tardou para que um pensamento lhe ocorresse a mente: “Por Odim, o que foi isso, Drunna... era mesmo você? Por todos os deuses, tinha me esquecido da fera que habita em mim...” – Ele bufou mais uma vez na tentativa de dispersar aquela fatídica lembrança ao qual o nome de sua antiga companheira estava associada, porém aquilo o perseguia: “O que faço aqui, droga, ponho todos em perigo! Preciso seguir sozinho, solitário por toda minha desprezível vida?” – Mais uma sonora expiração, enquanto contrai os dedos sobre as laterais rígidas das mesas até ouvir o sutil som da madeira estalando, na tentativa de se agarrar a algo concreto e solido capaz de dispersa-lo do pensamento que lhe pairava a mende: “Droga tudo tão real!”.

O SonwFinger, sem medir a sua força e tomado por aquele sentimento de desejosa imediata dispersão, deu um soco com uma de suas mãos sobre a mesa - a mesma qual ele dispôs a bacia com agua -, contudo, tal pancada foi suficiente para destruir parte do móvel e derramar sobre o chão a água. O gigante enxugou o rosto, que trazia não somente os respingos de água que usará para acorda-lo, mas também, lágrimas... Ele chorou copiosamente, como há muito tempo não o fazia, e na sua mente um novo pensamento lhe incorreu: “É admirável que ainda exista lagrimas... Pensei ter chorado tudo naquele fatídico dia!”.


Worean se levantou da cama e foi direto ao balde de água, posto bem próximo a uma pequena mesa que havia no cômodo, ergueu-o e colocou sobre a mesa, de pé, com as duas mãos em conchas apanhou a água e por diversas vezes lavou a face, e após fazer isso, tendo não somente molhado o rosto, mas os cabelos, os braços e o tronco também, ele afixo o olhar sobre o seu reflexo que pairava sobre as águas que lentamente se inquietavam ante a agitação dos seus bruscos movimentos, um momento que lhe trouxe alguns pensamentos: “Que sonho foi esse? Sinto exalar de meu corpo o cheiro de sangue... Novamente o semblante do velho marujo invade os meus sonhos. O que ele quis dizer com essas palavras relacionadas a não condenar o meu caminho de vingança, pois, ele de alguma forma havia me trago até aqui, contudo, atenção para as nuanças daquilo que ver, pois, nem tudo e nem todos são reais, portanto, duvide. O inimigo saberá como lhe atacar... Sustentado e Armado com as suas fraquezas”. – O espadachim olhava o seu reflexo se acomodar nas águas, mas a sua mente não: “Em instantes a face de todos que morreram em minhas mãos no Condado de Myrgan e em minhas viagens em busca de vingança começam a aparecer em minha frente e novamente o cheiro de sangue volta a exalar de meu corpo”.

Worean mergulhou a cabeça dentro do balde, e, logo, bolhas saltaram como se estivesse colocando dentro da mesma algo quente. Aquele efeito havia se derivado de uma mente tomada por pensamentos febris, e que ao ser imergida na água calou o som de gritos que não requeriam qualquer tipo de público, além do próprio autor: - Haaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa! – O coração do mercenário pulsava de forma acelerada na busca de deixar naquele recipiente qualquer moléstia que pudesse distraí-lo de sua jornada, pois, a sua mente seguia lhe dizendo: “Novamente as palavras do velho marujo... Atenção para as nuanças daquilo que ver, pois, nem tudo e nem todos são reais, portanto, duvide. O inimigo saberá como lhe atacar... Sustentado e Armado com as suas fraquezas".

- O porquê desse sonho tão real. Será só o efeito do cansaço da viagem nas montanhas?! – Assim, Worean disse em tom baixo e quase murmurante, como em uma oração, de olhos fechados enquanto a água lhe corria a face em direção ao chão.

Worean vai até o lavatório comum, para um banho. Feita a sua higiene pessoal, desce para se alimentar e encontrar o restante do grupo.


Ela retomou a consciência, como se o folego em algum momento houvesse lhe faltado, abrindo os olhos abruptamente, com as mãos sobre o peito, o coração em arritmia acelerada, e a respiração ofegante, assim, Marina despertou de seu intrigante sonho. Suada, a jovem tocou o próprio rosto com as palmas da mão, percebeu a face ainda quente e ruborizada, tentou acreditar que o seu corpo ainda era real e que não estava ainda sonhando. Em seguida, arcana se levantou e foi olhar pela janela de seu aposento, rapidamente observou a uma altura de pouco mais de quatro metros, a movimentação de habitual de uma vila, com alguns pouco transeuntes em função do horário – ainda era cedo, e o sol estava por nascer. Marina retornou para cama, e confortavelmente, sentou-se e lá, com um demorado piscar de olhos, soltou um suspiro de alivio seguido por um ligeiro: - Ufa! – Tal gesto foi complementado por um pensamento: “Que sonho estranho... Foi tão real, a dor das folhas me cortarem, o desespero de estar em meio a uma tempestade e nada poder fazer... O mais intrigante é ter sentido a presença forte de meu pai ao lado da Irvy. Como se os dois estivessem preocupados comigo”.

Ainda pensativa em relação ao sonho, Marina olhava estática para frente enquanto outro pensamento crescia a mente: “Nossa nunca imaginei ver em meus sonhos a Irvy daquela maneira, ela tão jovem, tão gentil e preocupada comigo... Era se eu pudesse sentir ate mesmo carinho em suas palavras!”. - Neste instante, a arcana silenciou a sua mente, desligando-se dos turbilhões de acontecimentos vividos recentemente, pois, ela voltou a refletir sobre Irvy, e desta vez, pensou nela de maneira parcial, sem as provocações de sua mentora e outros rancores que trazia consigo em relação à mestra, pois, agora a aprendiz se colocava em uma condição da qual até então não havia se disposto a fazer, ou seja, a de que ela, Marina, teria sido egoísta consigo mesma. Ela, a jovem aprendiz, estaria a almejar o conhecimento de segredos aos quais ainda não havia sido preparada para recebê-los, que a mentora queria apenas prepara-la, mentalmente para suportar o peso desse conhecimento, ou ainda, que Irvy queria pegar um diamante bruto e torná-lo refinado. Ela exclamou mentalmente, e com os olhos brilhantes: “Sim!”. - Marina conclui em seu pensamento: “Fui egoísta sim... E pior, uma covarde! Ao invés de fugir da Irvy, eu deveria tê-la enfrentado, provando a ela que sou digna de compartilhar o caminho de sabedoria trilhado por minha tutora!". - Ela já olhava para os lados, sem qualquer direção especifica, balanceando a cabeça em gesto de inadvertência: "Como fui cega ao pensar que seria digna de aprender o que aquela mulher incrível aprendeu apenas reclamando com ela em minhas lamentáveis discussões... Como fui cega...”.

Ainda muda, esfregando as mãos umas sobre as outras como se estivesse incomodada com algo, Marina pensava: “Basta! Não é bom ficar me lamentando, o que fiz está feito, o que posso faze de melhor para me redimir é provar para Irvy que sou capaz, não vou retornar até a minha mestra como uma estupida que fui, até porque talvez eu esteja tendo a oportunidade que Irvy não teve... De me aventurar, se este é meu caminho na vida então irei cruza-lo”. – Os olhares da jovem se encheram de firmeza, e com eles um brilho diferente se apresentou repleto de expectativas.

Marina colocou os seus trajes, levantou-se da cama, retirou as olheiras, correu os dedos entre os cabelos lisos penteando-os com facilidade, e fez a sua higiene pessoal. Mais uma vez, ela caminhou até a janela que dava para a rua, observou que o sol acabará de despertar por completo, conseguia ouvir o som dos habitantes da vila e também de parte da natureza que circundava o lugar e sentia todo o clima das montanhas que pareciam muros naturais de uma fortaleza. A arcana respira fundo, sentindo o ar umedecido do lugar, algo que até então não havia experimentara antes. Ela tentou captar as força da mana presente no ambiente, para isso ela mentaliza o momento em que o feixe luminoso a tocou durante a tempestade em seu sonho, e algo lhe incorre sobre as ultimas palavras proferidas por Irvy: “Convicção e predisposição em seu caminho, o inimigo agirá sobre as suas fraquezas” - Marina se indaga, com o olhar perdido em uma das colossais montanhas: “Quem pior que eu mesma para agir sobre minhas fraquezas? Penso que talvez eu mesma seja minha própria inimiga...”


Delvin, o halfling ladino, ao contrário dos demais companheiros mercenários apresentou uma facilidade incomum de adaptação ao terreno de Zarak, mesmo nunca tendo estado em um local tão diferente e alto. E, embora ele também tivesse tido sonhos incomuns como os outros, somente algo lhe chamou a atenção nesses dias, e, justamente, neste último dia em que aqueles rodeios de delírios culminaram em tê-lo tirado o sono mais cedo, fazendo com que acordasse com uma leve dor de cabeça no local onde uma caixa lhe atingiu em sonho e um estranho dobrão de ouro que surgiu em seu bolso... Essa moeda, aparentemente comum, não era cunhada, não dispunha de nenhum brasão ou algo que a identificasse, só o fato, de que às vezes ele tinha a impressão de ver o rosto de Grover, o seu mestre, tal como no sonho.

Como o halfling não sofreu tanto como os demais nesses dias de febris delírios, ele pode aproveitar melhor as andanças pela vila de Baramphas, o que lhe foi oportuno, pois, Dionísio Thirdway pode iniciar com ele alguns exercícios relacionados a escalada e a sobrevivência nas montanhas, além de, apresentar-lhe um artesão que dispunha de uma oficina de couro, onde ele poderia trabalhar sossegadamente a confecção de um item que havia prometido para O Grandão (apelido concedido a Marduk), e, assim ele o fez, terminando no dia anterior tal trabalho.


No inicio da manhã deste dia, o grupo se encontrou novamente, após a passagem de dois longos dias em repouso. Eles estavam com muita fome, logo, dirigiram-se a cozinha para fazer uma refeição matinal, conforme indicado pelo dono do estabelecimento, que diante mão, também os informou que Dionísio não estava no local, mas que iria chama-lo, uma vez que, ele pediu que fizesse isso assim que os demais se levantassem.

O café da manhã foi servido reforçado para satisfação e o apetite dos mercenários, que ainda assim, alguns destes encontravam alguma dificuldade em relação ao ar das montanhas.

Dionísio surgiu pela porta da cozinha da hospedaria demonstrando satisfação em rever a todos - com uma cordial saudação e um sorriso estampado em seu rosto -, principalmente, acordados e dispostos, pois, o anão mencionou a preocupação tida quanto a saúde dos mesmos que sofreram de alguma forma com o chamado Mal das Montanhas. Tomando um lugar a mesa, ele mencionou que não poderia leva-los imediatamente até o local que almejavam, justamente por se tratar de um lugar mais alto e inóspito, e, que para isso, seria necessário um breve treinamento em relação a escalada e a sobrevivência nessas regiões.

Quando questionado em relação a Adrien, o anão foi direto em dizer que o meio elfo sofreu da mesma enfermidade experimentada pelo grupo, contudo, ele não teve o bom senso e a necessidade de tempo para se preparar em relação às adversidades externas do local. Ele demonstrava estar muito afoito em relação à missão de auxilio que pretendia cumprir, e, quanto a isso, como somente se tratava de um único individuo, o anão conseguiu leva-lo até próximo à entrada das ruinas sem muita dificuldade.

Em função do tempo que passou desde a chegada do grupo ao local, e, após ouvir essas palavras do Dionísio em relação ao membro da guilda, não tardou para que alguém trouxesse a mesa o incomodo vivido nos últimos dias em relação a uma mescla de sonhos, pesadelos e delírios.

Ilustração por Juliana Karina.
Worean Hosborn se mostrou
introspectivo em relação a conversa,
porém, com uma relativa atenção ao
que era tratado, uma vez que, aquilo
de certa forma havia ocorrido a todos,
e de longe parecia se tratar de uma
mera casualidade.
A mesa, Worean se resguardou em silencio, e escutando com atenção oque todos os demais falaram, sobretudo, Marina e Marduk. Ao ouvir que todos tiveram sonhos e ver a expressão de preocupação no olhar de cada um deles, ele pensou consigo: “Que diabos esta acontecendo aqui, todos tiveram sonhos estranhos. Será que realmente não foi um sonho e sim um aviso? Com que diabos aquele Elfo maluco esta envolvido? Quem será o inimigo que o velho marujo expressou em suas palavras?”.

Delvin demonstrou e mencionou que algo também havia lhe ocorrido nos últimos tempos, porém, não falou muito a respeito do que havia lhe ocorrido, preferindo se manter atento as palavras dos companheiros. Longe das vistas dos demais, ele corria entre os dedos de uma mão a estranha moeda de ouro, onde por mais uma vez, ele teve a breve visão do rosto de Grover em uma das faces, algo que a demonstração de estranheza em relação a visão se confundia aos relatos dos companheiros e que acabava passando desapercebidamente.

Marina estava curiosamente surpresa com os relatos de todos em relação ao que cada um deles havia sentido enquanto estiveram em repouso, exceto por Worean Hosborn. O espadachim se manteve distante sem qualquer contribuição para aquele dialogo, apenas como um cauteloso ouvinte, porém, a sensitiva arcana percebeu em seu semblante que algo também havia lhe ocorrido, e, que ele demonstrava relutância em compartilhar com os demais. Porém, antes que ela pudesse questionar algo de maneira direta a Hosborn, a voz de sua mestra lhe veio à mente com citações de verbetes mágicos que subitamente fez surgir uma pequena esfera de chamas, e, logo em seguida, a explosão desta sobre a mesa.

A magia súbita espantou a todos ao ponto de lançar alguns ao chão como meio de se protegerem contra o efeito. Sobre a mesa ficaram as evidencias da magia evocada por meio dos chamuscos.

Recuperados do susto e novamente sentados a mesa, a arcana estava imbuída de certeza de que a partir daquele efeito mágico, onde se evidenciou um aprendizado transmitido por meio de sonhos pela sua mestra, aquilo que o grupo havia experienciado poderia se tratar de algo muito além do que todos imaginavam. E, isso fez com que ela buscasse ainda mais informações, inclusive aquelas resguardadas por Worean.

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