Bem-Vindo Errante Viajante

Do Olimpo trago a almejada chama, da qual sugiro dançarmos embriagados a sua volta, e quando assim for, sujiro arriscar tocá-la, pois, felizes os que dela se queimarem.

domingo, 5 de maio de 2013

RPG: Aventuras em Yrth - Ladrões de Corcéis Encantados - Worean, O Vingativo - Parte 2


Perseverar no Caminho do Guerreiro.

Worean acordou dentro de uma barraca deitado sobre um colchonete. Estranhamente ele não trajava mais as suas roupas, mas uma calça em couro um pouco maior que as de costume presa a cintura por um cordão. E o seu corpo que antes estava encoberto de cinzas, agora estava completamente limpo, no entanto, as marcas de queimadura pela sua ação não puderam ser facilmente removidas, haviam bandagens em algumas partes de seu corpo encobrindo as feridas. Do lado de fora ele ouvia vozes e choros de lamentação. Quando o jovem saiu da barraca, ele pode observar contra o que as suas pequenas mão lutavam, e, sabia que aquilo era cruelmente inevitável.

Algumas pessoas tentaram se aproximar dele, mas Worean era inacessível, o seu pensamento estava distante de todos que estavam a sua volta, as palavras e os abraços de conforto somente o afastavam para mais longe. Mesmo sendo advertida por alguns soldados, a criança subiu sobre os escombros da casa em ruína que ainda expeliam fumaça por entre as frestas e se pôs a caminhar. Onde encontrava o menino segurança para pisar, seguia friamente. Ao longe, um homem assistia aquele episódio funesto e comovente mascando uma ponta de cravo, pois, ele sabia que seria um choque dizer para aquele garoto que teria que ir para um orfanato, pois, naquela mesma noite não somente a sua casa havia sido incendiada, como também a dos seus parentes mais próximos, não restando nenhum parentesco para lhe garantir a tutela naquela localidade. 

Ilustração por Joanna Raven Morgoth's
Jhon Rowsever, soldado do Império de Mégalos,
que após o assassínio dos pais de Worean
se viu obrigado moralmente de guardar
a vida do garoto como se fosse o seu filho.
Jhon Rowsever era o primeiro comandante daquela infantaria de soldados, designada pelo Império de Mégalos para averiguar uma denuncia de complô e insurreição. A previsão de chegada da tropa no condado de Myrgan estava prevista para o início da tarde desse mesmo dia, contudo, com a percepção dos focos de chamas de onde se encontrava o acampamento, ele como responsável, assim que foi notificado, solicitou que as tendas fossem rapidamente desmontadas e que a marcha prosseguisse até os locais denunciados pelas chamas. Porém, quando os soldados chegaram já não havia muito a ser feito, salvo o resgate de alguns corpos e moribundos, dentre eles o menino Worean.

Durante duas semanas, o Comandante Rowsever e sua tropa montaram cerco na cidade, buscaram todo o tipo de informação que pudessem levar aos assassínios e incendiários que semearam um terror desmedido sobre a população, no entanto, nada que conseguiam era conclusivo, os interrogados quando falavam algo, brevemente sentiam a necessidade de rever o que haviam dito sob a alegação de que estavam confusos e amedrontados. Jhon e seus companheiros observaram ainda em alguns corpos que puderam ser resgatados antes de serem consumados pelas chamas, que a maneira como foram golpeados demonstrava uma precisão atípica para assassinos convencionais, e, a arma utilizada também não era de fácil acesso. O fato é que o comandante do império sabia que algo de muito errado e suspeito acontecia em Myrgan, e, que o Visconde estava por de trás disso, pois, ele demonstrava uma segurança impávida e os tributos que recolhiam do povo estavam muito além das demais regiões, sobretudo, as que se encontram em condições similares. 

Antes de partir de Myrgan, Rowsever achou por bem levar consigo o garoto Worean Hosborn, pois, ele era até aquele momento a única testemunha que havia sobrevivido a chacina, o único que assistiu a execução dos pais, irmãos e servos de sua casa por um grupo de exímios assassinos mascarados.

Ao longo da viagem até a capital do império o garoto não disse nada e mau se alimentou. E essa situação persistiu por mais algum tempo, mesmo quando Worean percebeu que o comandante que o resgatou dos destroços de sua casa havia o levado para dentro de seu lar, para viver com a sua família. Nesse momento foi necessária uma dose de energia de Rowsever para reconecta-lo a vida.

“Worean, não adianta ficar desse jeito, rapaz! Esse autoflagelamento que tem vivido diariamente somente esta lhe fazendo mal. Dessa maneira não conseguirá fazer nada contra aqueles que realmente merecem ser punidos. Tenha um propósito legitimo, assim como um dia tiveram os seus pais quando o colocaram no mundo”.

No âmago de Worean algo retornou a vida com essas palavras do comandante. Lembrou-se imediatamente das palavras proferidas em sonho pelo seu avô na fatídica noite da tragédia. Somente com o tempo Rowsever conheceria o propósito legitimo associado pelo garoto, a vingança, e, em relação a isso trabalharia arduamente para compelir a sede que esse sentimento destrutivo é capaz de trazer.



A árdua lapidação de uma rocha feita em carne, osso e sentimentos.

Com o correr dos anos, Jhon Rowsever, um comandante de uma tropa imperial ascendeu junto a hierarquia militar do império, e a ele houveram honras de cavalaria ao se tornar Cavaleiro da Ordem do Dragão servindo a Quinta Legião Megalana. E, nesse ínterim  Rowsever instruiu Worean em uma série de conhecimentos que para um soldado seriam importantes, principalmente, para sobreviver em locais hostis e a esmos do império, contudo, o garoto tinha dificuldade em assimilar determinados ensinamentos que não fossem demasiadamente práticos ou não estivessem ligados diretamente ao seu propósito maior. Portanto, com o comandante aprendeu forçadamente o seu código de honra pessoal, somente para ter a certeza que o melhor lhe seria agraciado, ou seja, o aprendizado de sua incrível técnica de combate com as espadas.

Rowsever gostaria que o sentimento de vingança fosse aplacado do peito de Worean gradativamente até que não passasse de uma distante cicatriz, contudo, o tempo parecia fazer com que o garoto se tornasse mais obcecado por aquilo, e, isso acelerava a sua maturidade diante das demais crianças. No início, Worean costumava perguntar ao comandante como seguiam as investigações a respeito da captura dos assassínios de sua família, e, a princípio ele até comentava algo, contudo, o soldado imperial achou por bem não mencionar mais nada, pois, o interesse se demonstrou sombrio. Por algumas vezes ouviu de outros um comentário agourento a respeito da natureza de Worean, inclusive de sua esposa, no entanto, foi necessário ele surpreender seu inquilino dizer em tom baixo enquanto se exercitava com a espada:

 “Não tenho a paciência e a crença do povo de que a justiça divina será feita no tempo de Deus aos meus inimigos... Estou farto disso!”.

“O meu julgamento já está selado só preciso saber onde e quando encontra-los. Seria muito mais fácil tê-los todos juntos, encarcerados em um cubículo, tal como ratazanas em uma arapuca, para liquidá-los ao sabor do tempo a tanto aguardado”.


Ilustração por Henning Ludvigsen
Benne Bruquer, soldado do Império Megalano,
que durante cinco anos
foi tutor de Worean dentro de um Quartel.
Worean deveria ter por volta dos onze anos de idade quando foi levado por Rowsever para dentro de um reduto de combatentes das legiões do império. Ele praticamente viveu apartado da família que o acolheu por cinco anos, somente estando com os mesmos nos feriados santos. O seu imediato dentro daqueles quatro muros era Benne Bruquer, um grande amigo de Rowsever, que era o armeiro chefe da casa e um exímio combatente também, seja armado ou desarmado. No entanto, Bruquer era de longe alguém mais tolerante que Rowsever, muito pelo contrário, geralmente de mau humor, ranzinza, não havia com ele dias leves, os treinamentos eram pesados e as tarefas dentro do lugar eram intermináveis. Benne tinha uma memória infalível, conhecia cada um dos que passavam por ali pelo nome, sobrenome e alcunha. Nos raros festejos da casa, era de lei que Bruquer ficasse bêbado, e, consequentemente, ultrajasse alguém relatando histórias pessoais a despeito de um ou outro, que embora além da realidade dos fatos, as mesmas não eram jamais inventadas. Embora fizesse do tipo durão, a grande maioria apreciava a sua companhia e a seriedade como tratava as coisas. Antes de Worean deixar o quartel, seu tutor disse o fitando de maneira intimidadora nos olhos:

“Garoto, atenção! Não sei se o tempo que passou aqui dentro lhe fez bem ou mal, na verdade, já estou velho e estou chutando a coroa! Mas, espero sinceramente, que o dia que estiver frente a frente com os seus demônios você tenha peito suficiente para enfrentá-los como o homem que tentei formá-lo, caso contrário, nem ouse citar meu nome em suas lembranças para outros”.

Por fim, o próprio Bruquer quebrou o protocolo de um simples aperto de mão de despedida, e deu em Worean um rápido e espontâneo abraço, e acresceu:

“Não me decepciona, garoto!”


As manhas de uma vingança que renasceu das ruas.

De volta ao lar de Rowsever, Worean se mostrou uma nova pessoa, alguém mais intrépido, descontraído e atencioso. Com idade suficiente para trabalhar logo buscou afazeres nas ruas para driblar o ostracismo. Não queria compor a guarda local como orientação de seu senhor, porém, tinha interesse em trabalhar em uma guilda de mercenários. Jhon não viu problema na escolha do rapaz, sobretudo, na capital, onde o grão mestre era um conhecido de longa data e também já havia composto uma das Legiões do Império. No entanto, algo transpassou essa escolha.


Ilustração por Omu Upied
Kevim Cepris, o Arremessador de Facas
 do Circo Saramango, irmão de Sara,
 e Líder dos Arteiros Saltimbancos.
Nas suas incursões para reconhecimento da cidade após anos de distância, Worean conheceu os irmãos Cepris: Sara e Kevim. Ambos um pouco mais velhos que ele, e, que aparentavam ter um tipo de envolvimento mais estreito que a amizade, contudo, algo que o tempo demonstrou ser uma errada impressão a respeito dos dois, pois, ambos eram irmãos de rua que foram apadrinhados por uma família circense.

Worean conheceu Kevim Cepris, quando ele era o líder de um grupo de adolescentes rebeldes e delinquentes que cometiam alguns crimes menores na cidade, sobretudo, nas proximidades do circo onde ele residia, O Saramango. Geralmente, esses garotos se aproveitavam da distração dos populares e o tumulto da multidão para assaltarem suas vitimas. Kevim se referia ao seu bando de Arteiros Saltimbancos. Uma vez um ou outro um desses aprendizes de ladino era capturado por um adulto, mas o grupo como um todo se mobilizava e se esforçava para que imediatamente fosse resgatado o azarado, muito antes de ser lançado em uma jaula. E, isso talvez, fosse o que mais admirava Worean, pois, enquanto esteve dentro do quartel havia uma pratica dentro das legiões de não abandonar o companheiro, mas que fora dos muros, muitas das vezes não conseguia percebe-la em pratica, sobretudo, em alguns relatos de Rowsever.

Kevim costumava entreter os populares com o seu impressionante talento de arremessar facas e adagas, algo que aprendeu e aperfeiçoou com o seu falecido pai circense. Geralmente ele costumava dispor a sua assistente de palco e irmã - Sara Cepris -, como alvo em meio a uma mesa circular giratória, isso em um último e grandioso ato, após muito exibicionismo de pontaria e equilíbrio com as armas. A população vibrava com o espetáculo mortal enquanto os arteiros saltimbancos os assaltavam. Worean ficava perplexo com aquilo, ficava instigado a aprender a fazer aquilo.


Ilustração por Omu Upied
Sara Cepris, acrobata do Circo Saramango,
irmã de Kevim e romance juvenil de Worean.
O talento da jovem Sara Cepris, Worean somente pode conhecer quando adentou a grande tenda do Saramango, pois, ela era uma perfeita acrobata. Suspensa em cordas demonstrando completo equilíbrio ou a saltitar de maneira harmônica sobre um tablado de picadeiro, a bela conseguia propiciar um espetáculo tão prodigioso quanto ao de seu irmão com as facas. Worean olhava a precisão dos movimentos de Sara como um dia observou o bruto Bruquer bêbado a se esquivar perfeitamente de inúmeros braços a quererem acertá-lo por sua injuriosa língua das verdades.

Worean sabia que teria problemas com Rowsever se entrasse na gangue dos Arteiros Saltimbancos, contudo, tinha que se aproximar de Kevim e Sara. Portanto, declarou que ingressaria nas atividades do circo. A princípio Jhon estranhou aquela atitude, já que estava tudo tão bem encaminhado para o ingresso do jovem na Guilda de Mercenários de Mégalos, no entanto, ao ver a acrobata equilibrista, o tutor compreendeu o desejo orientado pelas paixões da fase, desta forma preferiu não discutir mais nada crendo ele que aquilo seria somente algo passageiro, mas necessário.

A princípio Worean foi hostilizado por Kevim e a sua trupe de delinquentes, pois, ambos sabiam do seu tutor e os riscos que isso implicava a atividade do bando. Contudo, embora o artista fosse um excelente arremessador de facas, nada se comparava a uma mente treinada e mais esperta, e, aí se valeram as muitas experiências narradas por Rowsever e Bruquer, que nunca precisaram ser tão fortes que o seu oponente, ou seja, aplicou a Kevim a seguinte lição: para se finalizar um gigante, basta apenas ser mais esperto para fazê-lo rir das próprias bobagens, tropeçar nas próprias pernas e ir ao chão com a garganta sobre a lâmina da própria arma.

Passada algumas semanas, Worean conseguiu ganhar a confiança de Kevim. E, aquilo foi em si o espetáculo que ele conseguiu propiciar a Sara e aos demais que o desacreditavam ser capaz.

Kevim e Worean se tornaram grande amigos, contudo, o primeiro nunca conseguiu fazer com que o segundo assumisse uma posição dentro do bando de delinquentes juvenis. Worean, até participava das seleções de novos integrantes, mas não queria se envolver com o grosso das atividades, pois, sabia que aquilo poderia trazer um desgosto profundo a Rowsever, caso ele fosse por descuido surpreendido por alguém que o conhecesse.

Sara percebeu um algo a mais em Worean quando ele conseguiu driblar o gênio difícil do irmão, e, conquistar a aceitação dos demais. Sara não somente o instrui em algumas técnicas de acrobacia de bom grado, como também permitiu a ele adentrar em seu coração, e, ensiná-lo o prazer a dois. Por um bom tempo os dois foram mais que mestre e aluno, foram enamorados. Tal relação não era muito bem quista por Kevim, devido ao ciúme que tinha pela irmã, mas ele tolerava e não permitia piadas entre os seus.

Com o circo Saramango, Worean viajou e conheceu dentre a capital de Mégalos, as cidades de Dekamera, Mehan, Hildelban, Kethalos e Azer, grandes centros que circundavam a capital do império.

Em Azer, Worean viveu a emoção ímpar de ouvir algumas lendas a respeito de seu avô, e de como o velho lobo-do-mar havia se apaixonado por uma linda sereia, e, que por ela, buscou um perigoso encantamento para fazê-la eternamente mulher, a fim de constituir com a sua amada uma família feliz, longe de tudo que um dia os dois representaram para o mar. Lá também ele conheceu o amargo de uma bebida alcoólica denominada Jacobeer, cujo muitos homens que ali estavam, reclamavam em tom alto, “a quem você quer enganar, taberneiro, isso que você serve aos outros é a sua urina velha misturado com vinho de Caityhness”. Essa foi a última viagem de Worean com o circo Saramango, pois, aquela experiência foi a gota d’água para que ele retornasse a Mégalos e fizesse um voto de vingança no altar da catedral.

Embora Sara amasse demasiadamente Worean, ela conheceu na profundeza dos olhos de seu amante que o sentimento de vingança contra os assassínios de sua família era algo do qual ela jamais poderia atravessar. Portanto, permitiu a ele passagem para que fizesse o que deveria ser feito, e, quem sabe algum dia retornar para os seus braços.

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