Bem-Vindo Errante Viajante

Do Olimpo trago a almejada chama, da qual sugiro dançarmos embriagados a sua volta, e quando assim for, sujiro arriscar tocá-la, pois, felizes os que dela se queimarem.

terça-feira, 7 de maio de 2013

RPG: Aventuras em Yrth - Ladrões de Corcéis Encantados - Worean, O Vingativo - Parte 3


Eis que atravessarei um mar de sangue se preciso for para ter a minha vingança.

Com os seus já vinte anos de idade, Worean pela primeira vez em anos, inquiriu o velho Jhon Rowsever a respeito do que havia acontecido aos assassinos de sua família, eis que ouviu dele:

“Worean, ainda que nunca tenhamos chegado aos assassinos de sua família, isto é, levados a julgamento, não tenho dúvidas que até onde acompanhei, o crime foi motivado por alguém que era opositor aos interesses de seus pais e tios, sejam lá quais fossem esses interesses. Porém, esse alguém não era um qualquer de nossa sociedade, era um tipo abastado o suficiente para contratar assassinas vindos de outro extremo de nosso continente, do Reino de Sahud”.

Rowsever já não podia deter o espírito vingativo de Worean, pois, o rapaz ansiava feito um lobo faminto o sangue dos algozes de sua família. E, o velho comandante sabia que muito do que havia se perdido lá trás foi justamente pelo seu afastamento da frente das investigações, provavelmente, propiciada pela articulação de algum nobre que estivesse envolvido até o pescoço nesse crime.

Antes que Worean partisse em sua caçada para Myrgan, Rowsever o levou até um saguão especial de sua casa, onde mantinha devidamente organizadas e lustrosas, armas e armaduras que fizeram parte de sua história enquanto combatente, para entregar em mãos, duas espadas.

“Worean, um dia Eu entrei em seu caminho e o impedi que morresse em meio as cinzas de seus pais, comovido pela tragédia que havia se sucedido em sua vida, gostaria de poder ter sido a mão de Deus capaz de amparar positivamente a trajetória de sua vida.... Hoje não serei Eu a impedi-lo de seguir o caminho de justiça que almeja em memória de seus familiares, contudo, espero que compreenda que você vive sobre a lei dos homens, queira você sim ou não, portanto, o que fizer, faça consciente que responderá por tal ato. Prometa a mim, que nunca ceifará a vida de um inocente com essas armas, filho?”.

Worean tentou compreender as palavras de Rowsever, e, fez a ele a promessa de que não usaria as espadas para tirar a vida de nenhum inocente. Os dois se abraçaram pela última vez, com lágrimas nos olhos, e cada qual seguiu o seu caminho.


Sangue vai correr sangue até que no horizonte se resplandeça a glória.

De volta ao condado de Myrgan, Worean encontrou um lugar que já não lhe era familiar, muito havia mudado em tantos anos afastado, salvo algumas famílias que se remanesciam no poder da sociedade local. A quantidade de homens e mulheres oriundas de Sahud também era incompreensível, algo em torno de dois cidadãos megalanos para um sahudense.

Worean buscou se aproximar da antiga fazenda de sua família e da fazenda de seus tios Mancinnos, e sem se identificar, ficou sabendo que ambas as propriedades pertenciam a outros que adquiriram meses depois do crime. Não havia mais frondosas parreiras de uvas, morangos e amoras, mas um vasto pasto de criação de merinos negros, ovelhas, cabras e bodes. E, o senhor daquelas terras era um mercador de Sahud. As pessoas da região sabiam também muito pouco a seu respeito, que rumo havia tomado. Muitas delas acreditavam que havia se tornado escudeiro de Rowsever, assim que o mesmo ascendeu ao posto de Cavaleiro Dragão do Império. Chegou inclusive ouvir de que havia morrido ainda muito cedo vitimado por uma depressão profunda... De certa forma, as informações contraditórias que encontrou em maio aos populares o favoreceram, ou seja, ele estaria longe demais para ser o responsável pelos assassinatos quando o sangue começasse a correr ladeira abaixo.

Ilustração por Yngvar
Walsham, Grão Mestre
 da Guilda de Mercadores de Myrgan
no tempo do assassínio dos Mancinnos.
Ele passou pelo menos seis anos sob o disfarce de Woffgan Cortez de Mehan, trabalhando em hospedarias e tabernas, recolhendo todo o tipo de informação que pudesse coloca-lo na trilha de seus inimigos. E não tardou para que as informações consistentes chegassem a ele, sobretudo, quando as bocas têm sede e os bolsos são gananciosos, pois, geralmente, essas não são prudentes em relação a fonte que lhes entope. Desta forma, os nomes foram surgindo como em um abrir de cortinas, e, para sombrio espanto dele, a sua família foi assassinada de maneira indireta, pois, o alvo era o tio Otto Mancinno que havia dado força a rebelião da guilda mercantil, na época liderada por Walsham, o grão mestre. Embora houvesse mais famílias nobres ligadas a insurreição dos mercadores, o Visconde Rufos Hostilius, não quis ceifar todas para não gerar uma balbúrdia em seu governo, portanto, buscou entre as famílias aquelas com as quais tinha mais desafeições (menos afinidade, por assim dizer), e, dentre elas estavam, os Mancinnos.

Worean levantou o nome de todos aqueles que estavam vinculados ao antigo visconde, e, em semanas partiu para sua caminhada sangrenta por entre becos, vielas e campos arados do condado. Sabia que tinha que ser rápido naquela vingança, pois, não tardaria para que os antigos aliados de Rufos Hostilius se erguessem das sombras para persuadi-lo a parar. Contudo, ele procurou fazer de maneira cautelosa e sensata, buscando não levantar suspeitas.

A família Hostilius, assim como os seus asseclas, já não tinha o prestígio de outrora, portanto, não houve tamanha dificuldade em se aproximar dela. No entanto, ao assassinar alguns de seus membros ele trouxe para a cidade a atenção do império, o que para seus inimigos (e antigos aliados da família dizimada) foi um terrível golpe. Worean ao perceber o clima hostil que a cidade tomava, sobretudo, com o burburinho entre os populares de que se aproximava a chegada de uma legião megalana para averiguação dos fatos, ele tratou logo de abandonar a cidade.

Ilustração por Sakimichan
Worean, O Mercenário,
cujo propósito maior é vingar a morte
de seus pais e de seu tutor, Rosever.
Worean não queria voltar para Mégalos, não enquanto o assassínio de membros da família do antigo visconde de Myrgan e outros estivessem em foco, pois, sabia que Rowsever detectaria no ato que ele estaria envolvido naquilo, e, isso poderia gerar um problema ainda maior para todos. Sendo assim, ele resolveu seguir a vida como um mercenário sem rumo, tendo praticamente um nome diferente para cada localidade que chegasse.

Após o massacre de Myrgan, Worean passou ainda mais de três anos peregrinando pelo império, sem ter notícias de Rowsever, porém, foi na cidade de Mehan - a noroeste da capital de Mégalos -, que recebeu a triste notícia de que seu antigo tutor havia falecido. E, não somente, morto, mas incinerado dentro de seu casarão! Anos longe da capital, ele retornou durante a noite para ver as cinzas do antigo casarão em que viveu anos de sua história. Mais uma vez, ele se pôs a caminhar sobre os destroços de algo bom de sua vida, tendo ainda fumaça a subir por entre as frestas - mesmo passado dias do incidente -, e, discretas lágrimas a correrem a sua face.

Antes do raiar do dia, Worean já estava dentro da Catedral para ali, por mais uma vez, refazer em segredo com Deus os seus votos de vingança para com todos aqueles que tramaram contra a vida de sua família, e, agora também, pela vida de Rowsever.

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