Bem-Vindo Errante Viajante

Do Olimpo trago a almejada chama, da qual sugiro dançarmos embriagados a sua volta, e quando assim for, sujiro arriscar tocá-la, pois, felizes os que dela se queimarem.

sábado, 7 de janeiro de 2012

RPG: Aventuras em Yrth - Bodas de Arcádia - Laços Amaldiçoados

Certa vez, após uma fatídica aventura, enquanto descansavam, se embriagavam, jogavam conversa fora e dançavam ao som de boa música na Taberna de Touro Sentado - na cidade portuária de Hyman no reino de Mégalos -, os aventureiros foram importunados por um velho e aleijado que dizia ter sido em época remota um grande aventureiro, e que seu nome era Otillis, O Certeiro. Este homem que bebeu e também se divertiu com eles, lhes relatou sobre um ninho de harpias que ficava a alguns dias de viagem de onde estavam, e, que o local era propenso a ter alguns valiosos tesouros, pois, as criaturas costumavam além de se alimentar de suas vitimas reter seus pertences, mesmo que para elas pouco importasse se tivesse valor ou não, pois eram todas estúpidas o suficiente para discernir entre uma peça de cobre e uma de ouro.

Apesar dos detalhes e a empolgação de Otillis, o grupo não deu tanto crédito a sua história, pois, o caso é que estavam ali naquela noite para comemorar mais uma grande vitória, e também as suas valorosas recompensas. O velho aleijado deixou a taberna tão subitamente como entrou, para ligeira desconfiança de Feller, O Ciclope.


Ilustração 01: Pietro Montilla, O corsário em busca de fortuna, mulheres, aventuras e farras.

Dias depois quando o grupo viajava rumo à parte ocidental do reino de Mégalos, Pietro Montilla se lembrou da história do velho na taberna, e, tão logo, quando começou a falar sobre a mesma todos os demais se recobraram com exatidão das palavras daquele homem. Como o tal lugar ficava nas proximidades do caminho que deveriam percorrer, a maioria concordou em averiguar, exceto o Ciclope, que somente com muita insistência dos companheiros, resolveu segui-los nessa empreitada.

Tiveram de deixar suas montarias em meio a um bosque, pois, era impossível chegar com os mesmos até o paredão de rochas, onde estaria o possível ninho das criaturas. Feller, o ciclope, com a sua habilidade inata de amansar e domesticar animais tratou de fazer com que eles ficassem quietos e escondidos em meio as árvores e arbustos da mata. Evitando assim que estes chamassem a atenção, ou criassem algum tipo de dificuldade desnecessária.

Todos ficaram pasmos quando furtivos observaram o lugar: Tratava-se de uma fenda em meio a um paredão gigantesco com pelo menos oito metros de altura, e ao longo de sua extensão, uma largura oscilante entre pouco menos de hum metro em suas extremidades, e ao centro, chegando a algo em torno de três metros. Para chegar ao local somente escalando ou voando, e cair, seria uma opção fatal, pois, o rochedo tinha pelos menos uns cem metros de altura, com possíveis rochas ao fundo a notar pelo movimento das ondas que se chocavam. Conseguiram avistar pelo menos oito das criaturas pousadas sobre as rochas ou sobrevoando o local.


Ilustração 02: Colliman Solon, O guerreiro negro oriundo das montanhas de Cardiel.

Tiveram de imaginar uma forma de chegarem ao lugar sem chamarem a atenção das criaturas, que muito além de feias e pavorosas, pareciam ser também hábeis caçadoras. Esperaram pela noite, contudo, eles verificaram que as mesmas não eram tão estúpidas assim como o velho havia citado em sua história, pois, mantinham um grupo em prontidão a zelar pelo covil em diversas partes do paredão. A não ser que algo muito valioso estivesse sendo guardado, assim cogitou Colliman Solon, O Guerreiro.

Logo pela manhã, o grupo partiu em busca de alguma outra passagem nos arredores do covil. Essa busca resultou em um encontro com uma harpia, provavelmente do mesmo ninho e que deveria estar caçando naquele momento. Ela não teve nem a oportunidade de se defender e ver aquele que a certou fatalmente na cabeça, Pietro Montilla. Apesar do arremesso do punhal ter sido feito com uma precisão sem igual, Feller ainda lançou a garganta da criatura uma de suas flechas, evitando que a mesma emitisse algum som que pudesse denunciá-los.

Na mesma noite daquele dia, enquanto os aventureiros observavam de longe o covil das harpias, eles perceberam que o fato da criatura abatida durante a manhã por Pietro não ter retornado ao ninho gerou um tumulto entre as demais. Elas ficaram muito agitadas e inquietas, lançando urros estridentes e calamitosos.


Ilustração 03: Tirza Aragata, A amazona renegada do principado de Laquani.

Pela manhã eles perceberam que as harpias se dividiram em dois grupos de três e partiram em direções opostas. Acreditavam que as mesmas haviam saído em busca daquela que havia desaparecido, e cujo Montilla e Solon tinham arremessado desfiladeiro abaixo em direção à mata. O importante é que estavam crédulos de que o destino tinha lhes brindado com uma ótima oportunidade para invadir o covil, uma vez que a grande maioria das criaturas estariam fora. Feller tinha suas desconfianças, e Aragata só havia acordado aquela manhã com um péssimo pressentimento.

Montilla e Feller foram à frente. Descendo o paredão rumo à fenda, enquanto os outros observavam se estava realmente seguro, para tão logo se juntarem a eles. E, assim que o fizeram, não tardou em aparecer uma sentinela. Essa criatura era ainda mais horrenda e medonha que a assassinada no dia anterior, lutou ferozmente, inclusive ferindo a Aragata no braço esquerdo com uma garrada, mas antes que pudesse emitir algum som, que era em si o maior dos temores do ciclope, pois, havia um rumor quanto a um poderoso feitiço que reside no canto desta fera, ela foi morta, e seu corpo lançado ao mar.

O lugar era fétido e imundo. Tamanho era o mau cheiro que poderia intoxicar ou matar um homem comum sufocado, sem exageros. A única iluminação que havia era proveniente da luz do sol que passava por frestas nas paredes e teto, e que por sua vez reluziam sobre alguns pedriscos brilhosos também presos ao longo destes.

Montilla, Solon e Aragata adentraram o lugar para vasculharem, enquanto que Feller, com o seu único olho, preferiu ficar de prontidão caso percebesse o retorno do bando ao covil, e assim alertar aos companheiros.

À medida que entravam nas entranhas da caverna, o odor tornava-se ainda mais insuportável, e pouquíssima coisa de valor o grupo conseguia pegar, algo como uma peça de ouro ou prata, em meio a fezes, centenas de ossadas e trapos, além de armas enferrujadas. Aragata não suportou aquilo, e retornou, sentia seu corpo esquentar, sobretudo, onde a garra da criatura havia lhe atingido estava inchando rapidamente. Solon e Montila conseguiram achar uma bolsa de couro reforçado, que com muita dificuldade, a abriram, e acharam em seu interior muitas peças de ouro, prata e joias. De alguma forma aquele odor de mortalha e o tesouro trabalharam a mente deles de forma malévola, pois, eles começaram a discutir o direito sobre o tesouro encontrado, e isso os colocou em combate em meio aquela escuridão, podridão, e carniças em putrefação.

Feller foi tentar alertar aos companheiros de que as harpias deviam estar próximas, e, principalmente, estava preocupado com o estado de saúde de Aragata. Todavia, antes de chegar ao local de onde provinham sons de combate cruzou com Montilla, seu rosto estava totalmente transtornado, com medo e em fuga, não houve nem tempo para detê-lo, e pergunta-lo sobre Solon ou o que havia acontecido... Agora de fato aquele lugar estava a assustar o ciclope. Ele chamou por Solon, mas em vão, sem resposta. Imaginou que os dois companheiros deveriam ter encontrado algo muito terrível nas profundezas daquele covil, e, que não valeria apena correr o risco de averiguar.

Feller percebeu que Aragata não conseguiria sozinha escalar o paredão, e a amarrou junto ao seu corpo.

Quando estavam prestes a sair daquele lugar, o ciclope percebeu uma espécie de humanoide com o corpo recoberto de dejetos, ossos e andar vacilante a se dirigir na direção deles, e querer se lançar sobre eles. Nesse momento, Feller forçou o corpo todo para um lado se esquivando da criatura, que se lançou pateticamente no precipício em direção ao mar em uma queda aparentemente mortal.


Ilustração 04: Urs Uller "Feller", o pequeno ciclope oriundo das montanhas de Zarak, e a peregrinar.

O ciclope conseguiu sair daquele lugar com a sua companheira, e em segurança.

Feller tentou tratar a ferida de Aragata, mas de nada adiantou, pois, cada dia que se passava a febre piorava, vinham os delírios, as incessantes compulsões, e o odor de seu corpo que se assemelhava ao do covil das harpias. Ele temia pelo pior, porém, foi o que dias mais tarde acontecera, a sua jovem, cortês e bem humorada amiga se tornará uma daquelas terríveis criaturas.

Aragata não atacou a Feller, o ciclope, no entanto, também não seguiu com ele. Ela estendeu suas enormes asas e voou para bem longe, amedrontada, faminta, com vergonha de si, e, talvez, para um premeditado fim.

Feller nunca mais teve notícias de Montilla desde este trágico incidente, mas sabe que daquele lugar partiu sem ao menos se lembrar de que tinha uma montaria, e que nela havia seus pertences e alguns tesouros de aventuras vividas junto a eles. Nunca conseguiu entender a cabeça do corsário, e se aquilo seria algum gesto de desculpas por algo que até hoje não ficou claro. De Solon também nada soube mais nada, mas gostaria de ao menos ter a certeza que o companheiro havia morrido naquele maldito covil, ou não. Também nunca mais retornou a ver Aragata, porém, algo é certo, isso não o impediu de tentar buscar um antidoto para algum dia trazê-la de volta ao seu real estado.

Quando aquele lugar nunca houve um tesouro a ser achado, senão amizades a serem despedaçadas, e vidas a serem perdidas.

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